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Aniversário levou 800 visitantes ao Parque Zoobotânico do Museu Goeldi
Agência Museu Goeldi - Cerca de 800 visitantes compareceram ao Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, na manhã de quinta-feira (6), entre autoridades, representantes empresariais e participantes dos projetos de educação da instituição, para celebrar os seus 150 anos. A cerimônia de aniversário teve um tom especial: ocorre na travessia de um tempo desafiador para a ciência no Brasil, mas com a reafirmação de um patrimônio de excelência científica, importância cultural e de valor afetivo para gerações de moradores e visitantes da Amazônia. Para a instituição científica mais antiga da região, o tempo multiplica não apenas seus anos de atividade: também desdobra seu alcance, amplia suas ações e aprofunda sua relação com o público.
A celebração incluiu o hasteamento da bandeira do Pará e do Brasil, falas dos gestores sobre o passado e futuro do Museu Goeldi, além da inauguração de novos espaços e exposições, plantios de mudas, performance artística e celebração pela entrega da nova pintura da Rocinha, tradicional área de exposições do parque. Houve ainda “Parabéns pra você” ao redor de dois bolos: um comestível e outro de flores regionais, que podiam ser levadas pelos visitantes.
Neste mês de aniversário, o Museu Goeldi também ganhou uma surpresa: uma doação do curador Paulo Herkenhoff. A obra foi feita por Oswaldo Goeldi, que é filho de Emilio Goeldi e é reconhecido por seus traços em xilogravura. O trabalho está exposto no Salão 150, mostra que comemora o aniversário da instituição.
Celebração - Marcelino Passos, de 68, veio da ilha de Mosqueiro trazendo os netos gêmeos, Wanderson Ruan e Wenderson Ryan, de 9 anos, para a celebração. “Faz muito tempo que não venho aqui. Quando vi no jornal que haveria a comemoração, achei que deveria trazer eles, porque eles são o futuro. São muito estudiosos e quero que eles estejam sempre por aqui”.
Wenderson e Wanderson haviam feito uma lista de animais para ver no Museu Goeldi, e se divertiam tentando pronunciar o nome científico da cotia ( Dasyprocta leporina ) e do jacaré-açu ( Melanosuchus niger ). Os dois estavam ansiosos para conhecer o Pavilhão Expositivo Domingos Soares Ferreira Penna, a Rocinha. É o prédio do século XIX que recebe as principais exposições do Museu - montadas para falar sobre a natureza e as sociedades da Amazônia.
Presentes - A revitalização da Rocinha foi um dos destaques da manhã. Por meio de uma parceria entre o Museu Goeldi, o Instituto Peabiru, a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) e a Fundação Pro Paz, do governo estadual, o prédio está sendo revitalizado por reeducandos do sistema penitenciário do Pará. Além de contribuírem com a revitalização do monumento, eles têm a oportunidade de redução de pena – além de acesso a um ofício que pode garantir fonte de renda ao se reinserirem socialmente.
Joel Pantoja é um desses reeducandos. De acordo com ele, houve alguns contratempos com o trabalho, mas a experiência foi única: “Tivemos que refazer a pintura após uma chuva. São muitos detalhes, não havia pintado um prédio desses antes. Mas é bom ver a surpresa nos olhos das pessoas. Espero que conservem e valorizem [a revitalização] não apenas pelo nosso trabalho, mas pelo que o museu representa”.
A revitalização da Rocinha foi possível graças à parceria com a Azko Nobel / Tintas Coral, que doou as tintas e a capacitação para a obra por meio do programa Tudo de Cor, ação que contou ainda com parceria das lojas diCasa na doação de materiais. Várias autoridades estiveram presentes para dar as pinceladas simbólicas, que marcam a revitalização não apenas da Rocinha, mas dos muros e das edificações históricas do parque. Entre os presentes estavam representantes da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), Consulado do Japão em Belém, Instituto Tecnológico Vale, Unimed e Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral) e Associação Comercial do Pará (ACP).
O evento contou ainda com a performance da artista conceitual Lúcia Gomes. A artista pinta cascalho (biscoito de massa doce em forma de cone) com tinta vermelha comestível e a inscrição "Amai-vos 150”. O alimento era então oferecido ao público, como maneira de destacar a afetividade pelo espaço do Museu Goeldi.
