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Literatura e arte aproximam indígenas e não indígenas numa perspectiva decolonial
Os escritores Daniel Munduruku e Márcia Kambeba foram os convidados do ciclo educativo do XX Encontro de Escritores e Artistas Indígenas, realizado dia 6 de novembro na Universidade Federal Fluminense (UFF). Objetivo do evento foi auxiliar os professores a abordar a temática indígena em sala de aula por meio da literatura.
O Encontro de escritores é idealizado por Daniel Munduruku, coordenado pela professora Claudete Daflon, da UFF, e promovido em parceria pelo Museu/ Funai, Ministério da Cultura, Biblioteca Nacional, UFF e Instituto Uka.
Ao comentar sobre a importância da literatura indígenas nas escolas, Daniel Munduruku destacou que “ao acreditar na leitura e na escrita, oferece-se um caminho de mão dupla: para as crianças e os jovens indígenas surge um novo modo de entender a própria comunidade e a sociedade que os cercam; e às crianças e jovens não indígenas, apresenta-se a oportunidade de olhar e compreender sua ancestralidade pautada na presença indígena na História do Brasil”.
O ciclo educativo
Durante o ciclo educativo, Márcia Kambeba apresentou diversas formas para abordar a literatura e o ser indígena nas escolas, destacando que “ao inserir as narrativas indígenas no currículo escolar, abre-se espaço para que os estudantes se conectem com uma visão de mundo plural e profundamente enraizada na ancestralidade e no respeito à natureza”.
Ela enfatizou que “a literatura indígena faz parte de uma educação que transcende as paredes da sala de aula e se enraíza na vivência coletiva, na relação com o ambiente”. E concluiu afirmando que “a literatura é uma anciã que ensina através das narrativas de tantos povos”.
Já Daniel Munduruku explicou que para trabalhar bem a temática indígena, é preciso que os professores entendam a forma de pensamento dos povos indígenas. Ele esclareceu que nossa sociedade tem um pensamento linear, baseado no passado, presente e futuro, ao passo que o pensamento indígena é baseado na natureza, que é cíclica. O tempo indígena é o passado (a memória) e o presente.
“A educação ocidental é uma educação para o futuro e para o egoísmo”, destacou. De acordo com Daniel, a pergunta que mais costumamos fazer para uma criança é “O que você vai ser quando você crescer?”. Essa pergunta, explica, pressupõe que ela ainda não é, que é um projeto. “Uma criança indígena não será nada porque ela já é tudo que poderia ser”.
Ele destacou também o papel dos anciãos na educação das crianças. “Os velhos educam o espírito, a alma das crianças. Eles fazem a ligação do presente com o passado”, pontuou.
Um aluno presenteou Daniel com um trabalho escolar que fez sobre o escritor.
Ao final do encontro, os dois escritores conversaram com o público e autografaram seus livros.
O ciclo educativo reuniu docentes da educação básica e licenciandos, além do público em geral e contou com o apoio da Secretaria de Educação do Município de Niterói/RJ e o Coletivo Casulo de São Gonçalo.
O chefe do Serviço de Atividades Culturais, Fernando Esteban, afirmou que um “novo mundo é possível e está nascendo nas salas de aula, mas também nas aldeias, que é uma dimensão que a gente não percebe”.
Paralelamente, ao evento realizado na UFF, o Museu/ Funai está realizando, nos dias 8, 11, 12 e 13 de novembro, atividades em escolas da rede pública de ensino de São Gonçalo e Niterói, com contação de histórias e uso materiais lúdicos.
O XX Encontro de Escritores e Artistas Indígenas
Com o tema “O futuro é ancestral?”, o encontro propõe discutir os movimentos que a literatura tem trilhado na formação da consciência do povo brasileiro a partir de mesas de debates compostas por autores indígenas e especialistas na temática da literatura indígena.
São três ciclos de debate que visam promover discussões interconectadas sobre literatura e arte indígenas: o segundo ciclo, acadêmico, será realizado também na UFF, no dia 10 de dezembro, e o terceiro, cultural, acontecerá na Biblioteca Nacional, dias 11 e 12 de dezembro.
As artes de divulgação do encontro foram feitas especialmente pelo artista Gustavo Caboco.
Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público.