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Museu - As práticas de saúde na região do Baixo Amazonas
Este artigo, desenvolvido por Juliana Cardoso Fidelis e Luciana Gonçalves de Carvalho e publicado no periódico Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, analisou as técnicas de duas casas de saúde do Baixo Amazonas.
A Casa Chico Mendes, localizada em Santarém, e a Casa Verde, em Monte Alegre, oferecem tratamentos de baixo custo à população local, que encontra uma pequena oferta de atendimentos tradicionais na região.
Segundo as pesquisadoras, essas casas de saúde unem conhecimentos tradicionais e científicos em um sistema que valoriza os saberes e os recursos disponíveis no Baixo Amazonas. Em ambos os casos analisados, percebe-se um protagonismo das mulheres na administração dessas iniciativas.
A qual pergunta a pesquisa responde?
Como funciona o tratamento de males e doenças na região do Baixo Amazonas, no Pará?
Por que isso é relevante?
A pesquisa aborda as práticas de duas casas de saúde autodenominadas como “alternativas”, situadas no Baixo Amazonas, no Pará. Formadas na década de 1990 e compostas majoritariamente por mulheres desde sua criação, em cooperação com a Igreja Católica, a Casa Chico Mendes e a Casa Verde oferecem atendimentos de saúde altamente diversificados, incluindo tratamentos baseados em conhecimentos tradicionais associados a plantas nativas, terapias bioenergéticas, florais e medicamentosas.
Assim, a investigação aborda questões de uma realidade social diferenciada, onde a ausência de uma rede de saúde eficiente é combatida com atividades coletivas efetuadas por meio de uma vasta rede de relações de troca e reciprocidades em prol da saúde da população do Baixo Amazonas. Nesse contexto, práticas cotidianas e “caseiras” de cuidar e tratar doenças são vistas a partir de um prisma de valorização e ressignificação de sua eficácia.
Resumo da pesquisa
A pesquisa aconteceu por meio da etnografia, uma ferramenta metodológica utilizada no campo antropológico a fim de observar determinados grupos sociais. Essa análise etnográfica consistiu na observação de atividades regulares das casas Chico Mendes e Verde. Além disso, entrevistas com as colaboradoras de ambos os locais foram fundamentais para a análise proposta pelo estudo.
Quais foram as conclusões?
As mulheres têm grande influência nas decisões das casas Chico Mendes e Verde. Isso reflete um movimento que também é notado em outras regiões do Brasil, nas quais o protagonismo feminino busca soluções eficazes para os problemas vividos por grande parte da população de zonas rurais, ribeirinhas e periféricas.
A articulação entre tradição e inovação, proposta pelas duas casas de saúde analisadas, valorizam a hibridez de diferentes sistemas de conhecimento e também dos recursos disponíveis localmente.
Quem deveria conhecer seus resultados?
Pessoas que estudam sobre a Amazônia em geral, para além dos pesquisadores ou estudantes interessados em modos de cuidar e tratar de males diversos.
Juliana Cardoso Fidelis é antropóloga formada pela Universidade Federal do Oeste do Pará. Mestra em antropologia e sociologia pela UFPA (Universidade Federal do Pará). Doutoranda em ciências sociais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Pesquisadora do Programa de Extensão Patrimônio Cultural da Amazônia, vinculado ao Laboratório de Pesquisa e Extensão com Povos Tradicionais Afro-americanos, no qual desenvolve pesquisa sobre a mobilidade e territorialidade de populações quilombolas no rio Trombetas, em Oriximiná, no Pará.
Luciana Gonçalves de Carvalho é doutora em ciências humanas-antropologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mestra em sociologia e bacharel em ciências sociais pela mesma universidade. Professora na Universidade Federal do Oeste do Pará desde 2010, atuando nos cursos de graduação em antropologia, mestrado em ciências da sociedade e doutorado em sociedade, natureza e desenvolvimento (ciências ambientais). Professora do Programa de Pós-Graduação em sociologia e antropologia da UFPA (Universidade Federal do Pará).
Referências:
Fidelis, J. C., & Carvalho, L. G. D. (2021). Por dentro da rede: a circulação de conhecimentos e práticas de saúde no baixo Amazonas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 16(1).
Fidelis, J. C., & de Figueiredo, E. M. (2020). Tartarugas na Amazônia: notas interpretativas sobre preservação entre os quilombolas do Alto Trombetas, Oriximiná, Pará. Amazônica-Revista de Antropologia, 12(1), 87-121.
Fidelis, J. C. (2019). " Atualizando a tradição": sobre casas de saúde no Baixo Amazonas. Revista NUPEM, 11(24), 69-81.
CARVALHO, L. G. (Org.); FIDELIS, J. C. (Org.). Mares e marés: sustentabilidade, sociabilidade e conflitos socioambientais na Amazônia. 01. ed. Belém: 363.7009811, 2021. 538p.
Martins, C. O., dos Santos, E. N. D. S., Santana, J. B., de Assis, J. R., Fidelis, J. C., & de Carvalho, L. G. (2015). Flota do Paru: reflexões preliminares sobre extrativismo e concessões florestais. Revista Fragmentos de Cultura-Revista Interdisciplinar de Ciências Humanas, 25(2), 171-184.
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/academico/2022/03/31/As-pr%C3%A1ticas-de-sa%C3%BAde-na-regi%C3%A3o-do-Baixo-Amazonas
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