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Amazônia tem 14 mil espécies de plantas com sementes
Agência Museu Goeldi – A Amazônia abriga a maior floresta tropical úmida do mundo, com valor inestimável para a manutenção do equilíbrio do planeta. Um dos maiores abrigos de biodiversidade, a região sempre atraiu a atenção de cientistas, conservacionistas e da população mundial. Ainda assim, não se sabia ao certo o número de espécies de plantas conhecidas em suas florestas, com estimativas variando de dezenas a centenas de milhares apenas para as angiospermas, ou seja, as plantas com flores.
Uma equipe de 44 cientistas do Brasil, Europa e Estados Unidos realizou um levantamento detalhado em coleções de herbários e museus, revelando que só as plantas com sementes (angiospermas e gimnospermas) chegam a 14.003 espécies na bacia amazônica. Menos da metade dessas espécies, cerca de 6.700, são árvores, um número bem menor do que aqueles apresentados em trabalhos publicados até agora. O estudo mostra ainda que ervas, arbustos e epífitas – plantas que, como algumas orquídeas, vivem sobre outras plantas – são igualmente diversos, embora sejam frequentemente negligenciados em estudos de diversidade tropical.
Pesquisador e curador do Herbário do Museu Goeldi , Dr. Pedro Lage Viana , fez parte da equipe que realizou o levantamento e destaca a importância desse estudo inédito: “É a primeira vez que é publicada uma lista florística, verificada por um grande grupo de taxonomistas, que abrange a floresta amazônica em toda a sua extensão, incluindo as áreas de outros países, além do Brasil. Essa lista, com rigor taxonômico, traz uma noção realista da riqueza florística conhecida da Amazônia e pode ser útil para subsidiar estimativas de forma mais precisa”, afirma.
Estudos que buscam compreender a origem, evolução e ecologia dessa região hiperdiversa têm sido limitados pela falta de informações básicas confiáveis, como a composição de espécies da flora amazônica. Esse conhecimento sobre a biodiversidade é fundamental para uma série de medidas, como a conservação das áreas prioritárias, além de ser um avanço nos estudos evolutivos e ecológicos que buscam compreender a própria formação da Amazônia.
“Neste trabalho não foram avaliadas questões quantitativas sobre abundância das espécies, mas, foi elaborada uma avaliação qualitativa rigorosa da composição da flora da floresta amazônica. A base documental dessa lista são espécimes botânicos depositados em herbários com identificação certificada por especialistas. A coleção botânica do Museu Emílio Goeldi é um dos mais importantes repositórios dessas informações sobre a flora da região e foi fundamental para a realização desse estudo”, acrescenta Viana.
O trabalho foi liderado pelo Dr. Domingos Silva Cardoso , da Universidade Federal da Bahia, e pela Dra. Tiina Särkinen, do Jardim Botânico Real de Edimburgo (Escócia), e teve ainda a colaboração de diversos botânicos envolvidos no estudo da flora amazônica – dos 44 pesquisadores envolvidos, 26 são brasileiros. Um diferencial desse estudo, segundo os autores, foi o uso de informações taxonômicas atualizadas, verificadas por centenas de especialistas do mundo todo durante a produção de catálogos de espécies de plantas nacionais, como o Flora do Brasil 2020 .
“Essa plataforma digital representa o acúmulo de centenas de anos de trabalhos de campo na região, o esforço de centenas de taxonomistas. Catálogos como esse, taxonomicamente validados, fornecem bases sólidas para o entendimento sobre a evolução e a ecologia dessa floresta monumental frente às mudanças climáticas e outras mudanças ambientais", destacam Domingos e Tiina.
Os autores enfatizaram que a publicação dessa lista não significa que a flora amazônica já esteja completamente conhecida. Muitas novas espécies de plantas são descobertas todos os anos, tanto em campo como em herbários e museus, e grande parte da região continua pouco conhecida ou mesmo inexplorada. “As diferenças entre as estimativas anteriores e os números apresentados neste novo estudo não diminuem de forma alguma a Amazônia como reconhecida pela sua magnífica diversidade de plantas; elas apenas ressaltam a enorme lacuna no conhecimento taxonômico que ainda precisamos preencher. Sem essa base científica podemos estar colocando em risco nossa biodiversidade, patrimônio único e insubstituível, simplesmente por falta de um conhecimento realmente qualificado”, alerta Domingos.
O resultado dessa avaliação da composição da flora da Amazônia foi divulgado recentemente em artigo publicado na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNSA), periódico oficial da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Confira o artigo na íntegra .