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História e arte latino-americanas são tema do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi
Uma autêntica aula de história da arte. Esse é o cará ter do dossiê “Ilustração arqueológica e etnográfica nas Américas”, que dá título à recém-lançada edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Com organização de Claudia Mattos Avolese, da Unicamp, sete autores discutem interpretações e representações do que, na América Latina, resultou em formas de se ver grupos humanos e de apresentá-los nas mais diversas instâncias do poder que se constituía em tempos coloniais. No dossiê, as análises descortinam o quanto, em arte, muitos dos elementos de então se transformaram.
Essa é a primeira edição da revista publicada depois de receber a nota máxima da avaliação do Qualis: A1 para Linguística e A1 para Antropologia e Arqueologia. Nesse número, o segundo de 2017, que corresponde ao período de maio a agosto, além do dossiê, trabalhos de pesquisadores que atuam em vários países do continente trazem um panorama das Ciências Humanas nessa parte do mundo.
Três artigos sobre arqueologia auxiliam na compreensão das formas de ocupação humana e sua complexa relação com o ambiente na América Latina. Do estado de Bolívar, na vizinha Venezuela, vêm “Anchoring the landscape: human utilization of the Cerro Gavilán 2 rockshelter, Middle Orinoco, from the Early Holocene to the present”. Nele Kay e Franz Scaramelli demonstram como vestígios de moradia e lugar de rituais e evidências de superposição de pinturas rupestres estabelecem o abrigo de Cerro Gavilán 2 como paisagem.
Já da Argentina, Laura Bastourre e Eduardo Apolinaire recuperam informações desconhecidas na planície da província de Entre Rios, no noroeste da Argentina. Os achados relatados em “Estudios arqueofaunísticos en un contexto estratigráfico de las llanuras interiores de Entre Ríos: el sitio Laguna del Negro 1 (departamento Gualeguay, Argentina)” permitirão o aproveitamento de recursos faunísticos.
Um modelo da organização da produção de cerâmica na Mendoza colonial é o que os autores de “La organización de la producción de cerámica colonial en la frontera sur del imperio español (Mendoza, Republica Argentina)” constroem. María José Ots, Martina Manchado, Marina Cataldo e Sebastián Carosio apresentam característica complementar da produção de cerâmica em povoações e vinícolas no século XVII, o trabalho estava sob a responsabilidade de mão de obra especializada indígena e africana.
Ainda da arqueologia, dessa vez na seção Memória, Helena Pinto Lima e Claudia M. Cunha se dedicaram a revelar descobertas na coleção arqueológica do Museu Goeldi. Em “Reassessing museum archaeological collections: unprecedented osteological and ceramic data for the Sucuriju site in the Urubu River, Central Amazon, Brazil”, as autoras apresentam análise de material de pesquisas desenvolvidas por Mário Simões, entre os anos 1970 e 1980, no sítio Sucuriju, no rio Urubu, no Amazonas.
Em reforço aos laços de cooperação Sul-Sul, vem da Amazônia equatoriana estudo que analisa o cultivo agrícola como forma de revelar as características socioculturais dos Waorani: “Cultivando las plantas y la sociedad waorani”. A autora Maria Gabriela Zurita-Benavides aponta a liberdade de ação do grupo e a autonomia individual como características fundamentais à análise.
Também do campo da antropologia, Verlan Valle Gaspar Neto em seu “Contributions to a historical review of biological anthropology in Brazil from the second half of the twentieth century” fornece elementos para a história da Antropologia Biológica no Brasil.
Viajantes e suas incursões na Amazônia brasileira e seu entorno estão em dois dos artigos da História. A partir de sua exploração do rio Capim, no Pará, o botânico João Barbosa Rodrigues deixou legado analisado por Claudio Ximenes e Alan Watrin Coelho no “[...] contexto político-científico brasileiro do século XIX, dominado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”, em seu artigo “A descrição histórica, geográfica e etnográfica do rio Capim feita por João Barbosa Rodrigues”.
Na capitania do Maranhão e do Piauí, um naturalista estabeleceu lastro para ocupar postos no estamento português no início do século XIX. É o que evidencia Marcelo Cheche Galves em “Vicente Jorge Dias Cabral: um naturalista na capitania do Maranhão e do Piauí”.
Com análise de ilustrações, Hilderman Cardona Rodas, da Colômbia, procura estabelecer os vínculos entre o poder e as representações de alteridade em tempos de Império Espanhol. Seu artigo é intitulado “Colonialidad del poder y biopolítica etnoracial: Virreinato de Nueva Granada en el contexto de las Reformas Borbónicas”.
Museologia, Religião e Turismo na Argentina, em Portugal e no Maranhão, respectivamente, encerram a seção de artigos. María Gabriela Chaparro discute a necessidade da conservação, da visibilidade e de salvaguarda de acervos em “Los avatares de una colección en ámbitos municipales: el Museo Etnográfico Dámaso Arce (Olavarría, Argentina)”. António Sérgio Araújo Almeida e Roque Pinto discutem a relação de festa religiosa e a atividade turística no contexto das celebrações da Semana Santa de Braga, em Portugal em “Religiosidade e turismo: o primado da experiência”. Com ênfase para a relação cultura e turismo pela ótica do empreendedorismo em contexto urbano no Maranhão, Conceição de Maria Belfort de Carvalho, Kláutenys Dellene Guedes Cutrim, e Sarany Rodrigues da Costa escreveram “Empreendedorismo cultural e turismo: perspectivas para desenvolvimento das indústrias criativas no bairro da Madre Deus, São Luís (Maranhão, Brasil)”.
Na edição, é possível conferir também duas resenhas e um resumo de tese.
O Boletim está na sua página no Portal do Museu e pode ser lido no Issuu .
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