Outro marco da celebração foi o plantio de uma muda de Ubaia ( Eugenia patrisii ), pelo diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Jr., e pelo diretor do Instituto Peabiru, João Meirelles. Nativa da Amazônia central e ocidental, a árvore que marca os 150 anos do Museu Goeldi dá frutos vermelhos e brilhantes, de polpa espessa e aromática, com maturação em outubro e novembro.
Mostra afetiva - O Museu Goeldi também ganhou de presente, por intermédio da Susipe, um projeto executivo gratuito para o Espaço Raízes, executado pela SMP Engenharia. O Espaço abrigava atividades lúdicas e educativas, mas atualmente está fechado, por problemas no piso e no telhado. Outro presente recebido pelo Museu Goeldi foi a abertura do “Salão 150 anos”. O salão comemorativo é dedicado às ações, itens e vídeos especiais do aniversário, além de abrigar “Museu e Você”, uma mostra afetiva formada por fotografias feitas por visitantes do Museu Goeldi.
Simultaneamente, houve a inauguração do Espaço Goeldi 150, uma parceria do programa ProGoeldi com a Imerys Caulim para a reabertura da Livraria do Museu. Neste local, o visitante pode fazer doações para a campanha de revitalização do Parque Zoobotânico e receber recompensas (camisetas, chaveiros etc). Também podem ser encontrados objetos inspirados nas culturas amazônicas e artesanato regional. Ao lado da Rocinha, durante o dia de aniversário funcionou o Café Beneficente: lá, os visitantes podiam apreciar a culinária regional e ao mesmo tempo contribuir para a revitalização do parque. A montagem do Café Beneficente não é uma atração fixa do Museu Goeldi, mas poderá voltar a ocorrer sempre em outras ocasiões – sempre com o intuito de ajudar a reunir fundos para a manutenção do Parque Zoobotânico.
“A capacidade de agregar resultados das nossas pesquisas ao patrimônio natural e histórico do Parque Zoobotânico, e de reunir parceiros tão variados, sempre dispostos a parcerias, com certeza é o que garantirá um futuro cada vez mais ativo para o Museu Goeldi. Nos próximos 150 anos, espero que nos consolidemos cada vez mais como uma referência sobre a Amazônia para o estado brasileiro”, pontuou Nilson Gabas, diretor da instituição, que destacou também a importância da união, tendo em mente o momento de crise econômica e política que o País vive.
Desafios - Nilson Gabas parabenizou a todos os colaboradores do Museu pela dedicação, no momento em que a instituição tem tido seu orçamento reduzido. De pouco mais de R$ 11,4 milhões em 2012, o orçamento do Museu Goeldi caiu para R$ 8,6 milhões em 2016. Isso porque o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) complementou o orçamento em R$ 500 mil. Caso contrário, a queda bruta de orçamento – que já é de quase um quarto (24,30%), em quatro anos - seria ainda maior.
“Enquanto isso, a tendência das despesas tem sido sempre de aumento, por conta de reajustes nos custos de mão de obra e material, entre outros”, avaliou Roseny Mendes, Coordenadora de Administração do Museu Goeldi.
Ainda de acordo com Roseny, desse montante, o Parque Zoobotânico consome, em média, de R$ 3,5 milhões a R$ 4 milhões por ano. Nessa conta, não entram investimentos nem reparos, mas apenas os custos básicos com manutenção, como segurança, energia elétrica e alimentação dos animais, entre outros.
Por conta da redução orçamentária, já foi preciso enxugar em 34% o número de terceirizados da instituição - mesmo apesar da grande demanda por pessoal. Entre o final de 2016 até meados de 2017, por exemplo, calcula-se que haja 30% menos servidores no Museu Goeldi, por motivo de aposentadoria. E não há previsão de concurso.
Nesse sentido, o poder agregador do Museu Goeldi foi outro destaque da celebração, do ponto de vista afetivo e científico. A titular da Secretaria de Estado de Integração de Políticas Sociais do Pará, Izabela Jatene, destacou seu percurso na instituição. “Na adolescência, sonhava em trabalhar no Museu Goeldi. Fui bolsista, aprendi muito, descobri meus interesses. Antes disso, já vinha aqui quando criança. Então, acredito que a memória é nosso grande patrimônio. É uma honra estar sempre aqui”.
