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Museu - Arqueólogos encontram cerâmicas de mais de 2 mil anos no Amazonas
Cerâmicas e artefatos que indicam ocupações indígenas de até 2 mil anos foram encontradas em escavações desenvolvidas na sede do município de São Gabriel da Cachoeira, durante a primeira oficina presencial do Programa Arqueológico Intercultural do Noroeste Amazônico (Parinã), realizada na sede do Instituto Socioambiental (ISA) no último mês de maio.
Pesquisas realizadas em 2019 mostram que o povoamento pode ser mais antigo, de até 2.700 anos. São Gabriel da Cachoeira é conhecido como o município mais indígena do Brasil.
As escavações aconteceram em uma área de 16m2 na praça em frente à Diocese e à catedral de São Gabriel realizadas por pesquisadores indígenas e não indígenas nas áreas que integram as narrativas de origem dos povos do Rio Negro, da história colonial e de seu presente.
“Essa área tem a história da nossa existência. Podemos ver no concreto as histórias que contamos na oralidade”, disse o indígena Arlindo Maia, do povo Tukano, sobre a paisagem de São Gabriel, um dos participantes da oficina do Parinã, que contou com a presença de pesquisadores não indígenas e indígenas de diversas etnias, como Baré, Baniwa, Piratapuya, Desana e Tukano.
Para os integrantes do projeto, o município é um lugar que conecta narrativas dos povos indígenas à história colonial de séculos passados e vivências contemporâneas. Além disso, os povos indígenas que vivem hoje no Alto Rio Negro podem ser os descendentes das pessoas que deixaram os vestígios arqueológicos.
Márcio Meira, historiador, antropólogo e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), integrante da equipe do Parinã, reforça a importância da abordagem interdisciplinar. “Não viemos ensinar para os indígenas a história. Pelo contrário, estamos aqui mais para aprender do que para ensinar. Conhecedores indígenas têm um conhecimento que precisa ser valorizado. Por isso, o Parinã tem a proposta de pesquisa intercultural, misturando saberes e perspectivas indígenas e não indígenas”, explicou.
Uma exposição arqueológica e patrimonial está prevista para acontecer em São Gabriel da Cachoeira, no próximo mês de setembro, no encerramento da primeira etapa do Programa Parinã.
Iniciado em 2018, o programa envolve diversos parceiros, como o ISA, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o Museu da Amazônia (Musa), o Instituto de Arqueologia da University College London (UCL) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com participação do professor, pesquisador e arqueólogo Geraldo Andrello. A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) também apoia a iniciativa.