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Museu - Conheça a espécie de animal que é menor que uma moeda e só existe no ES
Com vasta área de mata atlântica, o Espírito Santo apresenta uma grande biodiversidade, mas o que poucos sabem é que o Estado abriga uma espécie de animal que mede menos de 2 centímetros, menor que uma moeda. Apelidado de "sapinho-da-restinga", o anfíbio capixaba habita apenas a região do Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari . Ele foi descoberto em 2005 pelo biólogo Pedro Peloso.
Em conversa com a reportagem de A Gazeta , Pedro Peloso, que é doutor pela 'American Museum of Natural History' (Museu Americano de História Natural), nos Estados Unidos, e atualmente pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Humboldt State University, explicou que muito pouco se sabe sobre a espécie Melanophryniscus setiba .
Em relação aos hábitos da pequena criatura, o pesquisador explicou que acredita-se que seja uma espécie que habita quase que exclusivamente o chão da floresta. "Além disso, esses sapinhos ficam mais ativos no início da manhã e final da tarde. Ou seja, os indícios apontam para uma atividade mais diurna, embora alguns poucos animais tenham sido encontrados nas primeiras horas da noite", explicou.
De acordo com o biólogo capixaba Bryan Martins, mestrando em zoologia pela Universidade Federal do Amazonas, esses sapinhos também podem ser identificados por serem pequenos, de coloração marrom-avermelhado e por terem uma ótima adaptação ao ambiente onde vivem.
"É uma espécie diurna com hábito criptozóico, ou seja, que vive sobre a serrapilheira e tem o pico de atividade no fim da tarde. Outras questões evolutivas são difíceis de serem respondidas, mas podem ser tão pequenos por uma limitação de alimentos, ou uma estratégia de defesa, tornando-se menos detectáveis e menos predados, por consequência", ressaltou Martins.
Descobridor da espécie, o biólogo Pedro Peloso destacou que, associado ao tamanho minúsculo, é possível notar no sapinho-da-restinga a ausência de alguns dos dedos das mãos e dos pés, o que é comum em espécies de anfíbios muito pequenas.
"Mas o que difere essa espécie das demais mais próximas evolutivamente é a presença de espinhos bem característicos nas mãos e de uma protuberância no úmero dos machos, o que chamamos de espinho umeral, mas a sua função não é muito bem compreendida", afirmou.
"O modo reprodutivo é uma das questões que me intrigam desde que descobri a espécie, mais de 15 anos atrás. Nunca encontrei os machos vocalizando, nem animais copulando e nunca vimos girinos. Não sabemos nem sequer onde a espécie põe os ovos. Existem suspeitas e suposições. Por exemplo, sabemos que as fêmeas colocam poucos ovos e que eles são grandes, o que sugere que boa parte da energia necessária para o desenvolvimento das larvas venha do próprio ovo. Eu suspeito que os ovos sejam colocados em bromélias ou em pequenas poças d'água no chão da floresta"
Para o biólogo Bryan Martins, justamente pelo fato de se encontrar no Parque Estadual Paulo César Vinha, que é área protegida, a preocupação é menor com a manutenção da vida da espécie.
"Nos dá um alívio saber que medidas são tomadas para a preservação. Entretanto, a região sofre com incêndios e com a extração clandestina de areia. Esses impactos podem causar danos severos às espécies, principalmente ao Melanophryniscus setiba , que só ocorre naquele local", finalizou.
Uma nova espécie de perereca foi descoberta no município de Santa Teresa, região Serrana do Espírito Santo. O animal, apresentado em 2021, cujo nome científico é Scinax pixinguinha, foi carinhosamente batizado como perereca-Pixinguinha, como homenagem a um dos expoentes do chorinho, tradicional ritmo musical brasileiro derivado do samba. A perereca é exclusiva da Mata Atlântica e, mais precisamente, é encontrada apenas em Santa Teresa, até então.
Um dos pesquisadores que descobriram a nova espécie foi João Victor Lacerda, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e membro do Projeto Bromeligenous, focado exclusivamente na conservação de anfíbios que vivem nas plantas Bromélias. Ele explicou que Santa Teresa é uma região que possui grande diversidade de sapos, rãs e pererecas, sendo referência mundial neste grupo de animais.
A principal dúvida dos pesquisadores era se aquela não seria uma espécie que está presente em outra área da Mata Atlântica, mas que nunca havia sido vista em Santa Teresa. A partir disso, João detalhou que a equipe começou a relacionar o animal coletado com outras espécies de diferentes áreas.
"A gente tem uma série de ferramentas que a gente usa pra comparações, que vão desde medições, comparação de estruturas morfológicas, a gente compara o canto também, que tem uma série de parâmetros físicos que servem para identificar uma espécie... mesmo assim, a gente não estava conseguindo enquadrar esse achado nosso na descrição de nenhuma outra espécie que ocorresse na Mata Atlântica ou de nenhuma outra espécie que ocorresse no Brasil. Então, começamos a suspeitar: talvez estejamos diante de uma nova descoberta. Um novo registro para o planeta inteiro, para a ciência. E foi exatamente o que aconteceu", contou.
Depois das pesquisas, João contou que a equipe voltou a campo e encontrou mais indivíduos da espécie. Para ele, isso foi positivo, pois foi possível tirar fotos dos exemplares para permitir a publicação do registro da nova espécie. A catalogação na revista internacional Copeia (Ichthyology & Herpetology), publicação oficial da Sociedade Americana de Ictiologia e Herpetologia, saiu no dia 29 de junho de 2021.
Uma pesquisa revelou a existência de espécies de anfíbios que são encontradas apenas na Unidade de Conservação Ambiental Monumento Natural Estadual Serra das Torres (Monast), área de Mata Atlântica que fica entre os municípios de Atílio Vivácqua, Muqui e Mimoso do Sul, na Região Sul do Espírito Santo. Entre os exemplares, há uma espécie de microrrã, chamada Euparkerella robusta, que só ocorre no Monast.
A pesquisa, intitulada “Anfíbios do Monumento Natural Serra das Torres: um reservatório da biodiversidade da Mata Atlântica no Sudeste do Brasil”, foi publicada na revista científica Biota Neotrópica, do Instituto Virtual da Biodiversidade no dia 30 de junho do ano passado. O objetivo era criar um inventário da fauna de anfíbios do Monast e, ao todo, foram registradas 54 espécies.
A bióloga e pesquisadora Jane de Oliveira, autora do arquivo, explicou que algumas destas espécies são encontradas apenas no Monast. Outras delas, segundo ela, possuem exemplares registrados em outros estados do Brasil, porém, no Espírito Santo, também são encontradas apenas na área da Unidade de Conservação. Esses animais, segundo a pesquisadora, são indicadores de qualidade do ambiente.
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