O Parque Estadual Monte Alegre (Pema), no Oeste do Pará, é o único Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro selecionado pelo programa internacional “World Monuments Watch”, da organização sem fins lucrativos World Monuments Fund (WMF), como um dos 25 monumentos mundiais de valores culturais inestimáveis para receber apoio da organização. Entre os monumentos selecionados, estão ainda as mesquitas e o cemitério Koagannu, das Ilhas Maldivas; o parque arqueológico de Teotihuacan, no México, e o castelo Hurst Castle, na costa sul da Inglaterra. A lista dos 25 monumentos foi anunciada na última terça-feira (1º), em coletiva de imprensa na cidade de Nova Iorque (Estados Unidos).
Único monumento brasileiro na lista, o Pema abriga o sítio arqueológico mais antigo da Amazônia sul-americana, com pinturas rupestres de aproximadamente 12 mil anos. O parque também é habitat natural de espécies de animais ameaçados de extinção, como a ave Cacaué, a Aratinga maculata.
O Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (IDEFLOR-Bio) é o órgão gestor das 27 Unidades de Conservação (UCs) do Pará, entre elas o Parque Estadual Monte Alegre. O Instituto, por meio da diretoria de Gestão e Monitoramento das Unidades de Conservação (DGMUC), executa ações de preservação, conservação e uso sustentável dos recursos naturais, garantindo a transparência e a democratização dos benefícios trazidos por esses espaços à sociedade.
O IDEFLOR-Bio é responsável por 24.676.569,82 milhões de hectares de áreas de floresta, o equivalente a cerca de 20% do território estadual. A maior parte dessa área – 21,4 milhões de hectares, ou 18% do território paraense – é ocupada pelas 27 Unidades de Conservação estaduais, sendo 11 de proteção integral e 16 de uso sustentável.
O World Monuments Watch ou “The Watch” é um programa administrado pelo World Monuments Fund, organização criada em 1965 que destaca locais históricos e culturais no planeta. A cada dois anos uma nova lista é divulgada pela organização, que dessa forma apresenta às autoridades locais e internacionais novos patrimônios culturais que atualmente estão em risco devido a ameaças naturais e antrópicas (por intervenção humana). Os selecionados ficam em vigilância permanente, para garantir proteção e conservação para as futuras gerações.
Preservação – O projeto destaca, ainda, a importância das comunidades locais no fomento às ações voltadas à preservação e conservação desses patrimônios históricos, em conjunto com instituições responsáveis pelos monumentos, organizações governamentais e outras entidades que trabalham para a manutenção das riquezas naturais e históricas.
A escolha dos monumentos para a lista Watch 2022 contou com 227 candidaturas de patrimônios culturais imateriais. Todos foram avaliados criteriosamente pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) e pelo Painel Independente de Especialistas em Patrimônio Internacional, ambos responsáveis pela classificação final.
A presidente do IDEFLOR-Bio, Karla Bengtson, enfatiza que a escolha da Unidade de Conservação corrobora a relevância mundial do Pema. Quanto à preservação dos sítios arqueológicos do Parque, desde o processo de musealização, o governo do Estado vem investindo em ações de preservação e sensibilização das comunidades do entorno e dos condutores ambientais que atuam no local, enfatizando a importância dos registros rupestres, prova da atividade humana na região há quase 12 mil anos.
Karla Bengtson destaca, ainda, que as Unidades de Conservação são espaços com grande relevância para a manutenção da diversidade biológica, preservação e conservação do meio ambiente, além da proteção de espécies ameaçadas de extinção.
Reconhecimento – A participação do Parque Estadual Monte Alegre resultou de estudos realizados pelas arqueólogas Edithe Pereira, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), e Claide Morais, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em parceria com a plataforma Cipó.
Edithe Pereira ressalta que a World Monuments Fund é uma organização dedicada a proteger os lugares importantes da Terra. A nomeação do Parque é importante para o reconhecimento de sua importância arqueológica e de toda a região do município de Monte Alegre. “A nomeação vai ajudar imensamente o Parque, e também os pesquisadores que atuam na região, a angariar recursos para incrementar as pesquisas, potencializar trabalhos junto às comunidades que vivem no entorno do Parque, além de fomentar o turismo que já existe na região, dando qualidade aos conteúdos que são repassados pelos guias turísticos locais”, destaca a arqueóloga, pesquisadora titular do MPEG, com experiência na área de Arqueologia, e ênfase em Arqueologia Pré-Histórica.
Capacitação – Socorro Almeida, diretora de Gestão e Monitoramento de Unidades de Conservação do IDEFLOR-Bio, ressalta que são promovidas durante o ano atividades de educação ambiental, treinamento com brigadistas, cursos de capacitação em condutores de trilhas e caminhadas, técnicas de implantação de sistemas agroflorestais, capacitação em meliponicultura (criação de abelhas silvestres nativas sem ferrão), ecoturismo de base comunitária, entre outras ações.
Os cursos de capacitação são ofertados aos moradores do entorno do Parque para aproximar a comunidade da gestão, possibilitando que atuem como multiplicadores na preservação e conservação dos recursos naturais e do patrimônio histórico e cultural da região.
O Instituto mantém um cronograma anual de cursos e ações voltadas para a preservação das UCs, realizados em parceria com a Prefeitura de Monte Alegre, Secretaria de Estado de Turismo (Setur), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam).
Recursos – A gerente do Parque Estadual Monte Alegre e da APA (Área de Proteção Ambiental) Paytuna, Patrícia Messias, ressalta que o município de Monte Alegre foi considerado pelo WMF como um dos 25 lugares do mundo onde o patrimônio é reconhecidamente importante. Segundo ela, a nomeação ajudará a conseguir recursos para ajudar o Pema na proteção do patrimônio arqueológico. O fato de a comunidade científica estar envolvida, destaca a gerente, é fundamental, considerando que o trabalho de educação ambiental contribui para evitar qualquer tipo de pressão sobre o patrimônio arqueológico encontrado. “A parceria entre o Museu Emílio Goeldi e comunidade científica é fundamental para que o patrimônio possa ser preservado e compreendido quanto a sua importância histórica para gerações futuras. Dizer que o Parque está entre os 25 monumentos que precisam de atenção não significa que não está sendo preservado, e sim que precisa de um olhar atencioso para a Unidade de Conservação”, explica a gerente.
O Pema também é composto por diversas grutas e orifícios entre formações rochosas. O território tem aproximadamente 3,7 mil hectares – ou 36,78 quilômetros quadrados (km²) – e se estende por diversas riquezas naturais, culturais e históricas, como 15 sítios arqueológicos, rios, florestas, montanhas e cavernas. Nos sítios há pinturas rupestres dos primeiros resquícios da passagem dos seres humanos pela Amazônia. São pinturas rupestres que remontam a mais de 12 mil anos, além de peças cerâmicas, como jarros e pratos encontrados em escavações no local.
Dois dos principais sítios arqueológicos – a Serra da Lua e a Pedra do Mirante – estão no circuito do Complexo de Musealização. A Serra da Lua é o sítio mais conhecido, com suas pinturas que se estendem por mais de 200 metros em um paredão de pedra na Serra do Ererê. Entre os diversos painéis do paredão, que podem ser vistos desde a base da serra, há figuras em amarelo e vermelho representando animais, mãos e formas geométricas.
(Agência Pará c om informações do WMF )