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Ailton Krenak cita a importância do acervo do Museu do Índio para resgate de línguas indígenas
Em entrevista ao jornal Estadão, no dia em que foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), Ailton Krenak citou a importância do acervo do Museu do Índio para o resgate linguístico dos povos originários.
Ele falou sobre a intenção de propor à ABL a criação de uma plataforma que reúna línguas nativas. E destacou que o acervo do Museu do Índio abriga registros de narrativas e falas. “A gente pode produzir uma tradução simultânea, e as pessoas vão poder ouvir nas duas línguas”, explicou.
Ele citou como exemplo, a Biblioteca Ailton Krenak, que abriga centenas de imagens, textos, filmes e documentos para acesso público. Sua proposta é fazer algo similar com as línguas nativas do Brasil. “A Academia Brasileira de Letras poderia incluir mais umas 170 línguas além do português”, observou.
De acordo com Krenak, a ideia é a valorização da oralidade, num trabalho a ser desenvolvido em parceria com as etnias visando o resgate linguístico. “O que ameaça essas línguas é a ausência de falantes”, comentou. De acordo com ele, um projeto como esse, num site, ajudaria a ampliar o alcance dessas vozes - e a preservá-las.
Portal Japiim
A direção do Museu do Índio considera excelente a proposta, pois ela vem ao encontro do trabalho de pesquisa e documentação de línguas realizado pela instituição, que tem como objetivo a preservação, revitalização e salvaguarda de línguas indígenas da Amazônia, especialmente aquelas que estão ameaçadas de extinção.
De acordo com a diretora substituta, Elena Guimarães, “será fundamental estabelecer diálogo entre o Museu do Índio e a Academia Brasileira de Letras, e apresentarmos o potencial dos projetos de documentação de línguas indígenas, e as ferramentas para divulgação e acesso a elas, como é o caso da Plataforma Japiim".
A plataforma reúne atualmente 15 dicionários multimídia de povos indígenas da Amazônia, produzidos pelo Museu do Índio por meio do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (Prodoclin). Além da pesquisa e documentação dessas línguas, o projeto envolve também a formação de pesquisadores indígenas no uso de ferramentas e metodologias de pesquisa na área de linguística.
Na plataforma é possível encontrar a pronúncia das palavras, exemplos de usos, além de fotos e vídeos. São disponibilizadas também versões em PDF dos dicionários para impressão e alguns deles dispõem de aplicativos para uso em aparelhos celular, cada vez mais presentes em comunidades indígenas.
O nome da plataforma foi inspirado na ave japiim ou xexéu, conhecida por diversas culturas amazônicas como um pássaro poliglota, por sua capacidade de imitar o canto de outras espécies.
Eleição de Krenak para ABL
Filósofo, professor, escritor, poeta, ambientalista e líder ativista da causa dos povos originários, Ailton Krenak foi eleito, no dia 5 de outubro, para a Academia Brasileira de Letras com 23 dos 39 votos. Ele assume a cadeira número 5, que pertenceu a Raquel de Queiroz e também a José Murilo de Carvalho, falecido em agosto deste ano. Disputaram com Krenak a historiadora Mary del Priore e o escritor Daniel Munduruku, que obtiveram, respectivamente, 12 e 4 votos. Ele é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL.
Nascido em 1953, na região do vale do rio Doce, em Minas Gerais, Krenak teve um papel de destaque na Assembleia Nacional Constituinte. Ele falou na tribuna no plenário da Câmara dos Deputados, em setembro de 1987, como representante da União das Nações Indígenas. Vestido com um terno branco, ele pintou o rosto com tinta preta de jenipapo, utilizada por sua etnia em situações de luto. Era um protesto contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos indígenas. A imagem tornou-se icônica.
Krenak é autor de diversos livros como "Ideias para adiar o fim do mundo", "A vida não é útil" e "O Amanhã não está à venda", “Futuro Ancestral”. Suas obras foram traduzidas para diversas línguas.