Educação e ciência na Flona de Caxiuanã

Agência Museu Goeldi – Desde 2008, o mês de outubro é diferente para os moradores da Floresta Nacional de Caxiuanã, localizada na zona rural dos municípios de Portel e Melgaço. O mês marca a chegada das Olimpíadas de Ciências de Caxiuanã, ação do Museu Goeldi na Estação Científica Ferreira Penna que congrega alunos, técnicos, professores locais e da capital paraense em atividades que envolvem arte, educação, esporte, lazer, cultura e ciência. Durante cinco dias a ECFPn passa a ser a morada dessas pessoas, um ambiente de integração oportuno para o compartilhamento de saberes e experiências.

Em 2005 a Olimpíada foi integrada à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, do MCTI, e a edição de 2015, a sétima, veio com o tema “Luz, ciência e vida”, assunto que inspirou a criação da oficina “Fotografia, ciência e vida”, da multimídia Janine Valente, uma entre 17 voluntários que oferecem oficinas educativas a mais de 150 crianças e adolescentes de 12 comunidades rurais participantes da Olimpíada. “O nome da minha oficina vem baseado no tema das Olimpíadas e eu fiz uma brincadeira, transformando fotografia na primeira palavra tema, porque eles têm uma relação direta. Estou preparando os alunos para a exposição de 150 anos do Museu Goeldi, quando vamos mostrar, através da fotografia e do olhar das crianças que participaram da oficina, como é viver em uma floresta”, disse a multimídia.

A pedagoga Socorro Andrade, do Museu Goeldi, trabalha a educação na Estação Científica Ferreira Penna e nas comunidades rurais da Flona de Caxiuanã há 19 anos e para ela, a realização do evento, mesmo diante das dificuldades, tem uma motivação maior.  “Eu tenho um compromisso com os alunos e com as comunidades de Caxiuanã. Muitas vezes eu vou além do que eu deveria ir para conseguir organizar esse evento, mas eu faço com todo amor e carinho”, disse.

Além dos 17 oficineiros, outros 10 voluntários viajaram mais de 24 horas até a chegada à ECFPn. “Todos são voluntários, do pesquisador ao bolsista. Muitas vezes as pessoas vêm fazer suas pesquisas na floresta, mas olham paro o seu objeto de pesquisa e não para o morador da floresta, então a Olimpíada também é uma forma de mostrar a todos que a interação entre a pesquisa, a comunidade e as escolas pode dar certo”, comentou Socorro Andrade.

O aluno Moisés Lima dos Santos tem 17 anos e é morador da comunidade Santo Amaro, do município de Portel. Ele participa pela primeira vez da Olimpíada. “É uma sensação tão boa participar, quando me chamaram eu nem acreditei. Espero aprender muitas coisas aqui na Estação”, disse.

Chegada – No trapiche da ECFPn, às margens do rio Caxiuanã, os educadores aguardavam ansiosos para dar as boas vindas às crianças, adolescentes e professores das comunidades do rio Caxiuanã no dia 19/10. Como em todos os anos, a chegada dos alunos foi marcada por muita alegria e entusiasmo. Em cima dos barcos, todos cantavam os “hinos de paz”, pequenas canções compostas pela comunidade para animar os jogos da Olimpíada. Enfeites, balões, percussão e até caixas de som fizeram parte da apresentação dos alunos.

Lançamento de livro – Na noite do primeiro dia, o livro “Gafanhotos da Flona de Caxiuanã: guia prático” foi apresentado aos professores das escolas da Flona. O livro, resultado da tese de doutorado do professor Carlos Elias de Souza Braga, em parceira com a professora Ana Lucia Nunes, ambos da Universidade do Estado do Pará, mostra a descrição, habitat, distribuição geográfica, nível de dano econômico e demais informações sobre gafanhotos da região. A pesquisa levou quatro anos para ser concluída, sendo 1 ano e 8 meses de coleta de insetos na Floresta de Caxiuanã.

O livro foi distribuído para os professores das comunidades, que foram orientados a utilizá-los em sala de aula para o ensino da biodiversidade. “A gente acredita que temos que fazer ciência para a sociedade e não só para cientistas que entendem a linguagem científica. A ciência tem que ser feita para pessoas comuns, por isso fizemos este livro com uma linguagem muito simples, com termos técnicos bem esclarecidos para possibilitar um entendimento do que a gente propôs”, disse a professora Ana Lúcia Nunes.

“A maioria dos projetos que são feitos em Caxiuanã não trazem nenhum produto para a comunidade. Além do livro, deixamos um mostruário na Estação Científica para que os moradores da região possam visualizar melhor os aspectos morfológicos dos insetos”, complementou o professor Carlos Elias.

A programação da VII Olimpíada de Ciências de Caxiuanã começou no dia 19 de outubro e segue até o próximo dia 26. Confira abaixo as atividades:

*Este texto foi confeccionado de forma colaborativa com alunos das comunidades da zona rural de Portel e Melgaço durante a oficina “Jornalismo em mídias móveis: cobertura colaborativa”, ministrada pelo Serviço de Comunicação Social do Museu Goeldi. Estudantes envolvidos: Valdrick de Jesus Costa, Ananda Braga Nogueira, Naiara Pacheco, Adailton Pereira Cordeiro, Rodrigo Trindade de Oliveira, Odilon Costa Balieiro, Manoel de Freitas Balieiro, Alessandro Marques de Freitas e Geniel Jardim da Silva.