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Museu/Funai homenageia Berta Ribeiro em seu centenário de nascimento
Antropóloga, etnóloga e museóloga, Berta Gleizer Ribeiro completaria 100 anos neste dia 2 de outubro de 2024. Nascida em Beltz, na Romênia, em uma família judia, ela chegou ao Brasil no início da década de 1930. Em 1948, se casou com o antropólogo Darcy Ribeiro, fundador do Museu do Índio. Nos anos 1980, chefiou o serviço de museologia do órgão, atuando na organização e conservação dos acervos. Mas suas atividades no Museu tiveram início em 1975, quando ela começou a prestar consultoria para o projeto do Centro de Documentação Etnológica e Indigenista.
À frente da museologia, Berta instalou o Laboratório de Restauração e promoveu a reestruturação das reservas técnicas do Museu/Funai, o que envolveu a reforma da estrutura das salas e a aquisição de móveis adequados às necessidades do acervo. Ela também deu início à nomenclatura das coleções etnográficas e à catalogação dos itens da cultura material indígena custodiados por museus etnográficos, com estrutura de Thesaurus, o que resultou no Dicionário do Artesanato Indígena, publicado em 1988. A obra, totalmente ilustrada, é considerada uma referência para pesquisadores de cultura material dos indígenas brasileiros.
Na década de 1980, ela catalogou 7.961 itens do acervo Museu/Funai, entre objetos rituais, mágicos e lúdicos; armas; instrumentos musicais e de sinalização; utensílios e implementos de materiais ecléticos, trançados e etnobotânica de 98 povos indígenas. Num reconhecimento ao seu trabalho, em 2002, Berta Ribeiro passou a dar nome a uma das quatro reservas técnicas etnográficas do órgão. A maior em espaço físico, esta reserva abriga utensílios de madeira e objetos das categorias que ela catalogou.
As coleções etnográficas formadas por ela resultaram na publicação do livro “Arte indígena, Linguagem Visual”, publicado em 1989.
Companheira de trabalho de Berta no Museu/Funai, Maria Elizabeth Brêa Monteiro conta que após sua morte foi designada, junto com outros servidores, para incorporar o acervo documental de Berta ao do Museu. Entre os itens doados pela pesquisadora em vida estão textos etnográficos, gravações feitas em trabalhos de campo e cartas de registros antropólogos dela, de Darcy Ribeiro e de outros estudiosos.
Respeito aos direitos intelectuais Indígenas
Berta Ribeiro realizou muitas pesquisas sobre os saberes, a arte, a materialidade, as técnicas e a tecnologia dos povos indígenas brasileiros. A diretora do Museu/Funai, Fernanda Kaingáng, destaca que em sua atuação acadêmica, Berta respeitou o protagonismo indígena, “algo que deveria nortear todas as pesquisas e publicações acadêmicas que ainda são muito marcadas pelo eurocentrismo, pelo colonialismo e por apropriações que denominamos como extrativismo intelectual”.
Fernanda observa que “o trabalho de Berta Ribeiro já reconhecia os direitos dos Povos Indígenas como proprietários de direitos intelectuais sobre suas expressões culturais tradicionais e os saberes compartilhados a partir do estudo de cestarias, plumárias, grafismos que integram essas expressões e não se separam da biodiversidade mais conservada do planeta que são os territórios indígenas”.
“O Museu que é fruto do trabalho e do comprometimento de muitas pessoas e, em especial de Berta Ribeiro, a partir de sua relação de respeito com os povos indígenas, de compromisso com a educação e com a diversidade cultural que fazem do Museu Nacional dos Povos Indígenas não apenas o órgão científico e cultural da Funai e do Ministério dos Povos indígenas, mas também um território intelectual demarcado como um Museu de Culturas Vivas”, destaca Fernanda.
Estudos sobre os Povos Indígenas
Entre o final dos anos 1940 e 1950, Berta acompanhou Darcy Ribeiro em trabalhos de campo com diversos povos indígenas, como os Kadiwéu, do pantanal matogrossense. São dessa época as fotografias em que ostenta pinturas faciais kadiwéu, feitas por Heinz Foerthmann.
No prefácio do livro Os índios das águas pretas (1995), Berta afirma: “aprendi antropologia – além da formação universitária – com Darcy Ribeiro na viagem de oito meses, em 1948, aos Kadiwéu e por ter datilografado os seus manuscritos de 1948 a 1974”.
Este livro é resultado de uma cuidadosa pesquisa de campo feita por Berta com os povos indígenas do Alto Rio Negro. A obra aborda os saberes desses povos sobre a região Amazônica e suas técnicas de preservação do meio ambiente.
O casal esteve também entre os Kaingáng no Sul do Brasil; os Terena, no Mato Grosso; os Ka’apor no Maranhão e, ainda, entre os Yawalapiti, Kayabi, Juruna; Araweté e Asurini, no Alto e Médio Rio Xingu. As experiências entre os povos indígenas xinguanos são descritas no livro Diário do Xingu (Ribeiro 1979).