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Museu - 8 de março: MCTI parabeniza diretoras das vinculadas que lideram com inteligência e competência
Elas são exemplo de dedicação, esforço e persistência e demonstram, na prática, como mulheres empoderadas podem conquistar cada vez mais espaço na ciência, tecnologia e inovação
A presença de mulheres em áreas como ciência, tecnologia e inovações ainda não corresponde à realidade populacional. Apesar de serem maioria na sociedade, as mulheres ainda não têm a mesma representatividade nas áreas científicas e tecnológicas. Mas a situação vem mudando ao longo dos anos com a valorização e o empoderamento de mulheres que, com muita competência, não aceitam tratamento diferenciado e vêm derrubando barreiras e conquistando espaço. A motivação e a garra dessas mulheres de fibra são impulsionadas por investimentos e programas do Governo Federal, coordenados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Como exemplo, temos iniciativas como o “Programa Mulheres Inovadoras”, em conjunto com a FINEP/MCTI, o “Futuras Cientistas” do CETENE/MCTI, “Mulheres na Ciência” do CNPq/MCTI, a missão Artemis da NASA que o Brasil recentemente ingressou, dentre outras atividades para a promoção e incentivo a inclusão de meninas e mulheres em áreas das ciências.
Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) preparou uma reportagem especial com a intenção de parabenizar e prestigiar as diretoras de unidades vinculadas ao ministério. São elas, Silvia França, diretora do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI), Giovana Machado, diretora do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE/MCTI), Cecília Leite, diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT/MCTI), Antônia Franco, diretora do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA/MCTI), Mônica Tejo, diretora do Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCTI), Iêda Caminha, diretora do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI) e Ana Luisa Albernaz, diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCTI).
A promoção e inclusão de mais meninas e mulheres em áreas das ciências é uma das prioridades do ministro do MCTI, astronauta Marcos Pontes. “Temos diversos programas para incentivar meninas a ingressarem nas carreiras tecnológicas. Esse é um pedido que sempre faço à minha equipe, que trabalhem para que no futuro o Brasil possa ter cada vez mais engenheiras, cientistas, astronautas, dentre outras”, afirma Marcos Pontes.
Filha de professora universitária, a diretora do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI), Silvia França, recorda que a mãe sempre incentivou as quatro filhas a estudar e a ter grande interesse pelo conhecimento. “Na Universidade Federal de Sergipe, onde cursei graduação em Engenharia Química, tive professoras – engenheiras - que me incentivaram a desbravar o mundo da ciência e tecnologia por meio de participação em projetos de pesquisa, especialmente no Programa de Iniciação Científica. Éramos poucas alunas, mas nos destacávamos pela dedicação e perspicácia no desenvolvimento das atividades laboratoriais”, relembra. Na pós-graduação Silvia conta que também conviveu com muitas mulheres, professoras e colegas de laboratório e da sala de alunos. “Posso afirmar, com alegria, que a maioria ocupa posição de destaque nas suas carreiras acadêmicas, tecnológicas e até empreendedoras”, orgulha-se.
No Centro de Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI), onde desenvolve a carreira profissional há 22 anos, Silvia destaca a força feminina da instituição. “Somos 47% da força de trabalho, engenheiras químicas, engenheiras de minas, químicas, biólogas, jornalistas, secretárias, assistentes de C&T, apoiadoras de serviços gerais. Estamos ajudando a formar mais mulheres para atuar nas áreas de C&T, com capacidade técnica e liderança para ocuparem cargos importantes no futuro. Estas sementes certamente brotarão”, aposta Silvia que ainda completa, “Precisamos mostrar que não existem profissões masculinas ou femininas; há sempre espaço para profissionais competentes. É uma questão de criar as oportunidades”.
Um bom exemplo de como incentivar meninas nas áreas das ciências pode ser observado no Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE/MCTI). Atendendo as demandas de políticas, gestão e extensão científica a diretora do Centro, Giovana Machado lançou, em 2012, o programa “Futuras Cientistas”, que tem como objetivo a inclusão de alunas e professoras do Ensino Médio, de Escolas públicas da região metropolitana de Recife (PE), nas atividades de pesquisa desenvolvidas no CETENE/MCTI. Giovanna entende que as tecnologias devem ser voltadas a fim de atender a população local e promover a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida. Neste sentido as novas tecnologias, incluindo as desenvolvidas em seu grupo de pesquisa são voltadas para os problemas sociais da população, com o intuito de criar modelos que tenham efeitos demonstrativos às demais comunidades.
“Tive a presença de mulheres fortes em minha vida a começar por minha mãe que sempre priorizou os estudos a suas três filhas. No ensino fundamental tive a professora Iraci que era mulher independente e sempre me estimulou a seguir meus estudos. Sempre fui muito curiosa e com 7 anos já sabia que queria ser cientista. Nunca aceitei uma resposta como certa sem antes poder entender o porquê da resposta”, relembra.
