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Museu Goeldi apresenta na Bienal do Livro novidades sobre a arqueologia amazônica
Agência Museu Goeldi – Longe de ser o “vazio” divulgado pela propaganda dos anos 60, a região amazônica carrega uma longa e diversificada história de presença humana. E a leitura desse passado é possível agregando diferentes elementos sobre a vida, o ambiente e o uso dos recursos naturais em diferentes localidades da Amazônia. Investigando essas histórias há 150 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) apresenta na próxima Bienal do Livro em São Paulo duas novidades editoriais que já nasceram clássicas – “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia – rumo a uma nova síntese” e “Amazônia Antropogênica”. As duas obras serão lançadas no próximo dia 3 de setembro, das 17h às 18h, no estande da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) na 24ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo.
Cerâmicas Arqueológicas - Os soltados de terracota da China. As ânforas da Grécia antiga. As urnas funerárias da ilha de Marajó. Objetos distintos que guardam em comum uma origem: foi a partir da argila que, diferentes pessoas, em diferentes épocas e localidades, lhes sopraram “vida”. E o fizeram por meio de tecnologias, expectativas e visões de mundo bem distintas.
Os objetos cerâmicos são testemunhas de tradições, técnicas e modos como antigos povos se relacionavam e viam o mundo. O livro “ Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia – Rumo a uma nova síntese ” é fruto de uma parceria entre o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Museu Goeldi. A obra foi organizada pelas arqueólogas Cristiana Barreto (Museu Goeldi e Universidade de SP), Helena Lima (Museu Goeldi) e Carla Jaimes Betancourt (Instituto Alemão de Arqueologia e Universidad Mayor de San Andrés, Bolívia).
Na Amazônia, as cerâmicas arqueológicas -especialmente vasilhas e recipientes- são os mais abundantes vestígios arqueológicos dos antigos povos locais. Isso se deve tanto à importância das tecnologias cerâmicas, quanto ao fato de que outros objetos, como cestarias, tecidos e artefatos produzidos de sementes, plumas e ossos, terem menos condições de preservação no meio tropical.
No prefácio do livro “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia”, o arqueólogo Michael Joseph Heckenberger , (Universidade da Flórida, EUA), observa que durante muito tempo as cerâmicas amazônicas foram estudadas apenas para documentação de algumas de suas características formais, e não como um meio para “a compreensão detalhada da rica história cultural da maior floresta tropical do mundo” e suas pessoas. Todavia, nas últimas décadas, esse quadro vem mudando e as pesquisas na Amazônia vêm crescendo.
Heckenberger destaca, entretanto, que “muito dessa arqueologia ainda é conduzida fora dos padrões desejáveis de análises de campo e laboratório, e ignoram referências básicas de análises especializadas”. Para o arqueólogo americano, o livro “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia” é, então, uma grande contribuição para mudar essa situação: a primeira obra de referência que reúne bases sólidas para estudos contemporâneos sobre cerâmicas na região amazônica.
Resultado – A publicação é um dos resultados da Oficina Internacional “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia: rumo a uma nova síntese” , realizada em novembro de 2014 no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA). A oficina reuniu 25 pesquisadores de instituições do Brasil, e outros países da América Latina e Europa, aos quais se juntaram outros para construir o livro coletivamente, num total de 45 colaboradores, entre autores e coautores.
Em 668 páginas, o livro fornece um panorama ilustrado das pesquisas arqueológicas sobre cerâmicas da bacia amazônica, desde o Marajó, na foz do rio Amazonas, até as terras baixas do Equador e Bolívia, passando pelas cerâmicas das Guianas, no norte amazônico, e pelas peças do alto Xingu, ao sul.
O livro inclui também um artigo sobre o estudo das propriedades físicas e químicas de objetos arqueológicos (arqueometria) e conservação de cerâmicas na Amazônia, bem como um glossário de termos descritivos e classificatórios para cerâmicas amazônicas. Conta ainda com um índice com nomes de autores, nomes de sítios arqueológicos, fases, tradições e complexos arqueológicos em geral.
Entre outros aspectos, o “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia” chama a atenção para a necessidade de pensar modelos interpretativos que considerem as dinâmicas regionais em seus próprios termos. Em vez de pensá-las com base no que aconteceu em outras partes do mundo.
Amazônia Antropogênica – A interação Homem/meio ambiente é analisada pela Arqueologia da Paisagem – que estuda a história das paisagens humanizadas – considerando que, na perspectiva socioambiental, o Homem, as espécies de planta e animais e o ambiente com as quais interage, comuta e conforma as suas particularidades. Conectados, todos os elementos evoluem conjuntamente.
