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Empréstimo de Acervo
Documentário premiado no Festival de Montreal conta com registros do acervo do Museu do Índio
Material filmográfico do acervo do Museu do Índio (MI) foi utilizado pelo diretor Joel Pizzini para recriar, no documentário "Rio da Dúvida", a Expedição Científica Roosevelt-Rondon (1913-1914), comandada pelo então coronel Cândido Rondon e o ex-presidente americano Theodore Roosevelt. O filme foi premiado na categoria de melhor documentário do Festival Independente de Montreal, Canadá.
Entre o material cedido pelo MI estão imagens originais do início do século XX, provenientes de fundos documentais de órgãos públicos que realizaram trabalhos com os povos indígenas, como o Conselho Nacional de Proteção aos Índios (CNPI), a Comissão Rondon e o Serviço de Proteção aos Índios (SPI).
Esses fundos custodiados pelo MI relatam a atuação do Estado brasileiro em relação aos povos indígenas e ajudam a recontar muitas histórias. Há imagens de rituais e festa Bororo; funeral Bororo; epopeia da Comissão Rondon e fragmentos de vários filmes da Comissão Rondon.
Diversas imagens são inéditas e foram realizadas pelo tenente Luiz Thomaz Reis, conhecido como o “cinegrafista de Rondon” e outros pioneiros do cinema, e reunidas, durante 35 anos de pesquisas, pelo cineasta Mario Civelli.
A sede do Museu do Índio, situada no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, também foi cenário para algumas entrevistas exibidas no documentário, como as realizadas com as filhas de Rondon: Maria Elizabeth, Maria Cecília, Maria Ignez e Beatriz Rondon Amarante.
A expedição
O filme recria a expedição que atravessou regiões do Pantanal, Cerrado e Floresta Amazônica, tendo como principais personagens o rio no interior da Floresta Amazônica; um coronel do Exército brasileiro que desbrava inexploradas regiões do Centro-Oeste e Norte para implantar o telégrafo; um ex-presidente norte-americano que almeja ser reconhecido como grande desbravador; e um jovem tenente que ao registrar as imagens das expedições de Rondon e os costumes dos indígenas se torna um dos pioneiros da cinematografia nacional.
A narrativa mostra as agruras por que passaram os integrantes da expedição, como fome; sede; frio; calor escaldante; tempestades tropicais; nuvens de mosquitos vorazes; animais e insetos peçonhentos; e apresenta os choques e embates entre Rondon e Roosevelt, provocados por personalidades e visões de mundo díspares.
Conhecido como aventureiro, Roosevelt, que havia sido derrotado na eleição de 1912 após dois mandatos consecutivos, aceitou convites para fazer conferências na Argentina, Brasil e Chile. Para melhor aproveitar a viagem à América do Sul, apresentou ao Museu Americano de História Natural de Nova York um projeto para obter espécimes da fauna brasileira. Para isso, pretendia atingir o vale do rio Amazonas, desbravando o inexplorado sertão brasileiro.
Prevendo a repercussão internacional que a empreitada teria, o governo brasileiro sugeriu o nome do coronel Rondon para acompanhar a expedição, além de ajuda logística para o transporte de até cinco toneladas de bagagens.
Na ocasião, o militar era o responsável pela implantação de linhas telegráficas visando à integração nacional e aceitou participar com a condição de que a expedição tivesse um caráter exclusivamente científico, com estudos de História Natural e de Geografia, e não uma mera viagem para caçadas.
Rondon preparou cinco alternativas de itinerário, e, contrariando preocupações com a segurança, Roosevelt escolheu o mais perigoso: a exploração do rio da Dúvida, assim denominado porque ninguém sabia onde iria desaguar, e que atravessava uma região que, até então, só havia sido percorrida por indígenas. Atualmente chamado Roosevelt, o rio nasce no estado de Rondônia e atravessa uma parte do Mato Grosso, entrando a seguir no estado do Amazonas, onde se torna um afluente do rio Aripuanã.
Para recontar essa história mais de um século depois, o filme utiliza, além das imagens de arquivo, depoimentos diversos, como os das netas de Rondon e de lideranças de diversas etnias.