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Formação de cientistas ainda é desafio para a Amazônia
Agência Museu Goeldi – Os estados que formam a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) concentram mais de 60% do território do país, e apresentam uma inestimável diversidade natural e humana em seus diversos espaços. Mas o contingente científico atual dos estados amazônicos, que poderia dar conta do desafio de conhecer esse patrimônio e oferecer subsídios para o desenvolvimento social, tecnológico e ambiental da região, ainda não tem o tamanho adequado para acompanhar suas potencialidades. Em 2014, a Amazônia Legal foi responsável pela formação de apenas 2,4% dos doutores e 5,6% dos mestres do Brasil (CGEE/MCTIC, 2016). Para mudar esse quadro, a iniciação científica é uma estratégia de grande importância.
Implementado no Museu Paraense Emílio Goeldi desde 1992, o Programa de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (PIBIC-PIBITI/MPEG) possibilita a jovens estudantes, candidatos a pesquisadores, a inserção em projetos da instituição e a experiência em diversas fases da pesquisa científica e tecnológica. O programa é uma porta aberta para a pós-graduação e a carreira científica.
No Seminário PIBIC / PIBITI do Museu Goeldi em 2016 , foram apresentados 88 trabalhos de iniciação científica e tecnológica, divididos nas sessões temáticas “Sistemática vegetal e micologia, morfologia e anatomia vegetal, manejo e conservação”; “Sistemática e Ecologia Animal”, “Ciências a Terra e Ecologia”; “Antropologia e Arqueologia” e “Núcleo de Inovação Tecnológica, Núcleo Editorial e Serviço de Tecnologia da Informação”. Ao final, foram premiados os três melhores trabalhos de cada setor do Goeldi.
Zoólogo e coordenador PIBIC/PIBITI na instituição, Wolmar Wosiacki avalia que o nível dos trabalhos foi muito bom, assim como a participação maciça de alunos, pesquisadores e técnicos. “A função do PIBIC/PIBITI está sendo cumprida pelo quadro de pesquisadores do Goeldi, que é despertar o interesse pela ciência, auxiliar na formação de recursos humanos e gerar conhecimento. A ciência sempre supera os obstáculos (referindo-se a limitação de verbas para material de pesquisa e divulgação do Seminário em 2016), não importam quais sejam”, afirmou Wolmar.
Oportunidades – No início de sua carreira acadêmica, Ana Vilacy Galúcio , linguista e Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação do Museu Goeldi, fez parte da primeira turma de Iniciação Científica da instituição, em 1992, e destaca o que mais a atraiu: a possibilidade de fazer pesquisas de campo na Amazônia.
“Agora mesmo temos um grupo de alunos universitários norte-americanos e coreanos fazendo uma escola de campo em arqueologia na Floresta Nacional de Caxiuanã. Então você vê que há alunos de várias partes do mundo interessados em desenvolver trabalho de campo na Amazônia. Nossos alunos aqui de Belém tem essa chance muito mais próxima, por meio do programa PIBIC do Museu Goeldi, por exemplo. Essa oportunidade é um diferencial que os alunos realmente percebem e é uma das razões pelas quais temos uma grande demanda de interessados.”
Além do trabalho de campo nas diversas áreas do conhecimento, Vilacy destaca que os trabalhos de iniciação científica no Museu Goeldi podem envolver tanto coletas quanto análises em laboratório e tratamento de materiais que já fazem ou farão parte de uma das 18 coleções científicas da instituição, dando oportunidade ao aluno de ter contato com métodos e técnicas em diferentes estágios da pesquisa científica.
Evolução – Um comparativo entre os primeiros cinco anos e os últimos anos do PIBIC Museu Goeldi demonstra o esforço no processo de arregimentar talentos para a pesquisa nacional. De 1992 a 1996, foram concedidas 183 bolsas para a iniciação de jovens pesquisadores. Já de 2011 a 2016, foram 522 bolsas concedidas. Para Vilacy, os valores apresentam mais que uma evolução numérica. “O PIBIC/PIBITI acompanha o desenvolvimento da graduação e da pós-graduação no país. Acho que o aumento do número de bolsas nessa trajetória reflete uma decisão governamental de investimento nesse público de alunos de graduação, já pensando na pós-graduação”, pondera Vilacy.
