Notícias
Museu do Índio e Museu da República promovem Mostra de Arte e Cultura Fulni-ô
> Fotos Coletivo Fulni-ô de Cinema
Nos dias 19 e 20 de dezembro, o Museu do Índio e o Museu da República vão promover a Mostra de Arte e Cultura Fulni-ô, com exibição de filmes produzidos pelo Coletivo Fulni-ô de Cinema; apresentações sobre a história e a cultura Fulni-ô e a medicina tradicional da etnia. Nos jardins do museu serão realizadas pinturas corporais e cantos e danças tradicionais, conduzidos por X'mayá Kaka Fulni-ô, colaborador do Museu do Índio.
Durante a Mostra de Cinema “Se Djnese Fulni-ô - Por trás de Nossas Lentes Indígenas” será lançado o documentário: “Setso Sato Sekhe Fthowke - Povos Originários em um Só Corpo”, dirigido por Hugo Fulni-ô e realizado durante o Acampamento Terra Livre (ATL) de 2023.
O documentário fala sobre o protagonismo dos povos originários, em meio ao avanço do movimento indígena, apresentando a representatividade dos indígenas no cenário político.
Serão exibidos também os filmes “Xixiá mestre dos cânticos Fulni-ô”, que recebeu o Prêmio Lente Ancestral, promovido pelo instituto Alok, no Festival de Cinema e Cultura Indígena (Fecci) de 2022; “Mulheres Fulni-ô: tecendo histórias”, de 2022, e “Guardiões de um Tesouro Linguístico”, de 2019.
“Xixiá mestre dos cânticos Fulni-ô” fala das cafurnas do povo Fulni-ô, cânticos na língua Yaathe criados e entoados pelo mestre Abdon dos Santos. O ancião, que é considerado um patrimônio vivo do povo indígena Fulni-ô, criou as cafurnas a partir de um sonho que teve nos anos 1970.
“Mulheres Fulni-ô: tecendo histórias” retrata a memória e as práticas do tecer com a palha do coqueiro ouricuri, símbolo da língua Yaathe e de manutenção dos saberes do Povo Fulni-ô. Já “Guardiões de um Tesouro Linguístico” é narrado em Yaathe e mostra detalhes da cultural local.
Hugo Fulni-ô e Wayaty Fulni-ô, integrantes do Coletivo Fulni-ô de Cinema, vão conduzir a roda de diálogos sobre cinema indígena, mostrando como a atividade contribui para a salvaguarda de sua cultura e, principalmente, da língua Yaathe, que está ameaçada de extinção. Será uma oportunidade de conversar sobre o que é o cinema indígena e como os povos indígenas pensam e utilizam essas ferramentas tecnológicas.
“Nossas produções cinematográficas possibilitam enxergar o outro lado da história, contada por nós indígenas. Isso porque foram muitas formas de apagamentos de nossas histórias. Hoje, nós povos originários estamos ocupando esse espaço de direito que antes era negado. Nossa voz está chegando mais longe em forma de imagem e som. Assim, partimos de nossa aldeia para o mundo entender a singularidade de nosso povo indígena.”, destaca Hugo Fulni-ô.
Além da mostra de filmes, haverá uma apresentação sobre a História e Cultura do Povo Fulni-ô, que habita o município de Águas Belas, no sertão nordestino, a 273 quilômetros de Recife (PE). A apresentação será conduzida por Mextle Fulni-ô e Xowá Fulni-ô. Eles vão exibir fotos e vídeos que retratam a história do povo Fulni-ô, e farão uma breve apresentação sobre a cultura de seu povo.
A vida cotidiana dos Fulni-ô se desenvolve em três aldeias: Fulni-ô, Ouricuri e Xixiaklá. Na Ouricuri, considerada sagrada pelo povo, ocorre o ritual de mesmo nome, entre os meses de setembro e novembro. Todos os integrantes da comunidade falam o português. Já a língua tradicional, o Yathê, é falada principalmente pelos adultos e anciãos.
Outra apresentação será sobre a Medicina Tradicional Fulni-ô, com apresentação do mestre Xicê Fulni-ô e de Tiwá Fulni-ô. Eles vão falar sobre tratamentos fitoterápicos ancestrais de seu povo, como utilizam as plantas e como os não indígenas também podem usá-las. “Para nós Fulni-ô, medicina é também se alimentar bem, cantar, fumar cachimbo, fazer rezas. Promoção da saúde é ficar conectado com o sagrado”. Eles trarão algumas plantas e também produtos medicinais manipulados.
Todas as apresentações serão seguidas de rodas de conversa com o público.
Coletivo Fulni-ô de Cinema (CFCI)
O Coletivo foi formado, em 2013, no aldeamento Fulniô situado no município de Águas Belas, em Pernambuco, com o objetivo de defender, preservar, conservar e salvaguardar a cultura indígena Fulni-ô e promover o desenvolvimento sustentável da etnia.
Assim como outros coletivos de cinema indígena, o CFCI é resultado do projeto Vídeo nas Aldeias, desenvolvido desde 1987 pelo antropólogo, indigenista e documentarista franco-brasileiro Vicent Carelli. A partir desse projeto, os povos indígenas superaram a condição de objeto de estudo para começarem a narrar, a partir de suas perspectivas, suas histórias e culturas.
Um dos fundadores do Coletivo, Hugo Fulni-ô explica: “o cinema indígena vem buscando difundir toda riqueza cultural de nossos povos. É uma ferramenta de luta e afirmação da identidade dos povos originários do Brasil, mediante a salvaguarda dos nossos saberes”.
O Museu da República fica localizado na Rua do Catete, 153, bairro do Catete, no Rio de Janeiro.