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Museu do Índio realiza balanço de atividades do ano de 2021
Pesquisadora Francineia Bittencourt, do povo Baniwa, realizando qualificação do acervo. Foto: COPAC/MI
O Museu do Índio (MI), órgão científico-cultural da Fundação Nacional do Índio (Funai) responsável pela Política Pública de Preservação de Bens Culturais, Línguas, Culturas e Acervos Indígenas, realizou um balanço das atividades realizadas em 2021.
Apesar dos desafios impostos pela continuidade da pandemia de covid-19, até setembro de 2021, foram preservados 21.174 bens culturais. Durante o ano, o museu ainda realizou o processamento técnico e qualificação da coleção de 64 itens incorporados ao acervo museológico em 2020, resultante da pesquisa “Vida e Arte das Mulheres Baniwa, uma visão de dentro para fora”.
Outro processo importante para a preservação dos acervos é a difusão, por meio de empréstimo ou cessão. Em 2021 o MI realizou empréstimo de itens do acervo museológico para integrar exposição Gente-Peixe , no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB). Esta foi a primeira mostra realizada no CRAB dedicada exclusivamente às culturas indígenas brasileiras.
O MI também obteve resultados positivos em relação ao acesso a seus acervos, devido ao investimento realizado na digitalização dos acervos, bases de dados e repositórios digitais, o que possibilitou a continuidade ao atendimento a pesquisadores e acesso aos arquivos digitais. Além disso, a instituição também deu continuidade às contratações necessárias ao aprimoramento das condições e infraestrutura para preservação e garantia da segurança dos acervos, adequando as condições físicas dos espaços de guarda deles, modernizando a infraestrutura elétrica, e identificando e diagnosticando as condições de preservação da sede do museu, um casarão tombado, construído em 1880, e que abriga as exposições de longa e curta duração, biblioteca e acervo bibliográfico.
Em 2021, o MI também realizou estudos necessários à reabertura da loja Artíndia, além de realizar procedimentos de preservação constantes e investir no aprimoramento das técnicas de monitoramento e controle dos estoques, com a implementação de um sistema de endereçamento logístico.
Línguas indígenas
Durante o ano de 2021 o MI deu continuidade ao projeto de divulgação técnico-científica para contribuir com a preservação e revitalização de línguas indígenas ameaçadas. A iniciativa teve como objetivo ampliar o acesso dos povos indígenas e de não indígenas aos acervos e documentos linguísticos, além de fortalecer as bases de conhecimento científico sobre línguas e culturas relacionadas a esses povos.
Ao longo do ano, foi desenvolvida a versão beta da plataforma web de dicionários multimídia de línguas indígenas (Japiim) , incluindo aplicativos para celulares e tablets Android. São as primeiras versões da ferramenta online, que tem por objetivo abrigar, de forma integrada, um banco de dados lexicais e de mídia sobre línguas indígenas faladas no Brasil. A plataforma pretende ser uma ferramenta tanto de publicação como de elaboração e edição colaborativa desses bancos de dados.
Atividades de capacitação de indígenas para técnicas de documentação em audiovisual.
O Centro de Formação Indígena em Audiovisual de Goiânia (CAud-MI) , unidade descentralizada do MI localizada em Goiânia/GO, realizou oficinas de introdução ao audiovisual, na modalidade on-line, para indígenas. As oficinas de introdução a técnicas básicas de filmagem e edição utilizando celular, ministrada pelos cineastas indígenas Graciela Guarani, Alberto Alvares e Takumã Kuikuro; e de animação em stop-motion, ministrada pelo professor Flávio Gomes, da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, foram destaque em 2021, recebendo inscrições de representantes indígenas de diversas etnias, e diferentes regiões do país. Do total de inscritos, 64 pessoas participaram e concluíram os cursos, entre elas alunos das etnias Anacé, Karajá, Kariri, Pataxó, Karão Jaguaribas, Potiguara, Tarairiú, Xukuru, Akroá Gamela, Tapirapé, Tupi e Xavante.
Projetos culturais propostos pelos indígenas
Entre julho e setembro de 2021, foi realizada a 1ª Chamada de Projetos Culturais 2021. Para projetos de documentação audiovisual de práticas, saberes e bens culturais, foram contempladas iniciativas propostas por representantes dos povos Zoró, Apurinã, Madjá (Kulina), Huni Kuin (Kaxinawá), Tingui, Botó, Xukuru, Kariri, Tabajara, Gueguê e Guarani Kaiowá.