De acordo com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o número de mestres e doutores titulados no Brasil aumentou mais de cinco vezes desde 1996, com desconcentração da formação no eixo Rio-São Paulo e expansão principalmente da pós-graduação nas regiões Nordeste e Norte do Brasil.
No Museu Goeldi, Vilacy confirma que a evolução do PIBIC está ligada a este contexto e também ao amadurecimento dos diversos públicos envolvidos no Programa. “Ao longo desses 24 anos, a instituição amadureceu no entendimento do programa e no desenvolvimento de metodologias de acompanhamento; os supervisores amadureceram sobre o que esperar e oferecer aos orientandos e também os alunos amadureceram no que buscam do programa”, completa Vilacy.
Inovação - A modalidade de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) é a mais recente a ser oferecida pelo Museu Goeldi e ainda conta com poucos bolsistas na instituição. Ela pressupõe a pesquisa aplicada, voltada ao desenvolvimento de produtos e processos.
De acordo com Galúcio, o Museu Goeldi está criando uma tradição nessa área através de diversos projetos de pesquisa que atuam em inovação ou em pesquisas que podem gerar processos e produtos na instituição, sendo alguns já alvo de pedido de patente . A instituição conta com seu Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) e sedia a Rede de Núcleos de Inovação Tecnológica da Amazônia Oriental ( Rede NAMOR ).
“Acho que ainda não temos conhecimento suficiente das oportunidades que o PIBITI oferece. Penso que é natural que isso ocorra paulatinamente ao longo dos anos. Assim como aconteceu com o PIBIC, que haja amadurecimento da instituição sobre os objetivos do programa; amadurecimento dos potenciais orientadores sobre o que podem oferecer e receber, e também dos alunos, no conhecimento dos diversos projetos do Museu que atuam nessa área”, analisa Vilacy.
Lacunas – Apesar do aumento da formação de cientistas na Amazônia, ainda são grandes os desafios da região. O estado do Pará é o que mais formou mestres e doutores na região em 2014 (CGEE/MCTIC, 2016), e, entretanto, naquele mesmo ano, havia apenas 2,7 doutores para cada 100 mil habitantes no estado. Portanto, abaixo da média brasileira de 8,3 doutores por 100 mil habitantes e longe da média de 16,7 doutores a cada 100 mil habitantes do Distrito Federal, a unidade da federação com maior proporção em 2014.
Comparativamente, os Estados Unidos registraram, em 2013, média de 20,6 doutores a cada 100 mil habitantes. Outros países desenvolvidos, como Alemanha e Coreia do Sul, registraram 34,4 e 25,1; respectivamente.
“O desafio é a gente seguir crescendo, e demonstrar aos alunos que a ciência é uma área interessante e importante para o país e que vale a pena investir. Você pode desenvolver uma carreira de sucesso como cientista e contribuir, com o teu trabalho, com o conhecimento da biodiversidade do Brasil e o entendimento das dinâmicas da sociodiversidade do país”, pondera Ana Vilacy.
Além de vasto material para trabalho na Região Amazônica, profissionalmente, os cientistas ainda contam com taxas de emprego formal elevadas no Brasil e remuneração acima da média nacional. Em 2014, a média da remuneração em empregos formais era de R$ 2.449,11 mensais no país. Entre as pessoas com título de doutorado, essa média aumentava para R$13,861.
Ainda existe muito a descobrir sobre a região mais biodiversa do mundo, seus diferentes ecossistemas e sua diversidade humana milenar. A iniciação científica e tecnológica pode ser o primeiro passo para aqueles que quiserem embarcar nessa jornada.
Veja abaixo a lista dos trabalhos de Iniciação Científica premiados no Museu Goeldi em 2016.