Já o secretário Alex Fiúza de Mello, que responde pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Pará, destacou, junto ao diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas, que as instituições sobrevivem às crises e ao tempo justamente porque são maiores que as pessoas. “São construídas coletivamente e persistem”, pontuou Fiúza de Mello.
A falta de recursos é um desafio, mas não inviabiliza o cumprimento da missão do Museu Goeldi, que ao longo de 150 anos, se multiplicou e ampliou. Atualmente a instituição mantém 255 projetos de pesquisa e educação - não apenas no Pará, mas também nos nove estados da Amazônia Legal e em países como Guiana e Peru. O museu desenvolve ainda seis programas de pós-graduação: cinco em parceria com outras instituições e um de maneira autônoma. Todos abordando a Amazônia, sua natureza e sociedade.
Referência em pesquisa - No Brasil, além do Parque Zoobotânico, que é a sua base de educação científica e ambiental, o Museu Goeldi também mantém a Estação Científica Ferreira Penna, no Marajó; um Campus de Pesquisa, em Belém; e o Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP), que está funcionando como campus avançado do Museu Goeldi no Mato Grosso.
Com status de instituto de pesquisa ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do Brasil (MCTIC), o Museu Paraense Emílio Goeldi é uma das três maiores instituições detentoras de coleções científicas do País. São cerca de 4,5 milhões de itens tombados e 18 coleções científicas ligadas à etnografia, à arqueologia e à linguística, além de coleções minerais e fósseis, documentais e biológicas (esta última com 50 sub-coleções).
Atualmente, o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi recebe cerca de 400 mil visitantes por ano. A área verde instalada no centro de Belém é proporcional a 5,4 campos de futebol. Lá vivem 1.790 animais, soltos e em viveiros, e mais de 500 espécies vegetais. Tudo isso entre monumentos históricos como o icônico prédio da “Rocinha”, típica casa de campo das elites do século XIX e que agora é o Pavilhão Expositivo Domingos Soares Ferreira Penna.
A criação do Parque Zoobotânico esteve sob responsabilidade do naturalista suíço Emilio Augusto Goeldi (1859-1917), que juntou em um único espaço laboratórios, coleções científicas e um circuito de entretenimento e “instrução” composto principalmente de fauna silvestre, espécies vegetais e monumentos europeizados. Foi um sucesso absoluto.
Sob direção de Goeldi, a instituição atingiu popularidade massiva entre não especialistas e reconhecimento internacional entre a comunidade científica, como referência em pesquisa sobre a sociobiodiversidade amazônica. Por sua contribuição decisiva, Emílio Goeldi empresta seu nome para o Museu Paraense desde o início do século XX.
História - Antes da existência do parque, o atual Museu Paraense Emílio Goeldi já existia como “Associação Filomática”, criada em 1866, por iniciativa do mineiro Domingos Soares Ferreira. Em seu estatuto, constavam a criação de uma biblioteca e a manutenção e exposição de coleções científicas em diversas áreas do conhecimento.
Desde então, o Museu Goeldi sofreu grandes mudanças e atravessou a queda do Império do Brasil, duas guerras mundiais e diversas crises. Algumas das quais quase significaram seu fim: na década de 1920, com a estagnação da economia amazônica, e na década de 1940, com novo período de crise econômica após a segunda guerra mundial.
A partir da década de 1950, com a criação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), novas perspectivas se abriram. A instituição foi incluída na estrutura do recém-criado Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), onde ficaria até 1983. O Museu Paraense intensificava suas pesquisas e investia no salvamento de suas coleções.
Em 1978, o Museu Goeldi começa a se desdobrar em outras bases físicas: seu Campus de Pesquisa, também em Belém; a Estação Científica Ferreira Penna, inaugurada em 1993, em plena Floresta Nacional de Caxiuanã (Marajó) e o futuro Instituto de Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP), desde 2013 estruturado como campus avançado do Museu Goeldi no Mato Grosso.
Texto: Uriel Pinho