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A pupunheira e seus usos práticos no dia-a-dia dos paraenses
Agência Museu Goeldi – Todo ano é escolhida uma árvore que habita o Parque Zoobotânico - de uma variedade estimada em 150 exemplares – para ser homenageada na Festa da Árvore. Este ano a pupunheira ( Bactris gasipaes Kunth) foi a escolhida por ser uma fruta consumida regionalmente e majoritariamente produzida em pequena escala por agricultores familiares locais.
A Festa, que aconteceu nos dias 17 e 20, destacou a importância desta palmeira na história e no dia-a-dia dos habitantes da região norte. Vera Bastos, engenheira agrônoma do Serviço do Parque Zoobotânico (SPZ), explica que é importante um evento educativo para homenagear uma árvore que tenha produtos com importância cultural tão grande: “As crianças ainda não tem esse contato [com a árvore], é um hábito que se perdeu”.
Na alimentação - O paladar próprio da pupunha é oleoso e amidoso - o que lembra o gosto de milho verde -, mas as duas propriedades oscilam dependendo do período e da espécie de pupunheira. Quando cozida com sal, o gosto forte do fruto fica mais evidente. Depois do preparo, o acompanhamento fica à escolha de quem consome: seja o tradicional cafezinho, manteiga e mel de abelha ou pratos gastronômicos mais elaborados. Dependendo da criatividade, é possível fazer nhoque, purê, pães, geléias e outros tipos de preparação com base de polpa e farinha de pupunha.
O livro “Frutas Comestíveis da Amazônia” do Dr. Paulo B. Cavalcante, publicado pelo Museu Goeldi, também assinala a história das práticas relacionadas à fruta e o seu cultivo pelas populações indígenas da região: “essa importância passou a ser reconhecida através das celebrações festivas, com que muitas tribos marcavam o início da colheita”.
O valor nutricional da pupunha também é relevante quando se fala da fruta como base de dieta de populações antigas e componente da alimentação do paraense hoje em dia. Além disso, ela é rica em proteínas e vitamina A, podendo ser consumida de várias formas. Cozida com café, em forma de farinha para preparos como pães e tortas e seu álcool.
Marcilene Magno, feirante há mais de 15 anos, explica que o cozimento da pupunha é feito somente com água e sal porque a fruta tem uma quantidade muito grande de óleos naturais. A fruta vem, em sua maioria, da agricultura familiar, o que estimula o cultivo racional potencializando suas possibilidades econômicas. Isso acontece porque é diversidade dos exemplares de um mesmo cacho é enorme e é difícil comercializar uma fruta tão variável plantando-a em larga escala. A feirante vai apertando as pupunhas com o polegar e diz: “Falam que a pupunha tem que ser roída, a pupunha tem que fazer aquilo - às vezes é até mito, sabe? É só saber cozinhar mesmo”.
Produção - A produção em larga escala da palmeira tem como foco a produção do palmito-pupunha. No geral, a planta cultivada para a extração do palmito é inerme, ou seja, sem os espinhos que demarcam o visual da pupunheira. Os frutos dessas árvores alimentam o mercado da entressafra, que acontece entre julho e dezembro, e são mais secos que as das espécies de pupunheira com espinhos.
Outros usos dessa pupunha mais seca incluem a preparação de ração para animais por ser muito nutritiva. “No Parque os psitacídeos (aves de cabeça robusta que tem bicos curvos especializados em quebrar sementes, como o papagaio) se alimentam e fazem a dispersão da pupunha” conta Lúcia Santana, gestora Serviço de Educação e Extensão (SEC), que faz parte da organização da Festa da Árvore.
Tradicionalmente cultivada por populações indígenas americanas, a origem precisa da árvore ainda é motivo de debate, como também relata o livro “Frutas Comestíveis da Amazônia”. De acordo com a publicação, a pupunheira que é atualmente cultivada teria surgido a partir do cruzamento de duas espécies selvagens, uma delas a Guilielma microcarpa Huber. A variação, encontrada no Alto Purus, também está plantada no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.
Homenagem no Goeldi - A programação da Festa da Árvore, que começou dia 17 com uma palestra do Dr. Urano de Carvalho, foi encerrada domingo (20) com atividades educativas. As atrações incluíram a Trilha das Palmeiras, uma feira de artesanato, apresentações do “Programa Natureza” e atividades da Secretaria Municipal de Saúde, com teatro de fantoches e pintura infantil, como parte de campanha de combate ao mosquito Aedes aegypti.
A Trilha das Palmeiras foi guiada pelo engenheiro agrônomo do Parque Zoobotânico Amir Lima, o educador Alcemir Aires e Ana Cláudia Silva, do Serviço de Educação e Extensão (SEC). “O Museu Goeldi vem para trabalhar essa conservação aliando cultura e ambiente. Principalmente também proporciona discussão sobre a geração de renda das nossas frutas”, afirma Lúcia.
A organizadora do evento também explica que pautar estes temas são imprescindíveis para perceber que o Pará é “um estado rico no quesito alimentação e não devemos esquecer as nossas tradições apesar de todas essas inovações, do desmatamento... Se você acaba com a cultura de uma espécie, você acaba com um rito cultural humano”.
Assista neste link , ou no canal do MPEG no Youtube , o vídeo que mostra como foi o último dia da Festa da Árvore!
Texto: Juliana Araujo.