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Museu - Incêndios no Pantanal em 2020 mataram 17 milhões de animais
Mais de 9,4 milhões de cobras e 1,5 milhão de pássaros foram dizimados, segundo pesquisa
DA REDAÇÃO
Uma força-tarefa de pesquisadores de várias partes do Brasil conseguiu traduzir em números a tragédia dos incêndios do Pantanal em 2020. A pesquisa constatou que ao todo 17 milhões de animais morreram em decorrência das chamas.
Conforme o levantamento, morreram 9.442.264 de cobras, 1.559.584 de pássaros, 457.704 de macacos e 237.328 de jacarés.
Segundo Thiago Semedo, de 35 anos, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), esse número é ainda maior se considerados os impactos posteriores aos incêndios.
A equipe recebia informações sobre os focos de incêndio no Pantanal e se deslocava para as áreas atingidas. A amostragem era realizada entre 24 e 72 horas após o incêndio. “Não inclui os animais que morreram por fome ou que foram queimados e morreram longe da área que nós amostramos. Então isso é só a ponta o iceberg”, explicou o pesquisador.
A análise da área durou quase quatro meses, entre 1° de agosto e 17 de novembro de 2020. Foram cerca de cem transectos - faixa de terreno usada para monitorar um fenômeno em estudo - amostrados durante o período.
Os resultados mostraram, como explicou Thiago, apenas o impacto imediato nos focos de incêndio. “São animais extremamente importantes que participam de todo um processo ecológico na região. Não sabemos, agora, o que vai acontecer com a falta deles, porque vai mudar totalmente a fauna na região”, disse o pesquisador.
Como a maior parte dos animais vítimas dos incêndios eram da base da pirâmide trófica, ou seja, eles serviam de alimento para animais maiores, era de se esperar que a falta deles provocasse um desequilíbrio difícil de mensurar.
“Com os cortes que o governo está fazendo nas pesquisas, não temos como medir isso. Como a gente vai conseguir entender? A gente perde o bioma e perde a capacidade de estudar o bioma”, desabafou.
O método utilizado para realizar essa contagem é conhecido como distance e, segundo o pesquisador, já é utilizado para detectar animais vivos. Na área determinada para a amostragem, uma pessoa ficava com o detector - que detectava os animais mortos - e a outra dava a direção, que deveria seguir em linha reta.
A tragédia pode se repetir
Para Thiago, com pesquisador foi marcante acompanhar um a um o montante de animais mortos pelo incêndio. “Isso marca muito, perceber que esse evento foi suficiente para dizimar 17 milhões de vertebrados".
Apesar de se pensar em áreas alagadas em se falando do Pantanal, a região é marcada pelos processos de sazonalidade, ou seja, tem períodos específicos de seca intensa e de cheias.
“Estamos passando por mudanças climáticas acentuadas e a probabilidade disso acontecer novamente é muito alta”, alertou o pesquisador. “É um ecossistema que pode ser destruído a longo prazo se a humanidade não mudar o modo de viver”.
Descaso com a região
Outro ponto preocupante ressaltado pelo pesquisador é o descaso que tanto a ciência quanto a região têm tido por parte do Governo Federal, em especial nas queimadas florestais de 2020. “O Pantanal foi deixado de lado durante todas essas queimadas”, desabafou.
O ano foi um marco pela destruição causada por esses incêndios, que destruíram, conforme levantamento feito pelo Instituto Centro de Vida (ICV), cerca de 40% de todo o bioma do Pantanal - o equivalente a 2,15 milhões de hectares.
“Esse trabalho [contagem dos animais mortos] foi feito de forma emergencial, então tivemos aporte de recursos de poucas instituições”, relembrou o pesquisador.
Apesar do INPP ser um Instituto de pesquisa dedicado exclusivamente ao Pantanal, até hoje, segundo Thiago, não foi regulamentado. Sem verba ou benefícios, os pesquisadores são obrigados a realizar suas atividades mediante parcerias.
“A gente não tem muita voz, a gente não tem verba, a gente não tem direito a nada”, lamentou diante o descaso.
Além do INPP, participaram da pesquisa diversas Instituições como a Embrapa Pantanal, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
As Universidades Federais de Mato Grosso (UFMT), Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Rio de Janeiro (UFRJ) também fizeram parte da força tarefa, além do Instituto Smithsonian (dos Estados Unidos).
Houve o apoio logístico e financeiro de ONGs como a WWF Brasil, Panthera, Instituto Homem Pantaneiro, Ecologia e Ação (ECOA), Museu Paraense Emílio Goeldi, além da Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul.