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Indígenas e pesquisadores se unem para barrar a destruição da Amazônia Maranhense
Agência Museu Goeldi – O assédio de ruralistas e o comércio ilegal de madeira transformaram a área de floresta amazônica no estado do Maranhão em zona de guerra. Em um cenário de violência e desmatamento crescentes, a Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi e as terras indígenas (TI´s) Arariboia, Awá, Caru e do Alto-Turiaçú são os últimos refúgios de preservação da Amazônia Maranhense, hoje reduzida a menos de 20% do seu tamanho original.
Representantes de etnias indígenas e pesquisadores que estudam a biodiversidade da Rebio, protagonistas da resistência à destruição florestal, se reuniram na segunda-feira, 2 de novembro. O encontro aconteceu em São Luís (MA) durante o Seminário da Amazônia Maranhense e tinha um sentido principal: o conhecimento mútuo para fortalecer a luta.
Veja a reportagem da TV Brasil sobre a destruição da Amazônia Maranhense: https://www.youtube.com/watch?v=5OQtMCBJo2M&feature=youtu.be
“O diálogo direto com os indígenas foi muito importante para aprendermos o que de fato é importante para eles e, por sua vez, eles entenderem do que estamos falando” conta Marlucia Martins, bióloga do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). “Não temos dificuldades em conversar sobre Biologia e conservação. Existem maneiras diferentes de decodificar a natureza, mas nós, indígenas e biólogos, mas falamos da mesma substância.”
Não à PEC 215 – Na reunião, os pesquisadores, as lideranças indígenas e representantes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) reafirmaram a preocupação e os esforços contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215. A PEC, aprovada em sessão da Câmara no final de outubro, permite a revisão da demarcação às terras indígenas e confere ao parlamento a atribuição de dar a última palavra sobre os limites das TI´s, quilombos e Unidades de Conservação (UC´s), além de autorizar empreendimentos econômicos dentro das TI´s.
O dia 11 de novembro, quarta-feira, foi o dia escolhido para a mobilização nacional contra a proposta, chamada por indígenas e militantes da causa de PEC do Genocídio. “A PEC é um retrocesso absurdo dentro do contexto nacional e ambiental, considerando a importância que estas terras indígenas têm pra conservação da biodiversidade”, afirma a pesquisadora. “Então nós estamos juntos, procurando alternativas para barrar essa proposta”.
Desmatamento Zero – Os participantes da reunião elaboraram um relatório para entregar ao Governo do Estado do Maranhão e ao Ministério Público do Estado (MPE) demonstrando porque é necessário se estabelecer o desmatamento para a Amazônia Maranhense. A reivindicação se une a campanha nacional contra o desmatamento das florestas brasileiras.
Para Marlucia Martins, a Reserva Biológica do Gurupi, unidade de conservação que abriga parte da floresta amazônica remanescente no Estado, é um território a ser preservado não apenas por sua relevância científica mas também pela centralidade que ela exerce para os povos originais do Maranhão e os serviços ambientais que presta a toda a região, principalmente em relação a provisão de água.
A Rebio e o Museu Goeldi – A instituição de pesquisa mais antiga da Amazônia há anos conduz pesquisas na área do Rebio, principalmente no quesito da diversidade local. “O Museu tem contribuído de maneira contundente com a Reserva do Gurupi, principalmente com novos registros da fauna e flora e a descrição de novas espécies”, diz a bióloga.
A educação ambiental das populações do entorno da reserva é outro eixo importante do trabalho do Goeldi, que desenvolve oficinas e palestras sobre conservação da floresta. Em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), a instituição levou uma mostra sobre os animais de Gurupi como parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia na capital do Estado.
Atualmente, o Museu Goeldi é executor do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) - Núcleo Amazônia Oriental e do projeto Perda de Biodiversidade nos centros de endemismo da Amazônia – INCT, que abrangem a Rebio do Gurupi. Também compõe o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) , que foi o organizador do seminário e da reunião do dia 2 de novembro.
Para saber mais sobre a Reserva Biológica do Gurupi e o desmatamento na Amazônia Maranhense acesse o site SOS Gurupi .
Texto: João Cunha