Quando fez a faculdade Giovana conta que as mulheres eram minoria no curso de Química. “Existia um preconceito explicito na classe, precisávamos nos destacar para obter o respeito dos colegas. Isto não mudou muito nestes últimos 30 anos”, opina a diretora que se inspira em nomes como Maria da Penha, Mari Curie, Lucia Tosi, dentre outros.
Quando se pensa em invenções ou descobertas cientificas geralmente as pessoas pensam em homens, poucos sabem que as mulheres estão à frente de grandes invenções como destaca Giovana. “É o caso por exemplo do desenvolvimento de laser para correção da vista (Patricia Batch), Foguetes de sinalização (Martha Coston), seringa (Letitia Geer), limpador de parabrisas (Mary anderson) vidro antireflexo (Katherine Blodgett), Wifi (Heidi Lamart), automóvel (Bertha Bens juntamente com seu marido), Paraquedas e mochila (Kathe Paulus), lentes de óculos (Marga Faulstich), Algebra (Emmy Noether), a famosa cerveja foi inventada pelas mulheres da Mesopotâmia, bote salva vidas (Maria Beassely), colete a prova de balas (Stephanie Kwolek), Software de computador – COBOL (Grace Murray), Algoritmo (Ada Lovelace)”, enumera.
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UNB) e diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT/MCTI), Cecília Leite, acredita que a presença da mulher na ciência representa a oportunidade de ter no desenvolvimento cientifico uma visão feminina, que segundo ela é diferente da masculina. “Na gestão isso também traz reflexos positivos, porque nós temos formas diferentes de enxergar as coisas, o que gera importantes contrapontos. O mundo todo já tem adotado essa consciência de que homens e mulheres têm habilidades distintas”, avalia.
Cecília considera que atualmente o trabalho desenvolvido pelas pesquisadoras contribui para a consolidação da presença feminina nos laboratórios, centros de estudo e tantos outros ambientes. “Às garotas que querem escolher a ciência como profissão, eu digo que estudem, observem, e acolham com determinação o caminho que decidirem trilhar. Elas têm muito a contribuir. Todas nós somos capazes”, finaliza.
Natural do Rio de Janeiro, formada em Biologia e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) há 22 anos, Antônia Franco dirige a instituição onde também é responsável pelo laboratório de Leishmaniose e Doença de Chagas da Coordenação de Pesquisas em Sociedade, Ambiente e Saúde (COSAS). Ela fala sobre a importância da inserção e do reconhecimento da mulher em todos os espaços e sobre o incentivo para que desde cedo as meninas conheçam mais sobre a ciência e se interessem pelo mundo científico, Antônia também opina sobre o papel da mulher no meio cientifico e os desafios enfrentados pelas mulheres que decidem pelo caminho da ciência. “Apesar das mulheres aos poucos estarem deixando de ser invisíveis, se fizermos uma reflexão sobre essa visibilidade das mulheres na ciência, esse desafio ainda existe em diversas áreas do conhecimento em nosso país. Apesar de termos no INPA um certo equilíbrio nesse sentido esse esforço é diário, principalmente porque é continua a necessidade de sempre estar afirmando a nossa competência para sermos reconhecidas por nossas contribuições intelectuais”, analisa.
Apesar do aumento da participação feminina Antonia considera que há espaço para crescimento. “Nós mulheres estamos em número reduzido em algumas áreas da ciência, a exemplo, no recebimento de bolsas de produtividade em pesquisa, na Academia Brasileira de Ciências e em cargos de lideranças mais elevadas. Sem dúvida Marie Curie foi um marco das mulheres na Ciência, mas, o trabalho dela sobre a descoberta da radioatividade foi ignorado na Academia de Ciências até que o marido assumiu a coautoria”, recorda.
Antonia ainda destaca a importância e a valorização desde cedo das meninas e jovens no mundo cientifico. “É vital que o estimulo venha da educação, escola, família, mídia e relações sociais”, afirma.
Segundo a diretora do INPA/MCTI, a mulher na ciência tem a necessidade de comprovar diariamente a capacidade e competência pois as comparações ainda existem, além da discriminação e preconceito. “Alcançar posições de liderança; ser notada pela sua inteligência e competência, conseguir conciliar sua vida pessoal com a profissional, conseguir se esquivar da comparação com os homens são os grandes desafios. Mas ainda assim considero que a mulher pode fazer o que ela quiser”, avalia.
Primeira mulher a dirigir o Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCTI) nos seus 17 anos de existência, Mônica Tejo é formada em Engenharia de Alimentos na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Pesquisadora, bolsista de produtividade CNPq/MCTI, na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos Mônica se mudou para o município de Pombal no sertão da Paraíba, onde desenvolveu vários projetos de impacto social, levando a P&D de dentro da universidade para transformar vidas na sociedade do semiárido paraibano. A partir das ações de transbordamento das pesquisas, tecnologias e ações da academia para a comunidade e empresas locais, foi vencedora do prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional, categoria nordeste: inovação e sustentabilidade.
