Notícias
150 anos de estudos botânicos na Amazônia brasileira
Agência Museu Goeldi – Entre o castelo de pedra e a esquina da Travessa 9 de Janeiro, um monumento pode passar quase despercebido no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, em Belém: a coluna de meio-busto dos alemães Karl Martius e Johann Spix.Os dois foram autores de uma obra essencial da Botânica: Flora brasiliensis , fruto de uma jornada de três anos dos naturalistas pelo Brasil no século XIX.
Inaugurada em 1908, a “Herma de Spix e Martius” é um símbolo da relevância dos estudos botânicos para o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), uma história que remonta 150 anos de várias descobertas e contribuições para a Amazônia.
“Martius e Spix abriram o caminho da pesquisa das plantas no Brasil, um caminho que continuamos seguindo”, disse Ricardo Secco , doutor em Ciências Biológicas, na palestra “A Botânica em 150 anos de Museu Goeldi”. O evento abriu a programação da 14ª Semana de Museusno Goeldi, nessa segunda-feira (16).
O palestrante e botânico Ricardo Secco, pesquisador que integra a instituição desde a década de 1970, traçou um percurso histórico do estudo de plantas nos biomas amazônicos, foco de interesse do Museu Goeldi desde sua criação, em 1866.
Foram destacados grandes nomes que ajudaram a construir a área de Botânica no Goeldi. Personalidades como o botânico suíço Jacques Huber (1867-1914). Huber foi um estudioso da árvore da seringueira, no auge do comércio da borracha no Pará, e um dos primeiros diretores do Museu. Ele teve papel decisivo para a criação do Herbário, em 1895. O Herbário do Museu Goeldi é o primeiro da região amazônica e o terceiro mais antigo do Brasil.
À figura de Huber no Goeldi, seguiram a de ilustres botânicos de formação e ofício como Rodolfo Siqueira Rodrigues e Adolpho Ducke, um dos maiores conhecedores da flora regional, responsável pela descrição de um universo de espécies, famílias e gêneros de plantas na Amazônia. O palestrante também destacou o trabalho de especialistas como João Murça Pires e Paulo Cavalcante, que durante muitos anos foi chefe da Botânica no Museu. “Pioneiro no estudos na Serra dos Carajás, Paulo Cavalcante escreveu um dos maiores clássicos da literatura botânica: ‘ Frutas Comestíveis na Amazônia ’”, afirmou Ricardo Secco.
Projeto Flora – Na metade dos anos 1970,o então Departamento de Botânica no Museu Goeldi passou por grandes mudanças traduzidas em um nome: Projeto Flora. Criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto teve como missão a pesquisa sobre a vegetação da flora, com coletas botânicas em áreas pouco conhecidas e impactadas pelos grandes projetos de desenvolvimento que estavam se instalando, durante a ditadura civil-militar. Para o Museu Paraense Emílio Goeldi, doze profissionais da Botânica foram contratados por concurso, dos quais dez se estabeleceram e nas próximas décadas expandiriam as investigações e registros sobre a flora nativa, seguindo um outro objeto do Projeto Flora: e a formação de centros de excelência em botânica nas unidades federativas. Uma dessas pesquisadoras foi a bióloga Maria de Nazaré do Carmo Bastos , a segunda palestrante do dia . “Foi uma expansão histórica no quadro de pesquisadores do Museu. Novos botânicos e taxonomistas foram formados através do projeto”, lembra.
Maria de Nazaré ressaltou mudanças para a área também no início do século XIX, como a evolução de Departamento em Coordenação de Botânica e o surgimento do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas: Botânica Tropical do Museu Goeldi, em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). “Eu acho que nesses 150 anos nós conseguimos cumprir a missão do Museu e principalmente a nossa importância de desenvolver estudos científicos na área de Botânica, tais como taxonomia, morfologia, ecologia, fitoquímica, etnobotânica,contribuindo para a informação sobre a biodiversidade da região amazônica. Com muito orgulho eu posso dizer que faço parte dessa história”, afirmou a pesquisadora.
Texto: João Cunha