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Museu entrega exemplares de Gramática Pedagógica ao povo Wapichana
A Coordenação Regional da Funai em Roraima recebeu, neste mês de maio, exemplares da Gramática Pedagógica da Língua Wapichana (Bayda'aptan Paradakary Ai Chapkinhau Wapichan Paradan Dia-an) para distribuição às aldeias indígenas. A publicação é resultado do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (Prodoclin), desenvolvido pelo Museu Nacional dos Povos Indígenas em parceria com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
A gramática apresenta as estruturas linguísticas por meio de situações cotidianas, enfatizando a conexão entre a língua falada e as formas gramaticais existentes. Sua produção demandou mais de uma década de trabalho visando atender as necessidades pedagógicas apontadas pelos professores indígenas e a comunidade estava ansiosa para ver o resultado final.
Para elaboração da gramática, especialistas promoveram uma série de encontros e oficinas com a comunidade visando à edição de um material pedagógico que também sirva de base para produção de materiais didáticos específicos destinados ao fortalecimento da língua em contextos escolares e comunitários.
Durante as oficinas nas aldeias, os próprios professores da língua criaram as situações nas quais as estruturas gramaticais são empregadas e os linguistas os auxiliam na preparação de explicações e exercícios. Assim, os alunos aprendem a línguas por meio de histórias, diálogos, músicas e contos tradicionais de seu povo. As ilustrações também são feitas por desenhistas da própria comunidade.
O povo e a língua Wapichana
A maior parte das terras indígenas Wapichana no Brasil se localiza na parte leste do estado de Roraima, na região conhecida como Serra da Lua, entre os rios Branco e Tacutu. Os Wapichana também ocupam a região serrana do norte do estado que faz divisa com a Guiana e a Venezuela.
Tanto dentro de uma mesma comunidade quanto em comunidades distintas, existe uma grande diversidade no uso da língua Wapichana, pertencente ao tronco linguístico Aruak. Além dessa diversidade, a língua nem sempre é passada de uma geração a outra, sendo comum ver famílias em que os pais falam Wapichana com seus filhos, sendo respondidos por eles em português.
Em alguns casos, os jovens em idade escolar são falantes monolíngues do português. A diminuição do número de falantes é decorrente do contato com a sociedade envolvente e motivo de inquietação entre os falantes. Por isso, alguns grupos têm se mobilizado para criar mecanismos que proporcionem a continuidade do ensino da língua e a gramática é uma ferramenta importante.
O Prodoclin
O principal objetivo do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (Prodoclin), que vem sendo desenvolvido desde 2008, é a documentação linguística, visando salvaguardar o patrimônio linguístico e cultural de povos indígenas localizados na fronteira com outros países latino-americanos, especialmente povos de recente contato.
Para isso, são realizadas oficinas e treinamentos de pesquisadores indígenas em metodologias de documentação linguística e cultural e produzidos diversos materiais técnico-científicos como aplicativos, livros, filmes, gramáticas e catálogos.
O Prodoclin é desenvolvido no âmbito do projeto "Salvaguarda do Patrimônio Linguístico e Cultural de Povos Indígenas Transfronteiriços e de Recente Contato na Amazônia Legal", resultado de uma parceria entre a Funai e a Unesco.