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Museu Goeldi e INPP integram força-tarefa para estimar perda da biodiversidade no Pantanal
Agência Museu Goeldi - O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e o Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP) integram a força-tarefa que se dedica a contar o número de animais mortos em decorrência dos incêndios no Pantanal. Fazem parte da iniciativa cerca de 30 voluntários, técnicos e pesquisadores de órgãos públicos de meio ambiente, universidades, centros de pesquisa e organizações não-governamentais.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o ano de 2020 já é o pior da história do Pantanal em número de queimadas, que já consumiram uma área de cerca de três milhões de hectares, o equivalente a 20% do bioma.
Com essa metodologia de inventário dos animais mortos, a iniciativa busca estimar o impacto dos incêndios, registrando e sistematizando as perdas para depois informar a sociedade sobre os efeitos catastróficos das queimadas em relação à biodiversidade regional.
A ideia é subsidiar políticas públicas e sensibilizar a população em geral, assim como as autoridades, proprietários de terras e gestores de áreas protegidas sobre a necessidade de se adotar práticas de manejo que atenuem os altos riscos decorrentes da combinação entre eventos climáticos extremos, como as secas, e comportamentos de risco ambiental, a exemplo das queimadas intencionais.
“O que nós estamos vendo é muita destruição. São quilômetros e quilômetros de florestas queimadas, muito bicho queimado”, relata o biólogo Thiago Semedo, pesquisador do Programa de Capacitação Institucional do MPEG, vinculado ao INPP. O INPP está provisoriamente sediado no campus avançado do MPEG no Mato Grosso e deve se tornar uma unidade de pesquisa autônoma, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
“E o Pantanal está passando por um momento de seca extrema. O Pantanal é uma savana inundável, então ela passa por período de seca e cheia. As espécies estão acostumadas a passar por esses períodos, elas são resilientes em relação a isso. Mas o que está acontecendo é um momento de catástrofe”, afirma o pesquisador.
Segundo Thiago, além da perda direta dos animais, os incêndios reduzem ainda mais a oferta de alimentos, já considerada escassa em períodos de seca.“Então o que acontece: o fogo está acabando com tudo, está queimando as plantas, as frutas, as sementes. Esses animais que dependem disso estão sendo afetados diretamente. É uma situação extremamente grave para o Pantanal”, explica.
A situação será agravada com o início do período das chuvas, quando as cinzas devem ser drenadas para os rios. “Isso deve acarretar outros problemas, que podem também levar à morte dos peixes e invertebrados aquáticos. É possível perceber que é um cenário de catástrofe”.
Trabalho em campo - As coletas de dados dos animais mortos estão sendo realizadas pela força-tarefa diretamente nas áreas queimadas. Para se deslocarem até elas, os pesquisadores contam com mapas fornecidos por técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) com os focos de incêndios nas últimas 24, 48 e 72 horas.
As amostragens são feitas com base em metodologia (distance) usada para estimar a densidade de fauna viva, agora adaptada para quantificar os animais mortos.
“Nós nos guiamos por um transecto, uma linha reta traçada na região que foi queimada. Geralmente, esse transecto tem o mínimo de 800 metros e vai até cinco quilômetros. Seguindo esse transecto em linha reta, nós observamos tanto do lado direito quanto do esquerdo as carcaças que foram queimadas. É quando nós utilizamos um aplicativo, no qual nós tiramos as fotos, que contém data, hora, coordenada geográfica e altitude”, conta Thiago.
De acordo com o pesquisador, as coletas devem ser realizadas enquanto os incêndios continuarem. Os dados que serão reunidos nas expedições em campo que devem abranger tanto as áreas do Pantanal no estado do Mato Grosso quanto no Mato Grosso do Sul, ajudando a calcular o que foi perdido de fauna durante os incêndios. Entre outras informações, eles devem incluir o inventário das espécies existentes nos locais, indicando quais e quantas morreram, assim como a sua densidade.
A força-tarefa também conta com representantes do projeto Bichos do Pantanal, da organização não-governamental Panthera, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, do Ibama, das Universidades Federais de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, do Instituto Homem Pantaneiro e da unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Pantanal.
Pantanal - Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, sendo influenciado por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai. É considerado o bioma de menor extensão territorial no Brasil, com uma área aproximada de 210 mil quilometros quadrados.
O Pantanal sofre a influência direta da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica, além do bioma Chaco (nome dado ao Pantanal localizado no norte do Paraguai e leste da Bolívia).
O ecossistema mantém boa parte da sua cobertura vegetal nativa, responsável pela permanência de espécies que, em outros biomas, já se mostram em extinção. São cerca de 3,5 mil espécies de plantas, 124 espécies de mamíferos, 463 espécies de aves e 325 espécies de peixes.
O bioma se destaca pela forte presença de comunidades tradicionais, como os povos indígenas e quilombolas. Com apenas 4,4% de seu território protegido legalmente com unidades de conservação, o Pantanal também tem sofrido com as ações antrópicas, sobretudo com a as atividades agropecuárias. Além da inadequada ocupação irregular do solo, o extrativismo, a caça e a pesca predatória são encorajados pelo contrabando de peles e espécies raras.