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Tese sobre Berta Ribeiro destaca suas contribuições para Antropologia, Museologia e História
A historiadora Bianca França defendeu tese sobre a trajetória da antropóloga, etnóloga e museóloga Berta Ribeiro, em agosto de 2023, na Fundação Getúlio Vargas. Para sua pesquisa, Bianca visitou o Museu do Índio (MI), instituição onde Berta atuou como pesquisadora e formadora de coleções etnográficas, e fez registros fotográficos de coleções formadas pela antropóloga, de espaços do museu, além de uma entrevista com o cacique Carlos Tukano.
Berta Ribeiro conheceu Tukano em sua aldeia, Pari-Cachoeira, localizada no Alto Rio Negro. Bianca explica que “em diferentes épocas, ela pesquisou os trançados de arumã e de outros gêneros vegetais, a variedade de formas e técnicas de objetos materiais, o seu uso e função na economia da mandioca e da pesca, entre os indígenas Tukano e Desana do Alto Rio Negro”.
Nessas pesquisas na região, a antropóloga colocava em prática “sua relação de estreita colaboração com os indígenas”. Ela teve contato também com Umusi Pärökumu (Firmiano Arantes Lana) e Tolamãn Këhíri (Luiz Gomes Lana), pai e filho da etnia Desana, e os incentivou a redigir e ilustrar os mitos de seu povo, o que deu origem ao livro “Antes o mundo não existia. Mitologia dos antigos Desâna-Kèhíripõrã”, publicado em junho de 1980. Essa foi a primeira obra de autores indígenas abordando sua própria cultura e é considerada pioneira da etnologia brasileira.
Em seu estudo, Bianca também destaca que dentre as muitas contribuições para a Antropologia, Museologia e História, Berta “utilizou os estudos de cultura material e arte visual dos indígenas brasileiros como fio condutor para abordar temas ecológicos e de defesa do meio-ambiente, e contribuiu para os estudos de Antropologia Ecológica com seus estudos sobre TecEconomia indígena e a proposição do uso social da tecnologia indígena para uma exploração mais sustentável dos recursos naturais e defesa da natureza”.
Uma outra vertente do trabalho de Berta, analisada na tese, diz respeito ao papel dos museus. “Berta lia os objetos, os colecionava e promovia estudos museológicos sobre esses objetos, porque acreditava que esses estudos poderiam apoiar a causa indígena e via os museus como meio de educação pública”, ressalta Bianca.
Essa percepção sobre o papel do museu não coadunava com a visão predominante no início do século XX. Na época, acreditava-se que os povos indígenas corriam risco de serem extintos e por isso era preciso formar coleções etnográficas, as quais se constituiriam num “registro palpável da diferença e, antes que essa desaparecesse, era fundamental aprisioná-la, para que ela fosse preservada, estudada e exibida”.
Bianca explica que a partir da década de 1960, tornou-se perceptível um decréscimo de novas coleções etnográficas nos museus brasileiros e uma estagnação nos estudos de cultura material. A nova geração de antropólogos não demonstrava interesse nos aspectos da cultura material, mas Berta sabia da importância de seu trabalho. Seu interesse era mostrar as sabedorias indígenas através das suas etnografias, das coleções, das exposições e dos seus livros.
No Museu do Índio, Berta Ribeiro foi responsável por catalogar a maior parte dos itens do acervo da instituição até a década de 1980. São 7.961 objetos, das categorias de objetos rituais, mágicos e lúdicos; armas; instrumentos musicais e de sinalização; utensílios e implementos de materiais ecléticos, trançados e etnobotânica de 98 povos do Brasil, Peru e Equador. Hoje, a pesquisadora dá nome a maior reserva técnica do museu em espaço físico, abrigando utensílios de madeira, objetos rituais, mágicos e lúdicos, armas e trançados. Além do Museu do Índio, Berta trabalhou no Museu Nacional e doou uma coleção de objetos dos indígenas Asuriní ao Museu Paraense Emílio Goeldi.
“O que é possível analisar no hábito colecionista de Berta, é que a antropóloga buscava peças esteticamente belas e que prezava por objetos utilitários. As coleções de Berta possuem objetos do dia a dia, que demonstram as práticas produtivas e sociais dos indígenas, somada a descrição minuciosa que fazia dos objetos coletados, a fim de estuda-los e registrar a tecnologia indígena empregada na produção desses objetos”, destaca o estudo.
A tese de Bianca deu origem ao documentário intitulado "Para Berta, com amor", que será lançado para o grande público, dia 23 de novembro, às 18:30, no evento Scientiarum História XVI da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão.