Pedro é biólogo, especialista no estudo de animais, ou seja, a zoologia. A maioria dos projetos focam em anfíbios e répteis, um ramo da zoologia conhecido como herpetologia. Já descreveu mais de 30 espécies de anfíbios e lagartos e além de ser um grande conhecedor da diversidade biológica da amazônia, também atua como fotógrafo de natureza e vida selvagem. O interesse pela área iniciou na graduação, a partir do primeiro semestre de curso, e logo o fascínio pelos lagartos se transformou em curiosidade científica.
O trabalho que Pedro e os alunos desenvolvem usam vastas informações de dados genéticos e anatomia. Geralmente, além das informações obtidas a partir da observação dos bichos na natureza, buscam entender os processos que geraram e mantém a enorme diversidade biológica que existe no planeta hoje. "A pesquisa do meu grupo de trabalho, que envolve diversos colaboradores e alunos, foca no estudo, documentação e conservação da diversidade de espécies nas florestas tropicais", explica o cientista.
Com a fotografia, Pedro mostra a beleza dos animais e plantas para que cada vez mais as pessoas possam se importar com a causa ambiental e conta que já conseguiu chamar atenção para a importância dos animais que pesquisa através das fotos. "A fotografia tem esse poder, de chamar atenção. Ao fazer imagens atrativas de animais que a população conhece muito pouco, ou desconhece totalmente, consigo mostrar que cada espécie pode ter uma beleza única. A fotografia aliada a informações sobre a espécie e sobre seu ambiente tem o poder até de mudar o comportamento das pessoas", pontua.
Falta de incentivos na ciência prejudica no interesse do aluno em ser pesquisador
Cada um dos cinco cientistas premiados receberam um prêmio no valor de $100.000 (cem mil dólares) para desenvolver o trabalho, aprofundar as pesquisas e aumentar o potencial de impacto das descobertas. Para o pesquisador, a premiação é um reconhecimento de muito esforço e estudo feito da biodiversidade e poderá impactar na formação de alunos e futuros pesquisadores.
"Acredito que esses prêmios que já recebi impactam sempre positivamente, pois evidenciam a excelência da pesquisa. Isso pode, entre outras coisas, facilitar a aquisição de recursos e a aprovação de novos projetos com agências de fomento do Brasil e do exterior. O prêmio é um enorme estímulo para continuarmos os nossos esforços e uma indicação de que estamos no caminho certo. Ele demonstra também que biólogos aqui no Brasil estão realizando pesquisa de qualidade, reconhecida internacionalmente", celebra Pedro.
Os cortes orçamentários nas pesquisas no país sofrem com constantes e em diversos momentos, Pedro conta que chegou a desanimar, mas nunca em desistir da ciência. "A pesquisa no Brasil nunca foi levada a sério como deveria, mas o problema é que agora estamos chegando ao fundo do poço. Sucateamento deliberado das universidades e institutos de pesquisa, campanhas de descrédito à ciência, falta de vagas de trabalho, cortes das bolsas de estudo e redução nas verbas de fomento à pesquisa. Fica difícil fazer qualquer coisa desse jeito. Além da pouca verba, a política e a burocracia atrapalham muito", desabafa.
Amor pela natureza é compartilhado pela família
A esposa do cientista, Silvia Pavan, também é uma pesquisadora premiada. Eles compartilham a curiosidade pelos animais e colaborações em projetos de pesquisa. Ao falar dela, Pedro não mede elogios e escancara a admiração pela companheira. "A Silvia é uma pesquisadora completa, em diversos aspectos muito melhor do que eu. Ela recebeu alguns prêmios pela sua pesquisa com a diversidade e evolução de mamíferos. É um prazer enorme poder colaborar com ela em projetos de pesquisa, pois é uma cientista extremamente dedicada e inteligente. Já tivemos oportunidade de realizar diversas expedições científicas juntos. Recentemente, estivemos juntos na Estação Científica Ferreira Pena, base de pesquisa do Museu Goeldi, realizando uma pesquisa financiada pela National Geographic. É um privilégio poder estar em família", comemora.
A aparência dos animais que Pedro Peloso estuda não são dos mais atrativos, mas ele acredita que isso não influencia nas políticas de conservação, e sim na hora de fazer campanhas de educação ambiental. "É impossível relevar o fato de que muitas pessoas achem sapos e pererecas nojentos, ou convencê-las de que serpentes são animais incríveis do ponto de vista evolutivo – a verdade é que muita gente tem medo de cobra. As pessoas entendem melhor que precisamos proteger os macacos, araras ou golfinhos, do que a necessidade de preservar aranhas, morcegos e lagartixas. Temos que trabalhar para tentar mudar essa visão, e esse é um trabalho que faço com orgulho", afirma.
Pedro é natural de Brasília. Essa é a terceira passagem do cientista por Belém. Ele também é Doutor em Biologia Comparada pelo Museu Americano de História Natural (EUA) e mestre em Zoologia pelo Museu Paraense Emílio Goeldi/Universidade Federal do Pará (UFPA). Para a geração de jovens pesquisadores que estão vivendo momentos desmotivadores no Brasil, ele aconselha "Trabalhe bastante e tente seguir estudando coisas que sejam do seu interesse. Recomendo também que nunca deixem de investir na aquisição de cada vez mais conhecimento, através de muita leitura e discussões com colegas. O reconhecimento de quem se esforça virá com o tempo", finaliza.
(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)