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Museu Goeldi recebe o 6º Diálogo Nacional W20 Brasil
Agência Museu Goeldi - O auditório Paulo Cavalcante, do Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, foi palco do 6º Diálogo Nacional Women 20 Brasil, edição Norte. O evento, voltado à escuta das lideranças e representantes da região Norte do país, foi realizado na última terça-feira (18), no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, em Belém.
O W20 é um dos grupos oficiais de engajamento do G20 que tem o objetivo de promover a equidade de gênero e o empoderamento econômico de meninas e mulheres e recomendar políticas e compromissos às lideranças dos países do G20.
Em 2024, o Brasil é o país que preside o grupo de engajamento W20. Neste sentido, as edições locais de Diálogo Nacional são momentos de escuta e de trocas com representantes de coletivos e organizações de cada região para a construção de uma carta de recomendações que será entregue às lideranças do G20 no intuito de transformar essas recomendações em políticas públicas. Os temas prioritários dos diálogos são: empreendedorismo, combate à violência contra as mulheres, economia do cuidado, justiça climática e mulheres em STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
Janaína Gama, Co-head da W20 Brasil, ressaltou a importância das discussões interseccionais e o legado que o W20 vai deixar este ano. “A gente entende que falar da questão étnica-racial dentro dessa perspectiva de gênero faz todo sentido para a realidade brasileira, não tem como desassociar e a gente também vai deixar um legado não apenas para discussões internas, mas também para os próximos países. Outro legado que a gente acha importante é essa atenção para a Economia do Cuidado, que é essa dupla ou tripla jornada e ausência de serviços que possibilitam com que elas não possam deixar suas crianças e adolescentes para poder trabalhar”.
Em Belém, a programação contou com representantes do Museu Emílio Goeldi, do Governo do Estado do Pará, da Universidade Federal do Pará, Geledés Instituto da Mulher Negra, Centro Brasileiro de Justiça Climática e de coletivos e organizações locais engajados nas temáticas da Justiça Climática e de gênero e raça, como a Negritar Filmes e Produções, Rede Jandyras e COP das Baixadas. O encontro também teve representantes de empresas patrocinadoras, como AMBEV e ENGIE Brasil.
Falas diversas - Sue Anne Costa, Coordenadora de Comunicação e Extensão do Museu Paraense Emílio Goeldi destacou a importância da instituição com relação aos temas da justiça climática e de gênero. “Quando nós falamos de justiça climática a gente precisa lembrar que essa justiça precisa ser para além dos humanos. O Museu Goeldi é uma instituição empenhada em construir possibilidades para que a gente consiga encontrar esse lugar comum de sobrevivência de todas as espécies. É importante considerar também o papel das mulheres nessa instituição. Posso falar tranquilamente que hoje boa parte dos cargos de gestão estão ocupados por mulheres”.
Em sua exposição, Joyce Cursino, da Negritar Filmes e Produções, destacou os desafios e os caminhos que precisam ser percorridos para garantir que as mulheres jovens, principalmente negras, ocupem mais espaços na sociedade. A painelista enfatizou, ainda, a importância da arte como uma ferramenta para amplificar as histórias das mulheres de sua comunidade e da construção de iniciativas populares como a COP das Baixadas.
"A COP das Baixadas é um movimento que visa criar possibilidades e trazer à tona as vozes das mulheres que já estão criando soluções há muito tempo", afirmou Joyce. Para ela, essas soluções, nascidas da necessidade de sobrevivência, são fundamentais para a construção de um futuro justo e sustentável.
Os painelistas também discutiram o racismo ambiental. Thaynara Fernandes, analista programática do Centro Brasileiro de Justiça Climática, enfatizou a necessidade de pesquisas que considerem as realidades específicas das comunidades negras e periféricas para desenvolver políticas mais justas e inclusivas. E pontuou como as violações ambientais afetam desproporcionalmente estes indivíduos.
A analista destacou a importância da educação e da pesquisa climática para entender melhor as diversas realidades dos territórios afetados. "Estamos conduzindo pesquisas com pessoas negras para entender como o racismo ambiental se manifesta nas diferentes regiões do país", explicou. Ela ressaltou que soluções genéricas normalmente não são eficazes e que é crucial a escuta ativa destas comunidades para a criação de políticas que sejam de fato eficientes.
Na programação também teve espaço de discussões sobre como grandes empresas podem contribuir para um futuro mais sustentável, fomentar a inclusão e a diversidade, além da necessidade de promover a igualdade racial em posições de liderança. Foram destacados exemplos de sustentabilidade e economia circular, como a utilização de plásticos totalmente reciclados nas embalagens de alguns produtos e a prática de reutilização de garrafas retornáveis.
Pesquisadora do Programa de Estudos Costeiros do Museu Goeldi com estudos no campo da Museologia Social, Lúcia Santana ressaltou a importância do W20 incluir a perspectiva das comunidades tradicionais. Para ela, é necessário envolver essas comunidades, como pescadores, marisqueiros, quilombolas e indígenas, nas discussões sobre sustentabilidade e mudanças climáticas, pois são as mais afetadas pelas alterações ambientais.
Iniciativa de Bioeconomia G20 - Além de sediar e contribuir nos debates do W20, o Museu Goeldi também contribuiu com a Iniciativa de Bioeconomia do G20, cuja reunião ocorreu em Belém na mesma semana. Nesta iniciativa, a ecóloga Ima Vieira, pesquisadora sênior do Museu Goeldi e assessora da Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, abordou o tema da Bioeconomia e Restauração Florestal. Ima pontuou os desafios para potencializar a regeneração natural como abordagem prioritária de restauração de áreas e florestas degradadas e o reconhecimento do saber tradicional das comunidades amazônicas nas iniciativas de restauração biocultural.
Ao analisar a eficácia de diferentes estratégias para restauração florestal, considerando a recuperação da biodiversidade e de serviços ecossistêmicos, a pesquisadora ressalta que poucos chegam a resultados concretos. A eficiência é obtida, ressaltou Ima Vieira, com alternativas sustentadas em conhecimentos consolidados, devidamente demonstrados e que apresentem ganhos socioambientais efetivos para a Amazônia.
Ima indicou que uma das prioridades para recuperar territórios coletivos e áreas protegidas na Amazônia é a abordagem de Restauração Florestal Biocultural, que une saberes tradicionais e conhecimento científico para a recuperação de florestas. É uma visão que integra valores socioculturais para revitalizar ecossistemas enquanto apoia simultaneamente as culturas e seus modos de vida responsáveis por eles.
Texto: Marcelo Dias e Denise Salomão
Edição: Joice Santos