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Parceria com a Unesco é renovada e assegura continuidade de programas de documentação de línguas e culturas indígenas
- Foto: Divulgação Ascom/Funai
As iniciativas desenvolvidas pelo Museu do Índio para valorizar, preservar e difundir as línguas e culturas indígenas consolidaram o órgão como referência internacional na salvaguarda e na divulgação do patrimônio cultural indígena brasileiro. Esse destaque se deve à progressiva ampliação de sua capacidade técnica e operacional para documentação linguística e cultural, construída a partir de várias parcerias institucionais promovidas pela Fundação Nacional dos Povos Índigenas (Funai). A principal delas, com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi renovada no dia 11 de dezembro.
As representantes da Unesco Virgínia Casado e Greciane Lopes foram recebidas na sede da Funai pela presidenta Joenia Wapichana, pela nova diretora do Museu do Índio, Fernanda Kaingáng, e pela diretora de Administração e Gestão (Dages), Mislene Mendes. A coordenadora Técnico Científica do museu, Elena Guimarães, e o coordenador de Divulgação Científica, Felipe Lucena, participaram da reunião de forma virtual.
A renovação da parceria institucional envolve revisão do projeto “Salvaguarda do Patrimônio Linguístico e Cultural dos Povos Indígenas Transfronteiriços e de Recente Contato da Região Amazônica”, que vem sendo desenvolvido desde 2016. O projeto visa o fortalecimento das bases de conhecimento técnico-científico e dos instrumentos de intercâmbio entre o Brasil e o exterior nos campos da linguística e dos estudos da cultura de povos indígenas.
No âmbito desse projeto são desenvolvidos pelo Museu do Índio o Programa de Documentação de Línguas (Prodoclin) e o Programa de Documentação de Culturas (Prodocult).
O Prodoclin vem produzindo uma grande variedade de materiais em parceria com povos tradicionais, a exemplo de cartilhas de vocabulário, gramáticas, dicionários e acervos digitais multimídia. Além disso, foi lançada a plataforma digital Japiim que congrega dicionários de línguas indígenas digitais. As primeiras versões nas línguas Guató, Ye’kwana, Sanöma e Kawahiva foram lançadas no Google Play, em maio de 2021. Essa plataforma foi uma contribuição do Brasil na preparação para a Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032).
A presidenta Joenia Wapichana expressou que a parceria com a Unesco “é importante para a Funai no sentido de valorizar o patrimônio e a cultura indígena. A Funai está bastante aberta a parcerias”, enfatizou.
Virgínia Casado pontuou que esse projeto é “ancorado em resultados”, constituindo ainda uma boa oportunidade para dar a visibilidade que o Brasil merece na Década Internacional das Línguas Indígenas. Ela também manifestou sua satisfação em retomar o diálogo com a Funai, tendo em vista que vários projetos em parceria com a Unesco foram “sumariamente cancelados” no governo anterior.
A nova diretora do Museu, Fernanda Kaingáng, falou sobre a importância do aprimoramento desse projeto de salvaguarda com base nos padrões de excelência da Unesco, nos tratados internacionais sobre patrimônio cultural e imaterial, e no protagonismo e processos consultivos dos povos indígenas. Nesse sentido, a diretora Mislene Mendes destacou a valorização da participação dos anciãos, considerando que são importantes fontes de conhecimentos culturais e tradicionais de seus respectivos povos.
No final da reunião, Virgínia Casado comentou sobre a exposição Nhe’ē Porã, a qual inaugurou em 2022 a Década Internacional das Línguas Indígenas no Brasil. Com curadoria de Daiara Tukano e curadoria especializada no tema da linguista Luciana Storto, a mostra será exibida na sede da Unesco em Paris, de 13 a 27 de março de 2024.
A exposição foi organizada pelo Museu da Língua Portuguesa com a cooperação da Unesco, Museu do Índio, Instituto Socioambiental (ISA), Museu da Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP), e Museu Paraense Emílio Goeldi. Acesse aqui a exposição de forma virtual.
Essa exposição conta com registros sonoros e audiovisuais, produzidos pelo Museu do Índio, de cantos, falas cotidianas e narrativas de indígenas de diferentes etnias, todos com tradução para o português. Entre os registros selecionados estão os dos troncos linguísticos Macro Jê, Tupi-Guarani e Aruak. Em abril de 2024, a mostra será exibida no Museu de Arte do Rio (MAR).