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Direção do Museu do Índio convida Daniel Munduruku e Anápuáka Tupinambá para compor Conselho Consultivo do órgão
O escritor, educador e ator Daniel Munduruku e o coordenador do Grupo Raízes Históricas Indígenas (RAHIS) e da Rádio Yandê, Anápuáka Tupinambá, visitaram o Museu do Índio, dia 11 de janeiro. Ambos foram convidados pela diretora do Museu do Índio, Fernanda Kaingáng, para integrarem o Conselho Consultivo do órgão, que está em fase de constituição. Daniel veio acompanhado da atriz Suyane Moreira, que também é indígena e atua junto com ele na novela “Terra e Paixão” da Rede Globo.
O Conselho deverá contar com pelo menos um representante de cada um dos seis biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal) e seus membros terão como missão acompanhar, aconselhar e referendar as decisões da direção do Museu, de modo a assegurar que os povos indígenas de todo o país tenham representação e sejam contemplados no planejamento e nas definições de políticas públicas que vierem a ser propostas pelo órgão. Daniel já havia integrado o Conselho Consultivo do Museu do Índio numa outra gestão.
Durante o encontro, Fernanda Kaingáng destacou: “a cultura é parte mais atraente do mundo indígena e é por ela que conseguiremos avançar nas nossas lutas. A cultura é a razão de termos direito ao território, saúde e educação específica e diferenciada. Por isso, é muito importante a participação de vocês (Daniel e Suyane) numa novela. Tem um alcance enorme, muito mais do que um trabalho educativo que conseguíssemos fazer. Precisamos trazer essa simpatia para as nossas demandas”. Ela lembrou que nos últimos anos foi preciso dedicar muito tempo e esforço às lutas pelo território, o que fez com que a pauta de cultura recebesse menos atenção. “Agora, nós vamos fortalecer essa pauta”, pontou.
Fernanda falou sobre várias propostas para dar espaço à cultura viva dos povos indígenas no Museu do Índio. “Temos de superar a ideia de um museu como uma vitrine de vidro. Queremos um museu vivo e atuante, que represente os nossos 305 povos indígenas”, explicou. Entre suas sugestões estão a promoção de rodas de conversas; contações de histórias; curadorias indígenas; eventos e premiações culturais em diversas áreas; entre outras iniciativas.
Na ocasião, Daniel Munduruku manifestou interesse em promover um evento literário, ainda nesse semestre, no Museu do Índio e propôs a promoção de oficinas de escrita criativa com autores indígenas. Já Anápuáka, que tem formação em HiperMuseus – que incorporam a cultura digital às atividades museais – propôs a implantação de alternativas inovadoras em comunicação que deem maior visibilidade e atraiam o interesse do público para os diferentes acervos do Museu do Índio. Defendeu também a educomunicação - práticas educacionais que visam construir ecossistemas comunicativos nos mais diferentes ambientes de relacionamento humano.
Fernanda Kaingáng mencionou a intenção de discutir formas de as universidades promoverem reparação acadêmica, com ações como concessão de títulos “honoris causa” aos anciãos, pajés, rezadeiras, bezendeiras, parteiras indígenas. “Quando queremos contratar um pajé para uma consultoria, não conseguimos viabilizar porque esbarramos na falta de formação acadêmica”. Defendeu ainda a adoção de autores indígenas como referências teóricas nas licenciaturas interculturais, desenvolvimento de linhas de pesquisa e docência indígena. “Precisamos de ‘pluriversidades’ em vez de universidades”, enfatizou.
Ela apontou ainda a necessidade de haver maior presença de doutores indígenas nas universidades; o estímulo à produção de obras acadêmicas sobre povos indígenas escritas pelos próprios representantes dos povos; a implantação de licenciaturas culturais e cursos de pós-graduação com indígenas à frente das cadeiras.
Ao final da visita, Daniel Munduruku autografou livros de sua autoria que integram o acervo bibliográfico do Museu.