Notícias
Coleção de aves do Museu Goeldi é eleita a mais útil do Brasil
Agência Museu Goeldi – O Museu Emílio Goeldi mantém a mais antiga coleção ornitológica científica do Brasil. Iniciada em 1895, a coleção de aves agora recebeu mais um título: segundo a Revista Brasileira de Ornitologia , a Coleção Ornitológica Fernando Novaes é a mais útil do país. O ranking liderado pelo Museu Goeldi foi elaborado pelas pesquisadoras Carla Fontana , Thaiane Silva e Juliana Souza , da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Fontana, Silva e Souza, as autoras do artigo Brazilian bird collections: a decade after Aleixo & Straube (2007) , entrevistaram curadores e gestores de 35 coleções ornitológicas distribuídas em todas as regiões do país. Os acervos investigados reúnem 335.152 espécimes (incluindo peles, esqueletos, ovos e ninhos). O estudo atualizou os dados de um primeiro diagnóstico , desenvolvido em 2007, no qual foram analisadas 22 coleções. Ao todo, no Brasil, existem 59 coleções de aves.
Critérios e ranking – Dez critérios foram avaliados para a elaboração do ranking: tamanho total da coleção; relação entre o número de indivíduos e o ano de existência; presença de um curador ou ornitólogo; presença de um taxidermista; diversidade do acervo; presença de espécimes-tipo; digitalização da coleção; média de visitantes por ano; representatividade geográfica e citações da coleção em artigos científicos.
Com a melhor avaliação em todos os critérios, o Museu Goeldi liderou o ranking das coleções ornitológicas mais relevantes do Brasil, seguido do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo ( MZUSP ), Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul ( MCT ), Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( MN ) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia ( INPA ).
Resultados – Segundo as pesquisadoras, em dez anos, houve melhora significativa nas coleções ornitológicas brasileiras, das quais 80% se mantém com recursos federais. Apesar da expansão, ainda é nas regiões sul e sudeste que se concentra a maior parte das coleções de aves – cerca de 65%.
O Museu Emílio Goeldi, o Museu Nacional da UFRJ, e o Museu de Zoologia da USP, que possuem as três maiores e mais antigas coleções, detém, juntos, mais da metade de todos os espécimes depositados nas coleções de aves brasileiras e 83% dos espécimes-tipo (exemplar indicado na descrição original da espécie ou taxon ).
Outro ponto mereceu destaque no estudo: a digitalização do acervo. Estima-se que 85% das coleções ornitológicas brasileiras estão total ou parcialmente digitalizadas. Iniciativas como as do Sistema Brasileiro de Informações sobre Biodiversidade (SiBBr) e as do Centro de Referência em Informações Ambientais (CRIA) foram fundamentais para a consolidação desse processo. Apesar das melhorias, parte das coleções ornitológicas ainda sofre com deficiências como condições de manutenção, limitações no acesso às informações digitalizadas e falta de especialistas.
A coleção do MPEG – Os dados da pesquisa também destacam um crescimento de 35% na coleção ornitológica do Museu Goeldi. Totalmente digitalizado e com informações disponíveis na internet, o acervo que contava com 58.874 indivíduos no primeiro diagnóstico, agora possui 90 mil. Em relação aos espécimes-tipo (que servem de base para descrição de novas espécies), eram 80 na pesquisa de 2007 e no diagnóstico mais recente são 111, com destaque para táxons endêmicos da Amazônia.
“Nos últimos dez anos, a utilização da coleção ornitológica do Museu Emílio Goeldi pela sociedade aumentou muito, graças a uma política mista de disponibilização dos dados em plataformas públicas e investimentos direcionados na ampliação e qualificação do acervo”, destaca Alexandre Aleixo , curador da coleção ornitológica do Museu Goeldi.
“O Museu Goeldi nunca perdeu de vista seu papel central como museu de história natural na região de maior biodiversidade do planeta. Historicamente, a instituição abriga vários dos maiores acervos científicos da Amazônia e do Brasil e nunca se desviou do foco na preservação, ampliação e qualificação desses acervos, ao longo de mais de cem anos”, acrescenta Aleixo .
O diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Jr., complementa a informação do curador: “Apesar do Museu Goeldi não dispor de recursos orçamentários suficientes para garantir, satisfatoriamente, todas as ações que envolvem as coleções científicas, é inestimável o potencial da instituição, não apenas no estudo da biodiversidade, como também da sociodiversidade, principalmente pelas coleções que possui e pela qualificação de seu pessoal”.
Riscos – Os cortes orçamentários que vêm atingindo as universidades e institutos de pesquisa do Brasil também ameaçam a manutenção da coleção ornitológica do Museu Goeldi. Desde 2003, uma política pioneira aplicada ao setor realiza a coleta de material genético de todos os espécimes adicionados ao acervo, resultando num dos maiores bancos de material genético de aves do mundo – 27 mil amostras.
Atualmente, o acervo genético necessita de um sistema de congelamento via nitrogênio líquido. O material já foi comprado, mas ainda não foi instalado por falta de recursos, o que ameaça seriamente a coleção: “Se continuarmos nesse ritmo, com cortes crescentes de recursos de Ciência e Tecnologia no país, corremos o risco de não somente parar de crescer e se qualificar, mas retroceder e perder material de valor científico inestimável porque não temos nem como preservá-lo adequadamente”, alerta o curador que também ressalta a importância de investimentos nacionais para garantir a infraestrutura necessária.
Histórico – O naturalista e zoólogo suíço Emílio Goeldi foi o responsável por iniciar, em 1895, a coleção ornitológica do Museu Goeldi, a mais antiga do Brasil. A contribuição da ornitóloga e naturalista alemã Emilie Snethlage, no começo do século XX, foi fundamental para a consolidação do acervo, que assumiu importância internacional no estudo da avifauna amazônica.
No contexto de reestruturação do Museu Emílio Goeldi, em 1955, houve uma ampliação e modernização da coleção ornitológica, graças ao trabalho realizado pelo então curador Fernando C. Novaes (1955-1997), tendência seguida pelos curadores David C. Oren (1997-2001), Maria Luiza Videira (2001-2005) e Alexandre Aleixo (2005-atual).
A Coleção Ornitológica Fernando C. Novaes possui o segundo maior acervo do Brasil: 80 mil peles, 12.850 peças de meio líquido e quatro mil esqueletos. Além disso, possui a maior coleção de tecidos de aves silvestres do país, com mais de 27.500 amostras, acompanhando a tendência mundial de integrar acervos tradicionais a acervos voltados ao estudo de sistemática molecular e genética populacional.
O acervo da coleção de aves do Museu Emílio Goeldi tem relevância nacional e internacional, servindo de base para a descrição de novas espécies e diversas pesquisas científicas. Recentemente, uma parceria entre o Museu Goeldi e a Universidade de Toronto, no Canadá, permitiu o reconhecimento da primeira espécie da ave híbrida da Amazônia. O dançador de coroa dourada ( Lepidothrix vilasboasi ) se tornou a quarta espécie de ave híbrida registrada no mundo. Para saber mais, acesse o link .
Texto: Phillippe Sendas.