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Museu do Índio homenageia Berta Ribeiro no Dia Internacional da Mulher
Foto: Berta Ribeiro com pintura facial Kadiwéu. Mato Grosso, 1947 – Acervo/Museu do Índio
No dia Internacional da Mulher, o Museu do Índio (MI), órgão científico-cultural vinculado à Fundação Nacional do Índio (Funai), homenageia Berta Gleizer Ribeiro, que atuou na unidade, na década de 1980, coordenando o setor de museologia do órgão.
Muito além da esposa de Darcy Ribeiro, Berta representa, para o museu, uma referência para a recuperação da história da política indigenista e da antropologia brasileiras. O conjunto documental e etnográfico reunido pela cientista registra a trajetória dos povos indígenas do Brasil e sua cultura material, com ênfase para o artesanato.
Além de curadorias de exposições nacionais e internacionais sobre a temática indígena, Berta identificava e emitia laudos atestando a produção e condições de preservação de artefatos desses povos. Seus estudos taxonômicos são uma contribuição fundamental para a construção de uma terminologia específica para nomear e descrever a produção artesanal indígena.
O Dicionário do Artesanato Indígena, publicado em 1988, sistematiza parte desse conhecimento desenvolvido por Berta Ribeiro durante três décadas de pesquisas. Desde a sua publicação, o livro se tornou um importante instrumento de trabalho para museólogos e antropólogos que se dedicam ao estudo da cultura material indígena.
Ceramistas indígenas conhecendo a Reserva Técnica Berta Ribeiro
Atualmente, no MI, a maior reserva técnica do órgão traz o nome da pesquisadora, como uma merecida homenagem, já que Berta foi a responsável por catalogar a maior parte dos itens do acervo da instituição até a década de 1980. São 7.961 objetos, das categorias de objetos rituais, mágicos e lúdicos; armas; instrumentos musicais e de sinalização; utensílios e implementos de materiais ecléticos, trançados e etnobotânica de 98 povos do Brasil, Peru e Equador.
Berta apresenta uma preocupação em tirar a imagem de elite dos museus, promovendo uma integração entre museu e visitante, e também impulsionando ações educativas aliando museu, escola e comunidade, por meio de parceria formalizadas com a Universidade de Brasília (UnB) e Secretarias de Educação e Cultura do Distrito Federal.
Trajetória
Nascida em 1924, Berta formou-se em Geografia e História pela atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No período de 1953 a 1958 fez estágio no Museu Nacional, onde estudou a cultura material dos povos indígenas do Brasil e o tratamento e conservação da coleção do museu.
A partir de 1958, apoiou Darcy Ribeiro e Eduardo Galvão no planejamento e implantação do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília. Em 1976, retomou seus estudos em Antropologia e desenvolveu o projeto “A arte do trançado dos índios do Brasil”, com o auxílio de bolsa de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq. Também iniciou um curso de doutorado em Antropologia Social no Programa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).
Entre 1976 e 1985 foi assessora e pesquisadora do projeto Etnologia e Emprego Social da Tecnologia, iniciado a partir de um convênio entre a Financiadora de Estudos e Projetos e o Museu Nacional. Para realização dessa pesquisa, visitou o Parque Nacional do Xingu, em 1977, entrando em contato com as etnias Yawalapiti e Txikão, no sul do Parque, e com os Kayabi, ao norte. Também esteve no Alto Rio Negro, entre julho e novembro de 1978, quando conheceu os índios Desãna.
Durante essa estadia, Berta ajudou dois indígenas Desãna (Talomãn Kenhirí e Umúsin Panlõn Kumu) a registrar um conjunto de mitos indígenas, o que deu origem ao livro “Antes o mundo não existia”, de 1980. A publicação foi elogiada pelo público em geral e pela comunidade cientifica, devido ao pioneirismo de Berta em ceder os direitos autorais para os dois autores indígenas.
A antropóloga também foi responsável pela elaboração do plano-diretor e do planejamento da exposição inaugural do Memorial dos Povos Indígenas, de Brasília. O projeto contemplou tanto a questão da identidade quanto a conexão dos indígenas com o presente e o futuro. Berta ainda titulou-se doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), em 1980, com a tese “A civilização da palha: a arte do trançado dos índios do Brasil”.
Pouco antes de morrer, recebeu, em 1995, o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Cientifico, expedido pelo Presidente da República em reconhecimento à sua contribuição aos estudos antropológicos.
O acervo museológico de Berta Ribeiro não se trata apenas de um material complementar ao do marido, Darcy Ribeiro. O conjunto documental e etnográfico não reflete somente suas atividades nas áreas da arqueologia, museologia, antropologia, meio ambiente e etnobotânica, mas a volumosa produção intelectual por meio de livros, documentários, curadorias de exposições, congressos e conferências, atestando e comprovando seu trabalho científico.
Confira a tese “A civilização da palha: a arte do trançado dos índios do Brasil” na biblioteca virtual do MI: Parte1 Parte 2