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Em roda de conversa no Museu, a poeta Ellen Wassu fala da expropriação e afirmação da imagem indígena
O Museu/ Funai recebeu a poeta Ellen Lima Wassu para uma conversa sobre sua obra com mediação da professora Lívia Penedo Jacob (UERJ – Faperj), no dia 13 de setembro. Ela começou falando sobre o povo a que pertence, os Wassu Cocal, de Alagoas. Contou que, apesar de ter nascido na periferia do Rio de Janeiro, mantém uma forte ligação com seu território, suas origens e história.
Durante toda sua vida Ellen tem alternado temporadas no território e em outros lugares. Hoje, mora em Portugal onde cursa doutorado no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho.
“Eu sempre soube quem eu era. Minha mãe nunca me deixou me declarar branca em nenhum lugar”. Mas conta que, por outro lado, não se reconhecia como pessoa indígena no Rio de Janeiro, porque o imaginário que se impõe é do indígena na floresta, isolado. “A minha imagem foi expropriada. Ser indígena era uma vergonha pra mim e para muitos parentes. Fomos perdendo o direito de sentir amor pelas nossas imagens. Até a imagem que foi produzida sobre nós não respeita nossa individualidade, nossa identidade”.
Ela fala também sobre a afirmação de sua identidade indígena nordestina e sobre a identificação da presença indígena nas tradições nordestinas. “O Nordeste não tem herança indígena, o Nordeste tem presença indígena. Nós continuamos presentes”, diz. “A cultura é viva”, destaca.
Ao longo de sua fala, Ellen leu vários poemas do seu livro Yby kûatiara: um livro de terra. “Esse livro é dividido em duas partes: a primeira são poemas de amor a essa terra e por tudo que essa terra tem; a segunda sou eu mesma com a flecha não mão, com raiva, atirando para todos os lados”, explica. “A arte indígena contemporânea, não importa se é literatura, fala do corpo indígena no território”, completa.
Ellen Wassu é autora também de “Ixé ygara voltando pra ’y’kûá” (2021), pela editora Urutau, e coautora da coletânea “Volta pra tua terra”, uma antologia de poetas antifascistas e antirracistas em Portugal (2021).
A Roda de conversa com Ellen integrou o ciclo “Corpo-território: linguagens e poéticas indígenas”, que ocorreu entre 11 e 13 de setembro. O evento foi organizado pelas professoras Alessandra Seixlack (História – UERJ), Paloma Carvalho Santos (PPGARTES – UERJ), Lívia Jacob (Letras – Faperj/UERJ) e de Ellen Lima Wassu (CEHUM).