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Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular promove exposição sobre arte indígena com apoio do Museu
O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) inaugura, no dia 23 de maio, com apoio do Museu Nacional dos Povos Indígenas/ Funai, a exposição “Tkai wamsrē, wanõr tê dasiwawē: barro, nosso parente ancestral”, exibindo peças cerâmicas do povo Xakriabá. A mostra será realizada na Sala do Artista Popular (SAP) e apresenta a arte cerâmica desse povo, desde a retirada do barro até a queima das peças, num ciclo que envolve respeito à natureza, além de cantos e rezas tradicionais.
Entre os itens expostos estão peças decorativas, a exemplo das moringas zoomórficas produzidas pelo artista e pesquisador Nei Xakriabá, os bichinhos e bustos feitos por Dona Dalzira, e as máscaras e bustos criados por Dona Zelina, e as peças utilitárias, como panelas, travessas, pratos, copos, xícaras e moringas, de autoria de Dona Laura, Ivanir e Arlinda.
A abertura da exposição vai contar com as presenças de Nei Xakriabá, Ivanir Xakriabá, artesã e ceramista, Célia Xakriabá, deputada federal PSOL/MG, Ana Maria Rabelo Gomes, professora titular da Faculdade de Educação da UFMG e fundadora da Formação Intercultural para Educadores Indígenas. Todos vão participar também de Um Dedo de Prosa sobre a cultura Xakriabá no dia 24 de maio, às 10 horas, no auditório do CNFCP, como parte das atividades do Programa SAP.
A relação dos Xakriabá com o barro
O barro é a matéria prima com que se faz peças artísticas no Território Xakriabá. Os cuidados começam com o planejamento para sua retirada, o que envolve a escolha da fase da lua ideal para a tarefa, que é na transição do quarto crescente para cheia. É preciso escolher também o tipo de barro a ser usado de acordo com a peça que será produzida. Há barro com mais umidade e arenoso e o barro mais oleoso e puro. Antes da retirada, os artesãos do povo cantam e rezam, pedindo licença e agradecendo à natureza.
Ney Xakriabá desenvolveu uma pesquisa com os mais velhos, grandes sábios de seu povo, em torno da cerâmica tradicional, ativando a retomada de uma prática ancestral que estava adormecida. Como resultado, escreveu o livro Manual de Cerâmica Xakriabá, publicado em 2017 pela editora Fino Traço. Ele conta que, segundo os mais velhos de seu povo, “o barro é um parente ancestral, pois traz em seus elementos as forças dos antepassados. O barro sente vibrações, escuta, conecta e se desconecta do próprio corpo do artista. Na verdade, é o barro quem conduz o trabalho do artista durante a modelagem", conta.
De acordo com o artesão, o processo de produção da cerâmica envolve várias etapas e cada uma delas é acompanhada por cantos. Após a retirada do barro, os torrões são batidos para remover a sujeira, como pedaços de raízes e pedras. Com os toás, pedaços de rochas minerais que se dissolvem na água depois de serem quebrados, as peças recebem cores, que podem ser claras - branco, amarelo e rosa – ou escuras - preto e roxo.
A decoração das peças é feita com os desenhos da pintura corporal Xakriabá e também com imagens de plantas, folhas e animais. Depois de pintadas, as peças são colocadas para secar à sombra, onde não recebem muito vento. Quanto mais tempo a peça permanece secando, menor é o risco de rachar durante a queima.
A fase seguinte é enfornar e queimar. Para enfornar, é preciso muito cuidado. As peças maiores e mais pesadas ficam por baixo e as mais leves por cima. A queima dura um dia. E antes de serem retiradas do forno, elas precisam esfriar. Neste ciclo do fazer cerâmico, onde o respeito e o cuidado se destacam, "pode-se dizer que o barro se inscreve no próprio corpo do artista, além de ocupar diferentes lugares no corpo das aldeias, como no interior das casas, dos ateliês, da escola e dos fornos coletivos...Compreendo os artistas e o barro a partir de uma relação de parentesco (descendência). Pode-se dizer que vidas transformam o barro, mas também são transformadas por ele", conclui Nei Xakriabá.
O povo Xakriabá
As Terras Indígenas Xakriabá e Xakriabá Rancharia ficam localizadas no município de São João das Missões, no norte do estado de Minas Gerais, no Vale do Rio São Francisco. Eles são um dos poucos povos indígenas que habitam o estado e têm sobrevivido às investidas, primeiro dos bandeirantes e mais recentemente de pecuaristas e garimpeiros, que ocuparam seu território e contra os quais lutam para ampliar suas terras demarcadas.
O povo também se dedica à retomada de sua cultura. Em diferentes momentos, nos 400 anos de contato com os não indígenas, os Xakriabá foram proibidos de praticar seus costumes e de falar sua língua Akwë. Desde 1997, com o desenvolvimento das escolas indígenas, a educação busca fortalecer práticas tradicionais e, hoje, conta com um calendário que contempla a cultura e arte tradicional, da qual a cerâmica faz parte.
Serviço:
Exposição: Tkai wamsrē, wanõr tê dasiwawē: barro, nosso parente ancestral
Onde: Sala do Artista Popular
Inauguração: 23/05/2024, às 17h
Período: 23/05 a 28/07/2024
Dias e horários: Terça a sexta-feira, das 10h às 18h
Sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h
Informações: atendimento.cnfcp@iphan.gov.br
Um Dedo de Prosa - Cultura Xakriabá
Onde: Auditório do Museu da República
Inauguração: 24/05/2024, às 10h