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Museu - Pesquisa confirma morte de 17 milhões de vertebrados
Publicado em: 16 de dezembro de 2021
Por Elisangela Marcoski
Nesta quinta-feira (16), a revista “Nature” divulgado um estudo brasileiro realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, de universidades e de organização não governamentais que estima a morte de cerca de 17 milhões de animais vertebrados em consequência direta das queimadas no Pantanal no ano de 2020. De acordo com a pesquisa as vítimas mais recorrentes foram as pequenas cobras, principalmente as aquáticas: mais de 9 milhões de mortes.
Os pesquisadores falaram sobre o trabalho pioneiro no uso da “técnica de amostra de distâncias em linhas” para calcular mortes de animais em queimadas. A metodologia é baseada nos chamados transectos: trilhas em linha reta através de áreas pré-determinadas pelos focos de incêndio no bioma. Cada linha percorrida tinha entre 500m e 3km. O grupo percorreu 114 km de transectos.
Através destes trajetos lineares, as carcaças avistadas eram registradas com datas e coordenadas geográficas, assim como a distância perpendicular de cada uma delas em relação à linha de referência. Ou seja, quanto mais longe do transecto, menor a quantidade de animais encontrados.
Ao conhecer o comportamento dessa probabilidade, os pesquisadores conseguiram elaborar um modelo matemático para estimar o número de carcaças presentes na área. Isso permitiu a modelagem de estimativas que o grupo considerou confiáveis para o cálculo da densidade de animais mortos.
“O método é diferente, ele se baseia no conhecimento da probabilidade de detectar um animal a diferentes distâncias da linha. É uma estratégia moderna para corrigir o erro de “detectabilidade”, que é a probabilidade de enxergar o animal quando ele está presente na área em que se passa”, explica Walfrido Moraes Tomas, pesquisador da Embrapa Pantanal e coordenador do estudo.
“Esses animais possuem baixa capacidade de locomoção, o que dificulta a fuga durante um incêndio. Durante a estação seca costumam ficar enterradas em áreas de campo inundáveis. Quando o fogo atinge uma área úmida seca é bastante comum ocorrer o incêndio de turfa, que consome a espessa camada de matéria orgânica. Esse tipo de fogo é de difícil combate e detecção, podendo queimar por semanas e atingir os animais que habitam esses ambientes”, informou uma das participantes da pesquisa, a bióloga Gabriela do Valle Alvarenga, pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A biodiversidade do Pantanal é composta por mais de 2 mil espécies de plantas, 269 peixes, 131 répteis, 57 anfíbios, 580 aves e pelo menos 174 mamíferos. O número de invertebrados é desconhecido.
Grandes vertebrados como cervos, veados, antas e onças não foram observados a partir dos transectos dada a baixa densidade populacional dessas espécies no Pantanal. Mas foram frequentemente encontrados durante o trabalho de combate aos incêndios, mortos ou feridos perto de estradas.
O estudo alerta que as mudanças climáticas provocadas pelas ações do homem têm influenciado a frequência, a duração e a intensidade das secas na região. O impacto de seguidas queimadas pode ser catastrófico e empobrecer o ecossistema, que já é frágil durante o período sem chuvas. O fogo faz parte da dinâmica natural do Pantanal, mas não nessas proporções.
Perante a possibilidade de novos desastres na região, os pesquisadores esperam com o estudo ajudar a dimensionar os impactos cumulativos causados por incêndios recorrentes no bioma.
“Esses números dão uma ideia do cenário das mudanças climáticas. A probabilidade de ter incêndios como esses é alta. Isso pode acontecer, acontecer, e acontecer, destruindo o ecossistema”, relata o coordenador Walfrido Moraes Tomas.
O trabalho contou com pesquisadores da Embrapa Pantanal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), Universidade do Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFMS), Fundação Meio Ambiente do Pantanal, Instituto Smithsonian (dos Estados Unidos), entre outras instituições.
O ação contou com apoio logístico e suporte financeiro de ONGs como WWF Brasil, ONG Panthera, Instituto Homem Pantaneiro, Ecologia e Ação (ECOA), Museu Paraense Emílio Goeldi, e ainda com a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul e da colaboração de voluntários.
No começo do levantamento, a escassez de verbas impactou o planejamento e as ações no campo, e pesquisadores precisaram trabalhar voluntariamente. Com o desenvolvimento da força-tarefa, chegaram depois recursos de governos estaduais e ONGs.