Notícias
Estudo sobre populações tradicionais de Quatipuru/PA é apresentado no XXIII Seminário PIBIC
Agência Museu Goeldi - Desenvolver projetos de pesquisa que coloquem as regiões amazônicas no primeiro plano da produção científica é de suma importância para o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), além disso, é uma forma de fazer com que as populações amazônicas conheçam suas características, semelhanças e diferenças, como na pesquisa “Populações tradicionais em paisagens costeiras do estado do Pará: trajetórias históricas e uso da terra” desenvolvida pelo bolsista Dimas Almeida Assunção – graduando de Licenciatura Plena em Geografia na Universidade do Estado do Pará (UEPA), sob a orientação da Dra Cristina do Socorro Fernandes de Senna, pesquisadora da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE/MPEG), apresentado no XIII Seminário de Iniciação Científica (PIBIC) do MPEG entre as pesquisas da 3ª Sessão: Ciências da Terra e Ecologia.
A pesquisa visa trazer à tona os momentos históricos da colonização da Região do Salgado Paraense e sua relação com o município de Quatipuru, localizado na microrregião Bragantina da mesorregião do nordeste paraense. Para compreender estes momentos históricos a equipe do projeto se debruçou a estudar e conhecer os padrões que marcaram e impactaram a região em suas relações sociais, econômicas, culturais e de circulação, bem como o uso da terra e o manejo do solo. Nesse sentido, o trabalho distingue três momentos históricos significativos a esse processo: 1) Rio-Várzea-Floresta; 2) Cidade-Estrada-de-ferro-Colônia e 3) Estrada-Terra firme-Subsolo.
A orientadora da pesquisa, Dra Cristina Senna, explica que no padrão Rio-Várzea-Floresta, a produção agrícola que chegava à capital vinha de barco, isso gerava baixo aproveitamento da produção devido às distâncias; no padrão Estrada-Terra firme-Subsolo - que substitui o anterior - o escoamento da produção agrícola era cada vez mais crescente e era feito pelas estradas de rodagem; por fim o padrão Cidade-Estrada de ferro-Colônia constitui em um padrão singular para a região bragantina e a zona do Salgado pela implantação da estrada de ferro como meio de escoamento da produção agrícola – em decorrência da economia da borracha – o que causou grande impacto na economia paraense: declínio da atividade agrícola, crise de abastecimento de Belém, crise política entre a oligarquia latifundiária tradicional e setor extrativista da borracha.
História e memória de Quatipuru - A pesquisadora também conta que “a região bragantina era um imenso território, povoado por grupos indígenas, cujas vias de acesso a Belém era por meio de rios que desembocavam no oceano Atlântico”. As viagens eram longas e desconfortáveis, pois os passageiros e as cargas (produção agrícola e drogas do sertão) dividiam os mesmos espaços nas embarcações. Diante da necessidade de readequação territorial, várias colônias agrícolas foral se formando ao longo do eixo ferroviário que ligava Belém a Bragança, lembra Dra Cristina Senna.
As comunidades que formaram Quatipuru firmaram-se e representaram o estado do Pará em várias feiras agrícolas nacionais que ocorriam no Sudeste do país, devido a alta produtividade local. Mas em suas atividades agrícolas, os agricultores familiares não recebiam assistência técnica por parte do poder público. E, segundo a Dra. Cristina Senna, eram “solos com baixa fertilidade, originados a partir dos sedimentos areno-argilosos do Grupo Barreiras”. A pesquisadora sinaliza que entre os principais impactos que a paisagem da região de Quatipuru sofreu em seu processo histórico está o fenômeno no qual “os sedimentos mais argilosos são transportados para os campos inundáveis, através de chuvas periódicas e intensas, influenciando nos processos lacustres e/ou lagunares responsáveis pela manutenção da vida nessas áreas aquáticas, que recebem aves migratórias de ciclo longo (Canadá ao Rio Grande do Sul e Patagônia), sendo também berçários para a biota marinha, principalmente peixes, que se acasalam e se reproduzem nessas águas”.
Diante de todo esse processo, não só a paisagem de Quatipuru foi afetada, mas as populações tradicionais dessa área costeira foram diretamente impactadas em seus modos de vida. Pois são suas vivencias e experiências em áreas costeiras que contribuem na construção e no fortalecimento de seus saberes, sua cultura e sua história. Elementos que, para a pesquisadora e orientadora do trabalho, “são imprescindíveis para o sucesso da gestão comunitária da zona costeira, em termos das unidades de conservação, vida silvestre e da sustentabilidade ambiental”.