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Homenagem a Dona Francisca Rosa, líder comunitária da Terra Firme
Foi com espanto e tristeza que o Museu Goeldi recebeu a notícia do falecimento de Francisca Rosa Silva dos Santos, presidente do Ponto de Memória da Terra Firme, parceira em muitas ações junto com Helena Quadros, educadora do Museu Goeldi, em tantas e tantas atividades institucionais junto a públicos diversos.
Dona Chiquinha, como era popularmente conhecida, era militante 100% dedicada a história e melhoria do viver no bairro da Terra Firme, situado na periferia da cidade de Belém, e hoje um de seus bairros mais populosos, com geografia marcada pela influência das bacias do igarapé Tucunduba e do Rio Guamá. Ela fazia parte da geração pioneira de moradores do bairro, onde também está situado o Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, bairro cujo próprio nome fala de resistência e humor.
Dona Chiquinha, junto com outras lideranças femininas da Terra Firme, foram pioneiras em muitas frentes, incluindo a adoção da multimistura e o desenvolvimento de um cardápio com alimentos que usualmente eram descartados. A multimistura foi criada na década de 70 pela pediatra e nutróloga Clara Terko Brandão, quando morava no Pará, e serve para combater o alto grau de desnutrição, diarreia e anemia. A multimistura original da doutora Clara Brandão era composta por farelo de arroz, trigo, folha de mandioca, sementes de abóbora e gergelim, e foi um sucesso, pois onde se espalhou ajudou a reduzir taxas de mortalidade infantil e desnutrição. A invenção chega ao bairro da Terra Firme através de Helena Quadros e Vera Bastos (ambas profissionais do Museu Goeldi), que promovem oficinas com a Dr.ª Clara Brandão. As lideranças femininas da Terra Firme absorvem o ensinamento e vão além nas experimentações – desenvolvendo um cardápio variado.
Outro pioneirismo que resultou da parceria entre a Terra Firme e a ação educativa do Museu Goeldi foi o Ponto de Memória da Terra Firme. A experiência deste ponto de cultura foi tão bem-sucedida em sua missão de mobilizar os movimentos socioculturais do bairro para identificar memórias, histórias e características peculiares, incluindo imagens, entrevistas, contos, lendas e objetos da comunidade da TF, que virou uma referência nacional. E Dona Chiquinha é uma liderança emblemática que fez história nessa construção.
A comunidade do Museu Paraense Emílio Goeldi presta sua solidariedade aos familiares, amigos e colegas do Ponto de Memória da Terra Firme.
A imagem que fica na retina, entre os vários momentos da Dona Chiquinha no Museu Goeldi, foi no último “Domingo É Dia de Ciência”, ocorrido no dia 18 de maio, com ela animada, falando e demonstrando como trabalhar com a multimistura para o público visitante do Museu Goeldi. Gratidão, muita gratidão, Dona Chiquinha.
Museu Paraense Emílio Goeldi