O livro “ Amazônia Antropogênica ” é organizado por Marcos Magalhães (Museu Goeldi), coordenador do projeto PACA , e reúne os conceitos que ancoram as pesquisas desenvolvidas na região de Carajás (Pará). A obra contextualiza o estudo da arqueologia na Amazônia e conta com fotos, gráficos e mapas para ilustrar as diversas abordagens que remontam a relação Homem/meio ambiente, como estudos botânicos, geográficos, do solo e arqueológicos. Ele também propõe e conceitua as diferenças entre a Cultura Tropical e a Neotropical, estudando as transformações e diferenças entre as paisagens produzidas por cada cultura.
Uma visão complexa – Entre as muitas observações trazidas pela obra “Cerâmicas Arqueológicas”, está o fato de que, nas Guianas, apesar da ocupação antiga e diversificada, parece não ter havido um percurso histórico linear que terminaria em sociedades complexas, com centros de poder e assentamentos hierarquizados, tal qual em outras culturas antigas do mundo. Ao contrário,
parece ter havido uma extensa rede de relações entre aldeias distantes. Modelo semelhante parece ter ocorrido em regiões do baixo Amazonas e foz do Rio Xingu, no Pará.
O livro apresenta também indícios sobre importantes fluxos de comunicação e troca entre tradições cerâmicas no sentido norte-sul, a partir de rios que nascem no planalto das Guianas e deságuam no Amazonas, e não apenas no sentido leste-oeste, ao longo do próprio rio Amazonas.
Já estudos em sítios do interior do Peru e fronteira com o Equador revelam intercâmbios entre a costa do Pacífico, os Andes e a Amazônia, em diferentes culturas e períodos, o que enfraquece a dicotomia entre o andino e o amazônico e contribui para a percepção de que os modelos de isolamento entre estes ambientes são percepções ocidentais e equivocadas.
O “Amazônia Antropogênica”, obra de 428 páginas, aborda como a ação humana influenciou a seleção e distribuição de espécies vegetais usadas por populações nativas há milhares de anos. Para Marcos Magalhães, “não se pode compreender a si mesmo isolando-se do seu meio natural, pois o Homem, através da cultura, cria as condições necessárias e suficientes para a sua própria existência. Assim, uma paisagem é um meio natural de origem antrópica circunscrito no espaço onde os agentes humanos e não humanos interagem evolutiva e coletivamente”, explica o arqueólogo.
Em um aspecto conclusivo, Marcos Magalhães também desenha a interação das próprias sociedades neotropicais amazônicas com a biodiversidade dos ecossistemas culturais, assinalando que ela “foi mantida ou ampliada segundo as necessidades das populações humanas que a explorou”. Ele também ressalta que a cultura não se opõe à natureza. Eles “arrastam consigo a incompletude da natureza, que nunca se esgota num só momento”.
Museu Goeldi – Criado em 1866 em Belém (PA) o Museu Paraense foi, no século XIX, junto ao Museu Nacional (RJ) e Museu Paulista (SP) a instituição com maior atuação na arqueologia brasileira. Ao longo do século XX, foi o ponto de partida de pesquisas pioneiras, cujos resultados ainda são fundamentais, como os trabalhos de Curt Nimuendaju, Peter Paul Hilbert, Betty Meggers e Mário Simões. Fruto desa história, a instituição abriga um acervo arqueológico centenário, com coleções de referência de muitas áreas da bacia Amazônica. Atualmente um instituto de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), além da arqueologia, o Museu Paraense Emílio Goeldi atua fortemente em outras áreas de pesquisa como zoologia, botânica, ciências da terra e ecologia, antropologia, linguística indígena e comunicação da ciência.
- Assista o booktrailer do livro “Amazônia Antropogênica” no Portal Museu Goeldi ou em nosso canal no Youtube.
- Assista o booktrailer do livro “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia” no Portal Museu Goeldi ou em nosso canal no Youtube.
Serviço
Lançamento dos livros “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia – Rumo a uma nova síntese” e “Amazônia Antropogênica”
Data: 03/09/2016, às 17h
Local: 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, estande da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) (Pavilhão do Anhembi, Av. Olavo Fontoura, 1.209 Santana – São Paulo/SP)
Entrada mediante compra de ingresso. Mais informações:
www.bienaldolivrosp.com.br