Para projetos de produção de bens culturais para geração de renda, foram selecionadas iniciativas com a participação de representantes das etnias Potiguara, Tabajara, Warao e Kaingang e, por último, para projetos de produção de coleções etnográficas para salvaguarda, foram selecionados projetos apresentados por indígenas Munduruku, Krahô, Myky, Manoki, Kaingang, Nhandeva, Krenak e Guarani Mbya.
A divulgação dos acervos, projetos e atividades por meio de exposições, publicações e estratégias de comunicação para diferentes segmentos da sociedade nacional foi realizada pelos canais da instituição. Ao todo, foram produzidos 348 conteúdos nas redes sociais órgão, gerando 64.212 visualizações/engajamentos.
P rojetos educativos, culturais e de acessibilidade.
Mesmo no contexto da pandemia, que impôs o isolamento das comunidades indígenas e a suspensão das atividades presenciais nas escolas públicas e privadas, e ainda estando fechado ao público em virtude das obras de infraestrutura, o MI deu continuidade às atividades de divulgação das culturas indígenas para os estudantes, professores e público em geral, por meio de produtos audiovisuais.
As ações extramuros do programa Museu do Índio Viajando deram origem ao projeto Museu do Índio Viajando nas Redes. Por meio deste projeto, em 2021, foram lançados 21 vídeos que integram diferentes iniciativas, entre elas, o ciclo de vídeos Canaremundê Opeh – Puri em Sol , em parceria com o Museu Villa-Lobos; o ciclo Ana Pará Poty Kariri ; e a série Viver, Lutar, o modo de ser Guarani , lançada em agosto, em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, nas redes do Museu do Índio e no site da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) de São Paulo. Em 2021, houve também a produção e lançamento da mostra virtual Os Céus dos Povos Originários , em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST).
Metas para 2022
Em 2022, o museu tem como principais objetivos dar continuidade aos projetos de preservação e documentação de línguas, culturas e acervos. A instituição também atuará no desenvolvimento e lançamento de novos produtos de divulgação científica e cultural. Além disso, o MI realizará investimentos na infraestrutura necessária à execução das suas atribuições de preservação, divulgação e educação, visando à reabertura da instituição ao público indígena e à sociedade em geral. O órgão pretende, ainda, intensificar as atividades de comunicação, com o objetivo de levar conteúdo ao público externo de forma dinâmica e inovadora.
O museu
O MI tem sob sua guarda um significativo conjunto de bens culturais de natureza arquivística, museológica e bibliográfica sobre esses povos. O acervo etnográfico da instituição reúne mais de 20 mil objetos contemporâneos que são expressões da cultura material de 150 povos indígenas brasileiros. Suas origens remontam à década de 1940 e se estendem à atualidade, tendo em vista a crescente participação indígena nos processos para salvaguarda do patrimônio cultural e a constante incorporação de novas coleções obtidas diretamente junto a comunidades de todo o país.
O acervo arquivístico abrange conjuntos documentais de pesquisadores e fundos arquivísticos relativos à ação indigenista do Estado brasileiro desde o início do século XX, como o Fundo do Serviço de Proteção aos Índios (1910-1967), reconhecido pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade. Por fim, o acervo bibliográfico é composto de coleções especializadas nas áreas de etnologia indígena, antropologia e política indigenista.
Mais do que abrigar acervos de grande relevância histórica e etnográfica, o Museu conserva, pesquisa, documenta e promove o patrimônio cultural dos povos indígenas, o que lhe exige uma atuação integrada do ponto de vista das etapas da preservação e de divulgação, especialmente junto ao público escolar. No campo da investigação científica, o Museu do Índio é uma referência nacional em pesquisas antropológicas e linguísticas sobre os povos indígenas brasileiros, atuando em conjunto com pesquisadores, universidades e outras instituições científico-culturais com vistas à preservação e divulgação de informações qualificadas acerca de seu patrimônio cultural.
Além da unidade principal, no Rio de Janeiro, o Museu conta com unidades descentralizadas voltadas à capacitação de indígenas em audiovisual e a divulgação da cultura dos povos do Centro-Oeste: o Centro Audiovisual e o Centro Cultural Ikuiapá-CCI .
Com atuação pautada nos objetivos de reunir e disponibilizar informações qualificadas sobre o patrimônio cultural indígena, o Museu do Índio busca promover, em parceria com diversas etnias indígenas de todo o país e outras instituições, a revitalização das culturas e línguas indígenas, bem como uma maior conscientização sobre a sua importância na sociedade brasileira.