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Arqueologia em Carajás (PA) foi debatida por estudantes e pesquisadores
Agência Museu Goeldi – Um total de 15 palestras de pesquisadores, consultores e convidados, além de apresentações (orais e em pôsteres) de 13 bolsistas. Esse é o balanço do Simpósio do Projeto Arqueológico Carajás (PACA), que foi realizado de 1º a 3 de dezembro no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, em Belém. Coordenado pela instituição, o simpósio reuniu arqueólogos e especialistas de diferentes instituições e empresas que atuam na região da Serra dos Carajás, sudeste do Estado do Pará.
Luana Pena, estudante do quinto semestre do curso de Ciências Sociais da Universidade da Amazônia (UNAMA), é uma dessas bolsistas do PACA. “Até então eu não conhecia a arqueologia. Entrei no projeto para conhecê-la e estou me apaixonando. Tem sido bem gratificante”, conta.
A pesquisa de Luana consistiu em uma revisão bibliográfica, para uma análise crítica, do conceito de “cultura tropical”. Tudo isso a partir da distinção do conceito de “cultura de floresta tropical”. A construção teórica de “cultura tropical” admite que os povos pré-históricos, que sobreviviam da caça e da coleta na Amazônia, faziam adaptações no ambiente à sua volta e manejavam a composição da floresta para sobreviver, mesmo antes da agricultura ser desenvolvida. A segunda ideia, de “cultura tropical”, diz que seria impossível a sobrevivência desses povos sem a presença de produtos cultivados advindos da horticultura.
Descobertas - Além de trabalhos como o de Luana, que desenvolve suas primeiras pesquisas dentro da área da arqueologia, outros trabalhos de especialistas com longo percurso profissional na área também foram apresentados. Um deles é o da doutora Edithe Pereira, arqueóloga do MPEG. A convite do PACA, ela apresentou uma documentação digital de pinturas rupestres encontradas este ano na Serra dos Carajás, uma descoberta inédita para a região.
Coordenador do PACA, o doutor Marcos Pereira Magalhães diz que a realização do simpósio é importante para trocar informações com colegas de outras instituições e mostrar a produção de conhecimento dos chamados “projetos de contrato” – aqueles executados quando empresas com alguma atividade industrial são obrigadas a fazer determinados estudos ambientais e patrimoniais e contratam uma empresa ou instituição de pesquisa para conduzi-los.
Magalhães diz também que as evidências encontradas ao longo dos anos de pesquisa arqueológica em Carajás são importantes, por tratarem de populações e sociedades relacionadas à “cultura tropical”. Ele ressalta: por muito tempo, elas foram marginalizadas pela pesquisa arqueológica, por serem consideradas pouco sofisticadas. “Queremos mostrar que eles tinham relações sociais e econômicas complexas. E que, na verdade, teriam sido eles que iniciaram a domesticação de plantas, e inclusive o desenvolvimento da tecnologia cerâmica. Em Carajás temos [o registro] de uma população relacionada a esse processo histórico e que acreditamos que estavam manejando, há milhares de anos, o ambiente local”.
Arqueologia em Carajás - As pesquisas arqueológicas em Carajás tomaram impulso em 1983, quando o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), o Museu Goeldi e a então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), hoje denominada Vale, firmaram um convênio para estudar os impactos ambientais causados pela exploração de minério na região de Carajás. Na época, a equipe de Arqueologia do Museu desenvolveu um subprojeto de salvamento arqueológico para preservar elementos da memória pré-histórica da região.
Desde então, as pesquisas arqueológicas em Carajás indicam que, dentre outras coisas, a ocupação da região foi iniciada há milhares de anos, por populações já adaptadas aos recursos naturais da floresta, de modo a torná-la mais produtiva e “familiar” aos seus hábitos e visões sobre a natureza. Esses indícios contradizem outras teorias, que enfatizavam comportamentos mais passivos desses antigos habitantes, em vez de sua interferência no ambiente.
Texto: Uriel Pinho