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De volta pra casa - duas obras raras são restituídas pela Polícia Federal ao Museu Goeldi
Agência Museu Goeldi – Às vésperas de comemorar 158 anos de existência, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) recebe de volta mais duas obras raras do conjunto roubado (40 in-fólios e 20 livros raros) em 2008 do acervo da instituição. As obras “Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome” e "Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae" foram entregues pelo delegado Cledson José da Silva, da Polícia Federal, ao diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, nesta quinta-feira, 3 de outubro, às 10h, em cerimônia na Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, localizada no Campus de Pesquisa da instituição.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Museu Paraense Emílio Goeldi_MCTI (@museuemiliogoeldi)
Obras recuperadas - “Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome” (Viagem no Chile, Peru e no Rio Amazonas), publicada em 1836, foi escrita pelo médico e botânico alemão Eduard Friedrich Poeppig. Este livro raro foi recuperado em dezembro de 2023 pela aduana argentina, durante uma operação em Buenos Aires. O conteúdo da obra é um relato detalhado da viagem de Poeppig por diversas províncias do Chile, Peru e Amazônia. A jornada incluiu a travessia dos Andes, uma imersão de dois anos entre os indígenas de Maynas e culminou na chegada ao Pará em abril de 1831. Poeppig foi o terceiro europeu a viajar por toda a extensão do Rio Amazonas e seu livro é um registro inestimável de uma Amazônia ainda pouco explorada e desconhecida para o resto do mundo no século XIX. A obra tem importância histórica e científica para o patrimônio nacional.
A segunda obra devolvida ao Museu Goeldi é "Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae" (Novas espécies de macacos e morcegos do Brasil), publicada em 1823, é de autoria de um dos mais importantes cientistas que estudaram a natureza brasileira no século XIX, o naturalista alemão Johann Baptist von Spix. Esta obra, escrita em latim, alemão e francês, documenta a expedição de Spix ao Brasil, ordenada pelo Rei da Baviera. O livro apresenta 38 pranchas litográficas que retratam diversas espécies de macacos e morcegos encontrados na Floresta Amazônica - o extenso legado de Spix, através dessa e outras obras, é um trabalho pioneiro sobre a fauna brasileira da época, de grande impacto científico. A publicação foi recuperada no primeiro semestre de 2024 pela Polícia Federal, em colaboração com a Unidade de Artes e Antiguidades da Polícia Metropolitana de Londres, a Scotland Yard.
Ambas as publicações devolvidas foram submetidas a perícia, que confirmou a procedência delas como pertencentes à coleção de obras raras e especiais do Museu Goeldi. A coleção, composta por quase 5 mil obras raras, é o cerne do acervo original da centenária Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna do Museu Goeldi, considerada de referência em assuntos amazônicos.
De volta pra casa, as obras de Poeppig e Spix passarão por um processo de higienização e quarentena até ser incorporada aos demais itens da Coleção de Obras Raras, que hoje está protegida por um sistema de segurança rigoroso e moderno. Com a devolução de hoje, o Museu Goeldi contabiliza 5 obras raras localizadas, sendo 4 devolvidas à coleção institucional.
O delegado da Polícia Federal, Cledson José da Silva manifestou o prazer de conhecer o acervo e o atual e moderno sistema de segurança da Biblioteca e da sala cofre da Coleção do Museu Goeldi. E explicou o papel da Polícia Federal na investigação sobre o rastreamento dos objetos furtados.
A atuação da Polícia Federal foi crucial para a reintegração do patrimônio ao Museu Goeldi, visto que a instituição desenvolve tanto o trabalho de inquérito policial quanto de cooperação internacional estabelecendo redes de cooperação e troca de informações com equipes de investigação estrangeiras, o que possibilitou rastrear as obras furtadas.
“A Polícia Federal brasileira é a responsável por realizar a atividade de Interpol. Por meio dessa rede internacional de atuação policial, é que a gente consegue e obtém a recuperação desse ativo histórico e cultural do estado do Pará, do país e do mundo”, pontuou o delegado Cledson.
Durante a cerimônia de devolução das obras raras, o diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, expressou sua gratidão às equipes da Polícia Federal, da aduana argentina e da Scotland Yard, além de outras instituições que auxiliaram na localização e resgate das obras. “A recuperação dos livros históricos simboliza não apenas uma vitória na proteção do patrimônio cultural brasileiro, mas também uma reafirmação do compromisso com a preservação da história e da ciência, e a importância da cooperação internacional no combate ao tráfico de arte e antiguidades”, enfatizou Gabas Júnior.
Para Rodrigo Paiva, chefe da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, do Museu Goeldi, além de seu valor científico, as obras resgatadas são uma conexão viva com o passado e com as expedições exploratórias que contribuíram significativamente para a compreensão da biodiversidade amazônica.
“Cada página devolvida ao Museu Goeldi representa a recuperação de fragmentos essenciais da memória histórica do Brasil e de sua rica diversidade natural”, destaca Paiva, muito feliz, assim como Berenice Barcelar, curadora da Coleção Obras Raras e Especiais do Museu Goeldi, com olhos marejados por recuperar dois velhos amigos.
Texto: Joice Santos com a colaboração de Rodrigo Paiva.