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Representantes de povoBalatiponé (Umutina) destacam importância do acervo do Museu para preservar saberes perdidos
Três representantes do Povo Balatiponé (Umutina), da Terra Indígena Umutina, Isaac Amajunepá, Pedro Amajunepá e Edgar Monzilar Corezomaé, participaram de uma oficina de qualificação do acervo relativo ao seu povo, que está sob a guarda do Museu.
Com 2.190 itens, entre peças etnográficas (armas, plumárias, cerâmicas e cestarias), itens iconográficos e documentais, o acervo dos Balatiponé é um dos maiores e mais antigos custodiados pelo Museu.
Os itens foram coletados, entre outubro de 1943 e fevereiro de 1944, por Harald Schultz, chefe do serviço etnográfico da Seção de Estudos do Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Na ocasião, foi realizada uma expedição para estudo científico e documentação cine-fotográfica e sonora dos Umutina, na margem direita do alto rio Paraguai.
Visitas às reservas técnicas do Museu
Além de participar da oficina de qualificação, os Balatiponé visitaram as reservas técnicas e entraram em contato com peças que só haviam visto por meio de fotografias, vídeos e nas bases de dados do Museu. Eles também iniciaram um processo de qualificação de fotografias, ao qual darão continuidade na aldeia, e tiveram acesso a vários documentos relativos ao povo.
A emoção perpassa os visitantes todo momento. Os três indígenas traduzem em suas expressões faciais e em suas falas o impacto de rever peças do seu povo que já não são mais feitas, e de recuperar memórias e histórias.
Olhando as peças na reserva técnica de plumárias, Isaac Amajunepá, disse que a sensação era de uma volta ao passado. “São técnicas milenares empregadas nessas peças”, destacou. Ele se mostrou satisfeito também com o estado de conservação: “parece que foram feitas semana passada e foram colocadas aqui ontem, estão muito bem cuidadas”. Por fim, Isaac falou que o Museu é muito importante “para aquelas etnias que perderam seus anciões e que querem buscar a ressignificação cultural”.
A vinda ao Museu, para Isaac, é a realização de um sonho que nutre desde os 15 anos. Ele contou que seu pai, Pedro Amajunepá, domina muitas técnicas, mas não as formas de fazer ancestrais que estão nas peças salvaguardadas no Museu.
Recuperação cultural
Após este processo de qualificação, o objetivo dos Balatiponé é realizar uma oficina na Terra Indígena visando à produção de artefatos tradicionais do povo, especialmente armas. As atividades serão conduzidas pelos anciões e os objetos produzidos serão doados ao Centro Cultural Ikuiapá, unidade gerida pelo Museu e localizada em Cuiabá.
Isaac Amajunepá conta que os jovens não se interessavam pela cultural tradicional e, por isso, os pajés já não repassavam seus conhecimentos e, com isso, foram se perdendo aspectos culturais tradicionais como danças, rituais sagrados e também algumas técnicas de confecção de objetos.
Esse quadro começou a mudar, segundo ele, no final dos anos 1990, quando os anciãos, preocupados com o risco de perda cultural, iniciaram um trabalho com as escolas. Nessa época, surgiu um grupo teatral chamado Nação Nativa que estudou as danças tradicionais visando revitalizá-las. Já obtiveram sucesso com 16 danças.
Mais recentemente, o Coletivo Bôloriê Balatiponé conseguiu recuperar o casarão que era a sede do posto 'Fraternidade Indígena'. “O objetivo é transformá-lo num museu”, contou Isaac . O coletivo recuperou também a escola da aldeia.
Os Balatiponé
Os homens do povo costumavam usar barbas feitas a partir do cabelo de suas mulheres ou do pelo do macaco bugio e por essa característica eram chamados pelos não indígenas de “Barbados”. Após o contato com os Povos Paresí e Nambikwara, na década de 1930, passaram a ser conhecidos com Umutina, que significa “gente branca”. Mas eles se autodenominam Balatiponé, que segundo o ancião Jula Paré quer dizer "povo antigo".
Povo não fala mais sua língua nativa, pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, da família Bororo. Esse é um dos efeitos do contato com os não indígenas, ocorrido a partir de 1911 e que quase dizimou o povo, vitimado por uma série de epidemias. Em 1862, os Balatinopé contavam com cerca de 400 indivíduos, em 1943 não passavam de 73, 50 deles vivendo no posto 'Fraternidade Indígena'.
Os sobreviventes foram viver próximo aos integrantes do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) que atuavam na região e foram proibidos de falar sua língua materna e praticar qualquer atividade relacionada a sua cultura material e imaterial.