Notícias
Governo e sociedade em prol do Goeldi
Agência Museu Goeldi – Um dos cartões-postais da capital paraense, o Museu Paraense Emílio Goeldi vai receber novas cores em comemoração aos 150 anos da instituição e os 400 anos da cidade de Belém. A ação será fruto de um rol de instituições, que oficializaram na última quinta-feira (16), em cerimônia na diretoria da instituição, a assinatura do termo de cooperação entre o Governo do Estado do Pará - através do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) e a Fundação Pro Paz -, o Museu Goeldi e o Instituto Peabiru, organização da sociedade civil que coordena o programa ProGoeldi. A cooperação firmada possibilita o início do projeto “Tudo de Cor pra Você”, das Tintas Coral, em Belém e no Goeldi.
Intitulada projeto “Vitória Régia”, a parceria iniciará com a pintura do muro e de edificações do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi por dez internos custodiados pela Susipe. Os dez reeducandos, que se encontram em regime semiaberto, serão capacitados pela equipe técnica da Coral e do Museu Goeldi para participar de ações de revitalização do Zoobotânico. A Fundação ProPaz será responsável por bolsa-auxílio, vale-transporte e alimentação da equipe da Susipe. Diariamente, após o serviço no Museu Goeldi, eles retornarão ao sistema penitenciário.
“Os participantes vão receber treinamento de pintores”, contou Hugo Ferreira, representante da Coral, empresa do ramo de tintas que é a primeira parceira do ProGoeldi – o programa que dá apoio ao sesquicentenário do Museu Goeldi. O curso oferecido pela Coral integra o projeto “Tudo de Cor pra Você”, iniciativa nacional que envolve a participação ativa de comunidades locais.
Revitalizar vidas – Para o superintendente da Susipe, coronel André Luiz de Almeida, o valor de parcerias como essa está em oferecer vagas de trabalho a presos e egressos do sistema penitenciário. “Esse projeto é de muita significância para a Susipe porque revitaliza um espaço turístico e afetivo da cidade, o Parque do Museu Goeldi, e para isso inclui pessoas que estão em um processo de revitalização de suas próprias vidas... Reinserção social não se faz atrás de muros. A verdadeira reinserção social é feita em sociedade, com as pessoas trabalhando para poder se reintegrar. Oportunizar trabalho e renda para que possa haver o sustento da família pelos meios lícitos é fundamental para essas pessoas”, afirmou o coronel André.
Erilando Macedo, 27 anos, tem um ano e meio residual de pena a cumprir e encara essa oportunidade de trabalho como uma volta à sociedade. “Só pelo fato de eu trabalhar e ganhar um dinheiro honesto já vai ser um bom começo pra ajudar a minha família”, disse. “Eu agradeço à Susipe, ao Museu, por me dar essa chance de poder voltar a ter uma vida justa. Com essa ajuda se torna mais fácil para ingressar em um novo caminho”.
Trabalhar na história – Para a secretária extraordinária de Integração de Políticas Sociais, Izabela Jatene, trabalhar na revitalização do Museu Goeldi é trabalhar na própria história da cidade. “Eu só tenho gratidão, porque as mãos que se dão em cada momento pelo Goeldi são mãos que se dão pelo carinho, pelo amor, pelos nossos filhos e netos, são mãos que reconstroem a história paraense. Quando a gente fala de sustentabilidade e de Amazônia, nós temos a melhor representação e a melhor síntese no Goeldi, para os pesquisadores, estudantes e famílias que vem até aqui”, declarou.
Madrinha do projeto ProGoeldi, a cantora Fafá de Belém também esteve presente na cerimônia e falou diretamente aos reeducandos do projeto Vitória Régia. “Esse projeto, mais do que qualquer coisa, é para nós reaprendermos, relembrarmos quem nós somos. Se você não souber onde está plantada a tua raiz, você vai vagar pelo mundo buscando referências. Então eu acho maravilhoso que vocês estejam aqui, que outros colegas possam vir, criar possibilidades de vida”, disse.
Nilson Gabas Jr, diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, resumiu a importância dessa união. “Iniciativas com representantes de diversas áreas dão um recado claro: independente da economia, o meio artístico, empresarial, educacional e científico consegue fazer ações em prol da sociedade e do Museu Goeldi”. Além dos representantes do governo estadual e da Coral, compareceram à cerimônia membros do empresariado paraense e da Federação do Comércio do Estado do Pará.
Alimentando novas possibilidades – O projeto Vitória Régia começou esta semana o treinamento dos reeducandos para a revitalização da estrutura física do Parque Zoobotânico – que começa pela pintura dos muros. A expectativa do ProGoeldi é que, até o aniversário de 150 anos do Museu, em outubro deste ano, um dos muros esteja completamente revitalizado.
Porém, mais benefícios abertos pelo termo de cooperação também estão por vir. Na segunda-feira (20), dirigentes do Museu Goeldi, Susipe e do Instituto Peabiru reuniram novamente no Goeldi, em Belém. O objetivo da reunião foi discutir a ampliação das possibilidades de prestação de serviços, com o fornecimento de produtos feitos com o trabalho de custodiados do sistema penitenciário do Pará. Os técnicos da Susipe apresentaram os termos da Lei de Execução Penal, que dá suporte ao convênio recentemente celebrado com o Museu Goeldi - e que também já é realidade junto a outras 28 instituições públicas e privadas no estado.
Ivaldo Capeloni, diretor de reinserção social da Susipe destaca que o principal ganho desse tipo de parceria é social. “As pessoas custodiadas podem voltar ao convívio com a sociedade da melhor maneira possível, por meio do trabalho. Além da remuneração, a cada três dias trabalhados, eles têm um dia reduzido de sua pena”.
Capeloni avalia que, no caso do Museu Goeldi, citado pela Susipe como uma instituição de pesquisa reconhecida por seu trabalho de educação ambiental e patrimonial, a expectativa é que os detentos sejam beneficiados de outras formas. “Também é oportunidade de capacitação e aquisição de conhecimentos para o melhoramento de nossa produção”, exemplifica o diretor da Susipe, se referindo à produção da colônia agrícola Heleno Fragoso, localizada na cidade de Santa Izabel, região metropolitana de Belém.
Roseny Mendes, vice-diretora do Museu Goeldi, aposta que as principais possibilidades para o convênio são o fornecimento de postos de trabalho (em áreas como marcenaria e limpeza, por exemplo) e também na produção de frutas, verduras e carne de aves para alimentação dos animais do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.
“Além de alimentação de qualidade para os animais, esses produtos e serviços representarão economia para a instituição. Em um momento de redução de recursos, a parceria entre uma instituição federal como o Goeldi e o Governo do Estado é muito importante. Ao pouparmos em um segmento, podemos direcionar recursos para a melhoria de espaços para os visitantes”, pondera Rose Mendes.
Durante a reunião, os representantes do Instituto Peabiru, junto aos técnicos do Goeldi e o diretor da instituição, Nilson Gabas Jr., conheceram algumas das produções em artesanato dos internos da Susipe, além de degustar produtos como farinha e mel produzidos por eles. A equipe da Susipe, incluindo seu superintendente, Coronel André Luís Cunha, também fez uma caminhada pelo Parque Zoobotânico para conhecer espaços onde se projeta reformas, e que futuramente poderão contar com exposição e venda de produtos dos internos, além de seus serviços em áreas como construção e manutenção.
Texto: João Cunha e Uriel Pinho