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O filme Funeral Bororo, do acervo do Museu do Índio, pode ser assistido em streaming no Festival Arquivo em Cartaz
- Foto: Arquivo MI - Aldeia Bororo
O filme “Funeral Bororo”, de Heinz Forthmann, realizado em 1953 com roteiro de Darcy Ribeiro, é uma das produções cinematográficas da oitava edição do Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo e poderá ser assistido na plataforma de streaming gratuita Amazôniaflix. A película integra do acervo do Museu do Índio e foi um dos itens cedidos ao Arquivo Nacional (AN) para a mostra.
Essa edição do Arquivo em Cartaz, que estreou dia 3 de novembro, é resultado de uma parceria com o MI e presta uma homenagem ao antropólogo Darcy Ribeiro, que esse ano completaria 100 anos.
Essa edição traz títulos que apresentam olhares sobre o mundo e os povos tradicionais e modernos que o habitam. Maria Elizabeth Brêa, pesquisadora do AN que divide a curadoria do festival com Mauro Domingues, traça um paralelo entre a relevância do olhar etnográfico para o registro da diversidade dos grupos retratados e a importância de se preservar esses registros audiovisuais. “Muitas vezes são esses registros que resgatam as práticas esquecidas, e que geralmente são difundidas pelo uso no dia a dia ou pela oralidade”.
Domingues explica que Arquivo em Cartaz foi o primeiro evento brasileiro de cinema a tratar do uso e reuso das imagens de arquivo. Segundo ele, é vital que todos os demais festivais de cinema, mesmo os de caráter comercial, busquem discutir a preservação audiovisual, e muitos deles já o fazem.
O MI fez a curadoria de filmes e imagens, e integrantes de seu corpo técnico participam de oficinas técnicas e mesa de debates. Com o tema “Filme Etnográfico: olhares sobre o mundo”, o festival será realizado até 13 de novembro.
Sobre o filme
A película mostra uma cerimônia fúnebre de um chefe Bororo, apelidado de cadete. Para conseguir realizar o filmagem, Heinz Forthmann e Darcy Ribeiro tiveram o auxílio fundamental do Marechal Rondon, que tinha ascendência bororo.
No documentário “Darcy Ribeiro: o guerreiro sonhador” de Fernando Barbosa Lima e Rozane Braga, Darcy conta que foi para a aldeia com uma gravação feita por Rondon para os Bororo, na qual ele pedia aos indígenas: “Olhe pra ele. Ele sou eu. Olhe. Os olhos deles são os meus olhos olhando pra vocês. Ele está vendo vocês pra mim. A boca dele fala a minha fala. Os ouvidos deles vêm aqui me dizer aquilo tudo que vocês disserem a ele. Ele sou eu. Olhem para ele. Deixem ele participar totalmente da cerimônia do cadete. Do sepultamento do cadete. E cheguei e tinha começado o sepultamento.
Quando um grande chefe morre, eles fazem um cerimonial imenso para que o mundo se equilibre. Para o mundo poder sobreviver. Então, pegam o morto e sepultam com um pouco de terra fofa em cima. E todos os dias derramam água. Isso durante quase um mês, para dar tempo de chamar todos os Bororo que existem, tempo de chegar ali para honrar aquele morto.
Nesse mês, eles dançam todas as grandes danças, todas as danças cerimoniais pro mundo se equilibrar, danças da criação do mundo. E ao fim desse período em que estão todos lá, eles tiram os ossos, a carne ficou líquida, liquefeita. Eles tiram os ossos, lavam os ossos e levam pra dentro da casa no cerimonial e lavam cada osso e ossinho e recamam com plumas. Ossos viram joias de plumas.
Enquanto isso, as mulheres arrancam todo o cabelo, os homens se escarificam se raspando e se rasgando com dente de peixe pra sangrar profundamente. Aí, pegam esses ossos recamados de plumas, põem num cesto branco, novo e levam no mato pra colocar na lagoa sagrada. Eu fui pra filmar isso lá a mando do Rondon”.
Mostras
O Festival conta com várias mostras paralelas:
Mostra Acervos – Filmes relacionados à temática do festival, agrupados em quatro sessões: “Homenagem”, “Filmes Etnográficos”, “Memória do Mundo – MoW” e “Dia do Patrimônio Audiovisual”.
Mostra Lanterna Mágica – Curtas produzidos, exclusivamente para o festival, pelos participantes da “Oficina Lanterna Mágica”, dedicada à formação de produtores de filmes com material de acervo.
Mostra Arquivos do Amanhã – Filmes produzidos por crianças, adolescentes e jovens que registram eventos ou tradições significativas de seu tempo.
Mostra Arquivo Faz Escola – Exibição do filme “Vam prá Disneylândia” (1985), de Nelson Xavier, seguida de roda de conversa entre especialistas e alunos do ensino fundamental e médio.
Todos os filmes podem ser assistidos no site AmazôniaFlix.