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Publicação lançada pelo Museu do Índio apresenta conhecimentos tradicionais dos Suruwahá sobre plantas e venenos
O catálogo “Alquimia na Floresta: os Suruwahá e os venenos”, lançado pelo Museu do Índio, apresenta conhecimentos tradicionais do povo Suruwahá e as formas de manejo e uso de plantas venenosas que notabilizou esse povo como verdadeiros alquimistas da floresta.
Os Suruwaha têm “uma habilidade singular para lidar com plantas que possuem a qualidade zyka – substâncias que provocam ardência, acidez, toxicidade, calor, acridez, queimação. Plantas perigosas, que desafiaram as pessoas ao longo das gerações à procura de misturas, de temperos, com preparos antigos e formas inovadoras de processamento de seus venenos, postas em colaboração entre si e com os humanos”, apontam os autores.
A obra é fruto de uma pesquisa de documentação cultural, que teve início em 2018 na Terra Indígena (TI) Zuruahã, no estado do Amazonas. Foi um trabalho interdisciplinar que envolveu a comunidade em uma série de encontros e oficinas e resultou num levantamento minucioso do ponto de vista histórico, etnológico e biológico, além de em centenas de registros fotográficos e audiovisuais, os quais serão utilizados para montagem de uma exposição virtual a ser lançada em breve pelo Museu.
Os Suruwahá
Os Suruwahá se originam da junção de vários coletivos indígenas que habitavam as terras firmes do interflúvio Purus-Juruá, em torno aos rios Cuniuá e Riozinho, no estado do Amazonas. Estes coletivos viviam dispersos em casas coletivas e se constituíam num conjunto multicomunitário que se aliou para fazer frente à ameaça dos não indígenas.
No início do século XX, sobretudo a partir da crise da borracha em 1912, frentes econômicas avançaram no território desses povos em busca de novos recursos como látex de sorva, óleo de copaíba, castanha-do-brasil, quelônios e peles de animais silvestres. Os Suruwahá sofreram o efeito dessa expansão extrativista, sendo alvos de ataques armados e doenças letais.
Os sobreviventes desses massacres e epidemias se refugiaram no território Jukihidawa, e, entre 1930 e 1980, mantiveram-se isolados como estratégia de defesa. Em 1980, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) contatou povo e desenvolveu um programa de proteção visando assegurar sua sobrevivência. Em 1983, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) estabeleceu o contato oficial por parte do Estado.
Atualmente, os Suruwahá vivem na TI Zuruahã que foi demarcada em 1987 e está sob os cuidados da Frente de Proteção Etnoambiental Madeira-Purus da Funai, desde 2008.
O catálogo
A pesquisa que deu origem à obra foi coordenada pelo antropólogo Miguel Aparício, que trabalha há mais de 20 anos com os Suruwahá, em conjunto com as biólogas Priscila Ambrósio Moreira e Juliana Lins e o fotógrafo Paulo Múmia, que realizou a maioria dos registros fotográficos que ilustram o catálogo.
Trata-se de um dos produtos do Projeto de Documentação de Culturas Indígenas (Prodocult) desenvolvido pelo Museu do Índio/Funai em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Para acessar a publicação no site do Museu do Índio, clique aqui.