COORDENAÇÃO DE BOTÂNICA - CBO
1º lugar - Pesquisa: A Família Cyperaceae Juss. nas savanas do Amapá, Brasil
Bolsista: Layla Jamylle Costa Schneider
Orientador: André dos Santos Bragança Gil
Colaborador: Salustiano Vilar da Costa Neto (IEPA)
2º lugar - Pesquisa: Ampliação do estudo de plantas aromáticas na Floresta Nacional de Caxiuanã, Pará, Brasil
Bolsista: Alberto Ray Carvalho da Silva
Orientador: Eloisa Helena de Aguiar Andrade
3º lugar - Pesquisa: Caracterização dos produtos florestais não madeireiros (PFNM) e do valor comercial da madeira de espécies arbóreas da Amazônia – subsídios para a restauração florestal
Bolsista: André Luis Ferreira Hage
Orientador: Rafael de Paiva Salomão
COORDENAÇÃO DE ZOOLOGIA - CZO
1º lugar - Pesquisa: Filogenia multilocus do grupo Hypsiboas albopunctatus e variação morfológica e molecular em Hypsiboas multifasciatus (Günther, 1859)
Bolsista: Matheus de Almeida Carvalho
Orientador: Marcelo José Sturaro
2º lugar - Pesquisa: Filogeografia de Dendrocolaptes picumnus (Aves: Dendrocolaptidae) com base em marcadores moleculares mitocondriais e nucleares
Bolsista: Nayron Francês do Nascimento
Orientador: Alexandre Aleixo
Colaboradora: Antonita Santana da Silva
3º lugar - Pesquisa: Descrição de quatro espécies novas de Soesilarishius (Arachnida, Araneae) da Região do Pará, Brasil
Bolsista: Savio Benedelak Farias
Orientador: Alexandre Bragio Bonaldo
Colaborador: Gustavo Ruiz (ICB/UFPA)
COORDENAÇÃO DE CIÊNCIA DA TERRA E ECOLOGIA - CCTE
1º lugar - Pesquisa: Estudo das fibras obtidas a partir das espécies vegetais Montrichardia linifera (Arruda) Schott e Montrichardia arborescens para avaliação de sua aplicação tecnológica
Bolsista: Everton Leandro Santos Amaral
Orientador: Cristine Bastos do Amarante
2º lugar - Pesquisa: Caracterização química da mucilagem de Montrichardia linifera (Arruda) Schott.
Bolsista: Anderson de Santana Botelho
Orientador: Cristine Bastos do Amarante
3º lugar - Pesquisa: Monitoramento e caracterização da fauna de mamíferos na ilha de Marajó
Bolsista: Raissa Tancredi Cerveira
Orientador: Ana Luisa Kerti M. Albernaz
COORDENAÇÃO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH
1º lugar - Pesquisa: Recursos naturais de Monte Alegre: caracterização, distribuição e transformação ao longo do tempo na área do parque estadual de Monte Alegre e seu entorno
Bolsista: Calil Torres Amaral
Orientador: Edithe da Silva Pereira
2º lugar - Pesquisa: Proposta museográfica e expográfica para o sítio Engenho Jaguararí
Bolsista: Gerson de Figueiredo dos Santos
Orientador: Fernando Luiz Tavares Marques
3º lugar - Pesquisa: Conservação de materiais inorgânicos na coleção etnográfica do Museu
Paraense Emilio Goeldi: análise de acervo metal
Bolsista: Ana Victória Vieira Cruz
Orientador: Cláudia Leonor Lópes Garcés
NÚCLEO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – NIT
Pesquisa: Impulsionar práticas de manejo sustentável em comunidades quilombolas do Rio Capim
Bolsista: Hemelyn Soares das Chagas
Orientador: Maria das Graças Ferraz Bezerra
SERVIÇO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO – STI
Pesquisa: Ampliação do site de coleções zoológicas do Museu Paraense Emílio Goeldi: coleções de vertebrados
Bolsista: Juliana Corrêa dos Santos
Orientador: Marcos Paulo Sousa
Texto: Uriel Pinho