Notícias
Manuscrito de valor singular aos estudos da língua
Agência Museu Goeldi – Além do português e das cerca de 150 línguas indígenas faladas até hoje no Brasil, há um curioso fenômeno histórico conhecido entre especialistas como línguas gerais. A expressão foi inicialmente usada por espanhóis e portugueses para qualificar línguas indígenas de grande difusão numa área, tendo sido assim na América espanhola, onde o Quéchua foi chamado de Língua Geral do Peru e o Guarani, de Língua Geral da Província do Paraguai. Já no Brasil, o termo tardou a ser empregado, apesar do alcance da língua dos índios Tupinambá. O manuscrito – que é a base para o estudo desta língua e que se encontra, em sua versão original, conservado na Biblioteca Municipal de Trier (Alemanha) – está acessível aos leitores, pela primeira vez em sua forma integral, na obra “Dicionário de Língua Geral Amazônica”. A edição diplomática, revisada e ampliada em parceria com a Universidade de Potsdam, será lançada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi nesta terça-feira (27), às 17h, na 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, em Belém.
Datado de 1756, o manuscrito é anônimo, mas com indícios de ter sido redigido por jesuítas da Europa Central. Ele contém um vocabulário Português – Língua Geral Amazônica e um pequeno dicionário Língua Geral Amazônica – Português. Desde que foi localizado, em 2012, na cidade de Trier, por Jean-Claude Muller, ex-diretor da Biblioteca Nacional do Luxemburgo, especialista em linguística indo-europeia e atual Primeiro Conselheiro do Governo de Luxemburgo, pesquisadores de ambos os países se dedicaram ao seu estudo, culminando com a publicação da obra, organizada por ele e Wolf Dietrich, Ruth Monserrat, Cândida Barros, Karl-Heinz Arenz e Gabriel Prudente.
A reprodução fiel das características gráficas do manuscrito na obra garante um valor inestimável para novos estudos em Linguística. Junto a ela, seguem-se artigos sobre as etapas que levaram à descoberta do dicionário, as línguas gerais brasileiras, as fontes manuscritas que tratam da língua geral da Amazônia, a atuação de jesuítas alemães na região e o papel do dicionário jesuítico como instrumento de aprendizado.
Dentre as imagens que os leitores poderão apreciar estão as páginas originais do manuscrito, além de placas, estátuas e prédios localizados tanto no Brasil quanto na Alemanha e que marcaram a vida dos jesuítas durante a colonização e sua relação com povos indígenas.
Outros lançamentos desta terça-feira (27):
Protagonismo político indígena nas Américas
Entender a relação entre o Estado e as populações indígenas é um processo complexo, missão proposta pelo livro “Desafiando Leviatãs: experiências indígenas com o desenvolvimento, o reconhecimento e os Estados”. A obra será lançada nesta terça-feira (27), dentro das atividades da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar Centro de Convenções.
A obra reúne 13 artigos de cientistas sociais indígenas e não indígenas que abordam o tema em cinco países: Brasil, Bolívia, Canadá, Equador e México. Os artigos expõem ao leitor a importância da mudança de posicionamento do Estado frente à diversidade sociocultural da população, explanando os desafios do diálogo destas relações no cenário político atual.
O e-book é resultado de uma produção densamente antropológica com contribuições de diferentes áreas, como a Sociologia, Ciência Política e Direito, permitindo ao leitor o acesso a um conteúdo construído através de um diálogo horizontal com indígenas.
Organizado pela pesquisadora do Museu Goeldi, Claudia López, juntamente com Cristhian Teófilo da Silva (UnB) e Elena Nava Morales (Ciesas), o livro foi lançado durante o 3° Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (Cipial), realizado em julho, em Brasília (DF). O e-book é de acesso gratuito e está disponível para download na aba publicações do portal do MPEG.
Aviamento e populações indígenas no noroeste Amazônico
Marco da relação entre colonos e indígenas, o escambo a crédito é retratado no livro “A persistência do aviamento: colonialismo e história indígena no noroeste amazônico”, do antropólogo e historiador Márcio Meira. Ele analisa a longa duração do sistema e suas reformulações ao longo do tempo. A obra será lançada durante a 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar Centro de Convenções.
Com descrições antropológicas e históricas, Meira descreve e analisa o processo de ocupação indígena na Amazônia, destacando o momento em que indígenas passaram a ser submetidos ao sistema de escambo a crédito em meados do século XVII e o período da borracha. O pesquisador detalha a evolução do processo de escravidão por dívida dos indígenas, que era acompanhado por abuso sexual, tortura e morte.
Resultado de extenso trabalho de campo no Rio Negro, iniciado em 1985, a obra reúne dados de documentos, entrevistas e análises de pesquisas que resultaram em mais de 300 páginas escritas para a tese de doutorado, que no ano seguinte resultou no livro dedicado à memória de Isabel Garcia, indígena do noroeste amazônico assassinada em 1914, vítima do sistema de aviamento.
Serviço | Museu Goeldi na 23° Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes
Lançamentos dos livros:
- Dicionário de Língua Geral Amazônica – Jean-Claude Muller, Wolf Dietrich, Ruth Monserrat, Cândida Barros, Karl-Heinz Arenz e Gabriel Prudente (organizadores);
- Desafiando Leviatãs: experiências indígenas com o desenvolvimento, o reconhecimento e os Estados – Claudia López, Cristhian Teófilo da Silva e Elena Nava Morales (organizadores);
- A persistência do aviamento: colonialismo e história indígena no noroeste amazônico – Márcio Meira.
Dia: 27/08/2019
Hora: 17h
Local: Estande do Museu Goeldi, Setor das Editoras Universitárias, Hangar Centro de Convenções.