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Museu do Índio prepara programação especial para comemorar centenário de Darcy Ribeiro
- Foto: Berta Ribeiro/ Arquivo Museu do Índio
Em 2022, comemora-se o centenário de nascimento de Darcy Ribeiro, um dos organizadores do Museu do Índio (MI) e seu primeiro diretor. Para marcar a data, o MI está organizando uma programação especial nas redes sociais. O destaque é o lançamento da exposição virtual “O olhar precioso de Darcy”, uma reedição da mostra física realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, em 2010.
A exposição irá ao ar no dia 10 novembro pela plataforma Google Arts and Culture e vai apresentar alguns novos conteúdos selecionados pela equipe do MI. Com curadoria de Milton Guran, a mostra reúne cerca de 50 fotografias dos povos indígenas Urubu-Ka’apor, Kadiwéu e Ofayé, feitas pelo próprio Darcy Ribeiro, entre as décadas de 1940 e 1950, no início de sua carreira como antropólogo, e algumas outras feitas por sua esposa, a antropóloga Berta Ribeiro, a exemplo da que ilustra essa matéria. Nela, o jovem Darcy aparece com a tradicional pintura facial Kadiwéu, abraçado a dois indígenas da etnia.
As fotos foram feitas como complemento a sua pesquisa etnográfica, mas como relata Milton Guran no catálogo da exposição, Darcy não se limitou ao registro fiel e objetivo daquilo que via, “buscou na fotografia a possibilidade do reconhecimento visual da sua vivência entre aqueles povos, impregnando suas imagens com a emoção dos primeiros contatos”. Os registros têm grande valor histórico, principalmente no caso dos Ofayé, que foram praticamente dizimados, havendo pouca documentação sobre esse povo, com o qual o antropólogo conviveu por apenas um mês.
No período em que esteve em campo, Darcy Ribeiro também coletou várias peças produzidas pelos Urubu-Ka’apor e Kadiwéu, as quais foram depositadas no MI e hoje compõem a Coleção Darcy Ribeiro. O material é diverso e inclui, entre outros, plumárias, cerâmicas, artefatos em palha e registros de grafismos. Para a comemoração do centenário, o MI fez o registro fotográfico de cerca de cem peças que ainda não haviam sido incluídas no repositório digital Tainacan, permitindo a consulta online da coleção. As fotos estão sendo inseridas na base paulatinamente.
Além dessa coleção etnográfica, o museu tem em seu acervo documentos textuais como relatórios, pareceres e cartas enviadas e recebidas pelo antropólogo durante o período em que atuou no Serviço de Proteção aos Índios (SPI); negativos de fotografias, registros sonoros e de cantos indígenas, e livros escritos por Darcy, como a obra rara “Religião e mitologia Kadiwéu”, de 1950. Alguns desses itens do acervo foram selecionados e serão exibidos em posts nas redes sociais ao longo dos meses de outubro e novembro.
O museu também vai promover, em parceria com o Arquivo Nacional, a exibição de filmes etnográficos, produzidos com a participação de Darcy Ribeiro, durante o festival "Arquivo em Cartaz 2022", que será realizado 3 a 13 de novembro. Os vídeos integram o acervo audiovisual do MI.
A cada ano, o "Arquivo em Cartaz - Festival Internacional de Cinema de Arquivo" presta tributo a personalidades do cenário cinematográfico brasileiro. Nesta oitava edição, que tem como tema "Filmes Etnográficos: olhares sobre o mundo", Darcy Ribeiro será a personalidade retratada na "Mostra Homenagem", uma dentre as dez que integram o festival. Serão exibidos filmes etnográficos produzidos com a participação de Darcy Ribeiro.
A partir de novembro, também será possível assistir alguns filmes sobre Darcy Ribeiro no canal do Museu no YouTube.
Sobre Darcy
Múltiplo, Darcy Ribeiro atuou como antropólogo, educador, romancista, ensaísta e político. Por onde passou deixou uma marca e muitas realizações. Inquieto, irreverente, criativo, ele ajudou a pensar o Brasil, nosso povo e nossa cultura. Entre aos muitos temas a que se dedicou dois o notabilizaram: a educação e a causa indígena.
Como funcionário do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), organizou e foi o primeiro diretor do Museu do Índio, e redigiu o projeto do Parque Indígena do Xingu, concebido pelos irmãos Villas-Bôas. Também foi o idealizador dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Ao lado de Anísio Teixeira ajudou a criar a Universidade de Brasília (UnB), tendo sido seu primeiro reitor.
Sua relação com os indígenas foi de paixão como ele mesmo definiu: “Eu trabalhei no SPI por anos. No princípio, eu era um etnólogo, um antropólogo como todos, interessado na natureza humana. Os índios eram um objeto de estudo. [...] Mas desde o princípio eu me apaixonei pelos índios. [...] eu tinha um interesse científico, mas aos pouco os índios foram me ganhando”.
Nascido em 26 de outubro de 1922, em Montes Claros (MG), Darcy morreu no dia 17 de fevereiro de 1997, em Brasília.