“A ciência não é ‘neutra’ do ponto de vista das questões de gênero, infelizmente. A ciência moderna, constituída quase que exclusivamente pelos homens, opera num sistema excludente para as mulheres, através de discursos e práticas nada neutros. Vale ressaltar que apenas 30% das estudantes que ingressam na universidade escolhem carreiras relacionadas a ciência, tecnologia, engenharia e matemática”, afirma.
No Brasil, segundo dados do CNPq/MCTI, das 185 mil bolsas concedidas entre 2010 e 2021, 64,7% foram para homens e 35,3% para mulheres. “Estes dados não demonstram a incapacidade feminina diante da ciência, mas ainda uma timidez diante da capacidade intelectual das mulheres que ainda vivem uma tripla jornada e necessitam de um maior esforço para seu posicionamento profissional. Concorrer de igual para igual e vencer pela capacidade técnica é o que nos torna mais fortes diante de uma sociedade excludente e desigual. Não é questão de feminismo, mas de igualdade no julgamento do mérito. Precisamos reconhecer que ainda temos uma timidez feminina nos ambientes de pesquisa e de liderança, mas mulheres em destaque viram motivação para que outras sigam a trajetória de sucesso em seus setores”, opina a diretora do INSA/MCTI que deixa um recado para as mulheres no dia internacional da mulher.
“Somos mulheres fortes, capazes, inteligentes e articuladas que podemos romper os olhares preconceituosos da sociedade, até das próprias mulheres que se sentem ameaçadas pela determinação e sucesso constante, e podemos ir além. Acredite no seu potencial, seja incansável na busca pelo aprendizado e brilhe. Nós, mulheres, possuímos uma luz que emana naturalmente e precisamos estar em lugares altos, como chamas, para nortear o caminho das outras em busca do sucesso”, finaliza.
Após uma carreira de 44 anos como pesquisadora, e vários cargos de coordenação a engenheira, Iêda Caminha conta que se sentiu preparada para concorrer ao cargo de diretora do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI), tendo assumido a direção em agosto de 2020, sendo a segunda mulher a dirigir o INT em 100 anos. “A carreira de Engenharia Metalúrgica, até hoje ainda considerada masculina. Mas como me identificava bastante com essa área do conhecimento e tive apoio da família, pude seguir nessa opção. Na trajetória profissional, também encontrei no INT um ambiente de oportunidades e aprendizado, contando com o apoio dos colegas e chefias”, recorda.
Para Iêda, a sociedade ainda está evoluindo no que diz respeito ao papel da mulher na ciência e especialmente como gestoras de Instituições de C&T. Embora já existam políticas públicas que incentivam a mulher na ciência, ela considera que muito ainda precisa ser feito. “As mulheres na sua maioria já estão nos ambientes de pesquisa e possuem qualificação, o que falta são oportunidades e reconhecimento da sua competência, para crescer nas carreiras. O INT sempre foi um ambiente de pesquisa com grande participação de mulheres, sendo que mais recentemente o reconhecimento para sua escolha aos cargos de chefia foi ampliado. Hoje somos 49% da força de trabalho da Casa e na Diretoria, mais de 60% são mulheres”.
A diretora do INT/MCTI avalia ainda que é importante a constante criação de políticas públicas que tragam incentivo às jovens cientistas e às carreiras tecnológicas. As atividades de popularização da ciência e o contato com as ciências desde o ensino fundamental também são segundo ela, um apoio fundamental. “O exemplo de mulheres que já desenvolveram suas carreiras e conquistam cargos de liderança também pode ajudar a inspirar as futuras cientistas”, aposta.
Há mais de 30 anos morando na região amazônica, a bióloga e diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi (Museu Goeldi/MCTI) Ana Luisa Albernaz comanda a vinculada do ministério que trabalha na conservação do ecossistema e da biodiversidade da Amazônia. Com mestrado e doutorado em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI) ela considera que muitas mulheres que trabalham nas áreas de ciências e tecnologias ainda têm dificuldades em se impor. “Mas isso é compensado com esforço e capacidade de agregar competências. Aos poucos vamos ocupando mais espaços. Mas a participação feminina nessas áreas ainda precisa ser fomentada”, avalia.
Para que mais mulheres estejam em cargos estratégicos e de liderança no setor, Ana Luisa avalia que os processos de escolha devem ser mais transparentes e os méritos precisam ser devidamente valorizados. “A atuação em pesquisa pode mudar a realidade de vida de muitas meninas, se elas tiverem a oportunidade de desenvolver seus potenciais. Dou os parabéns a todas, porque sei que o caminho não é fácil. E também agradeço a possibilidade de algumas parcerias importantes com outras mulheres, que nos ajudam nessa caminhada”.