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152 anos de ciência sobre as culturas indígenas
Agência Museu Goeldi – No Brasil, a população autodeclarada indígena é de quase 900 mil índios. Desse grupo, 40 mil pessoas estão no Pará, segundo dados do IBGE . Fundado em 1866, o Museu Emílio Goeldi reúne acervos importantes e pesquisadores dedicados à compreensão dos diferentes aspectos das culturas indígenas, o que reafirma a vocação da instituição como um espaço para o entendimento e a valorização dos povos indígenas da Amazônia.
Neste 19 de abril , Dia do Índio, reunimos alguns dos trabalhos realizados recentemente por pesquisadores do Museu Goeldi, ressaltando a importância dos acervos da instituição para os estudos sobre as culturas indígenas da região amazônica.
Aviamento – Em 2017, o antropólogo e historiador Márcio Meira defendeu a tese de doutorado “A persistência do aviamento: colonialismo e história indígena no noroeste amazônico”, dentro das atividades do programa de Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). O ex-presidente da Funai revelou minúcias antropológicas e históricas sobre o violento sistema de escravidão por dívida e o impacto na vida dos povos indígenas da região.
“Sempre me surpreendo com a enorme criatividade e capacidade de reinvenção dos povos indígenas, mesmo diante de tantas barbáries que caracterizam o processo colonial com o qual se confrontaram. Mas, me surpreendo ainda mais com o cinismo dos ‘vencedores’ de sempre”, desabafa o pesquisador. Para saber mais sobre o trabalho, acesse o link .
Línguas – No Brasil, aproximadamente 150 línguas indígenas correm o risco de desaparecer e, a maioria delas, está na Amazônia. A Reserva Técnica de Linguística do Museu Goeldi foi iniciada na década de 1960. A instituição lidera os estudos de linguística na região com um acervo de registros audiovisuais de falas, cantos e outras formas de expressão linguística e cultural de 80 povos indígenas.
Os estudos de línguas indígenas realizados no Museu Goeldi têm privilegiado a pesquisa de campo, a descrição e a documentação como linhas de atuação. A aproximação com os grupos indígenas, mesmo com aqueles que vivem em áreas mais distantes, possibilita a compreensão da língua dentro do seu contexto sociocultural, e permite capturar a forma como ela é utilizada no cotidiano das comunidades.
Além de documentar as línguas, os pesquisadores do Museu Emílio Goeldi organizam gramáticas, dicionários e coletâneas de textos, contribuindo para a preservação desse universo cultural e possibilitando que as novas gerações também o conheçam. Para conhecer parte do acervo de línguas indígenas do Museu Goeldi, consulte o catálogo digital .
Patrimônio indígena – Entre os artigos publicados na última edição de 2017 do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas está o trabalho “Museus, coleções etnográficas e a busca do diálogo intercultural”. Uma das autoras é a pesquisadora do Museu Goeldi, Lucia Hussak . O artigo destaca aspectos relacionados ao patrimônio cultural indígena resguardado em museus e suas coleções etnográficas.
Segundo as pesquisadoras, apesar dos museus terem conquistado um papel central no panorama político e cultural do país, “muitas instituições museais permanecem como territórios que ainda atestam uma incomensurável distância entre os povos indígenas, as populações tradicionais e as coleções, cujos componentes foram produzidos, justamente, pelos antepassados dessas pessoas”. Leia o artigo completo .
No Museu Goeldi, a Reserva Técnica Curt Nimuendajú abriga o acervo etnográfico, que é composto por mais de 15 mil objetos oriundos de 120 povos indígenas, principalmente da Amazônia brasileira. Em menor proporção, objetos da Amazônia peruana e colombiana também fazem parte do acervo. Na Reserva Etnográfica do Museu Goeldi são desenvolvidos projetos colaborativos com povos indígenas e populações tradicionais, além de pesquisas compartilhadas sobre cultura material.
A Reserva Técnica Ferreira Mário Simões reúne o acervo arqueológico, fundamental para compreender a vida e a cultura dos povos que habitaram a Amazônia desde a pré-história. São quase 120 mil objetos e aproximadamente dois milhões de fragmentos procedentes de diversas regiões da Amazônia. A maior parte do acervo é formada por coleções de cerâmicas arqueológicas (vasilhas, urnas funerárias, estatuetas etc.), contando também com artefatos líticos (como pontas de flecha, lâminas de machado, muiraquitãs etc.), faianças, vidros, metais e materiais osteológicos – ossos humanos e animais.