Notícias
Centenário de Darcy Ribeiro reaviva memória sobre sua paixão e luta pelos direitos indígenas
- Foto: Arquivo Museu do Índio
Darcy Ribeiro completaria 100 anos no dia 26 de outubro de 2022. Um dos organizadores do Museu do Índio (MI) e seu primeiro diretor, o antropólogo afirmava que a criação do museu, no ano de 1953, foi o trabalho mais importante que realizou durante o período em que atuou no Serviço de Proteção aos Índios (SPI). O órgão foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como o primeiro do mundo criado para combater o preconceito, difundir a cultura e promover o respeito aos povos indígenas.
Os acervos iniciais do MI foram coletados pelo próprio Darcy durante pesquisas de campo com indígenas de diferentes etnias como os Kadiwéu, Urubu Ka’apor, Ofayé, Bororo, Xokleng, Kaiowá, Terena e Guarani. As expedições foram realizadas, entre os anos 1940 e 1950, no início de sua carreira como antropólogo, à época em que atuava como etnólogo do Serviço de Estudos (SE) do SPI.
Os indígenas, que a princípio eram apenas objeto de estudo, tornaram-se matéria de interesse e paixão, nascida da convivência com esses povos, da observação de seus modos de vida, sua arte, e sua relação com o sagrado. Em entrevista ao informativo “Museu ao Vivo” do MI, em 1991, Darcy conta que queria fazer estudos de observação direta da conduta humana e foi fazê-lo com os índios.
“Entre eles fiquei quase 10 anos encantado pela sua dignidade inalcançável para nós. Foram os Kadiwéu, os Guarani, os Urubu-Ka’apor, os Bororo, que me mostraram a generosidade, a espontaneidade e o gosto pela beleza. Compreendi a impossibilidade de uma posição neutra, ‘científica’, diante do drama indígena. Desde então passei a ficar mais atento aos fatores que afetavam o destino dos povos indígenas, do que às curiosidades etnográficas”.
Expedições
Na primeira expedição, em 1947, Darcy, acompanhado da esposa Berta Ribeiro, estudou os Kadiwéu. A experiência deu origem a diversos trabalhos, entre eles o livro “Religião e Mitologia Kadiwéu”, publicado em 1950, e vencedor do Prêmio Fábio Prado de Ensaios. A forte empatia que se estabeleceu em campo, levou os indígenas a passarem a chamar o etnólogo de bet’rra-yegi, doutorzinho.
No ano seguinte, Darcy conviveu durante quatro semanas com duas famílias Ofayé, na região que hoje é o município de Bataiporã, no Mato Grosso do Sul, e resultou no artigo “Noticia dos Ofaié-Chavantes”, publicado pela Revista do Museu Paulista em 1951.
De 1949 a 1951, o antropólogo fez duas novas expedições, dessa vez a aldeias Urubu-Ka’apor, no Maranhão. A viagem foi realizada em companhia do cineasta Heinz Foerthmann e deu origem ao documentário “Um dia na vida de uma tribo da floresta tropical”, de 1949.
Além dos registros da observação desses povos em diários de campo, Darcy produziu relatórios, tirou fotos e coletou dezenas de artefatos representativos das culturas estudadas, como utensílios, adornos e armas. Todo esse material foi matéria-prima para obras diversas, entre livros, artigos e filmes, além de ter sido reunido numa coleção etnográfica autoral no MI.
Ao comentar sobre os objetos coletados por Darcy Ribeiro em sua dissertação de mestrado, a ex-coordenadora de Patrimônio Cultural do MI, Yone Pereira Couto, registrou que “livres do meio original”, as peças “transformam-se em símbolos contra o esquecimento ou a morte, relíquias que merecem ser preservadas, patrimônio a ser conservado”.
Homenagens
Com o objetivo de homenagear Darcy Ribeiro e ampliar o conhecimento sobre sua coleção autoral, o MI fotografou cerca de 100 itens, entre plumárias, cerâmicas, artefatos em palha e registros de grafismos coletados pelo antropólogo e os inseriu na base de dados Tainacan, permitindo a consulta online.
Nos acervos do MI há, ainda, diversos documentos, livros, fotografias, vídeos e áudios produzido pelo ou sobre o antropólogo que podem ser consultados nas bases de dados de referências documentais e na biblioteca virtual.
O público também poderá assistir filmes etnográficos produzidos com a participação de Darcy Ribeiro durante o festival Arquivo em Cartaz 2022, uma promoção do Arquivo Nacional em parceria do MI que ocorrerá de 3 a 13 de novembro de 2022.
Ao longo do mês de novembro, o MI publicará outros materiais relacionados à vida e obra de Darcy Ribeiro e continuará a apresentar nas redes sociais peças da Coleção que leva seu nome.
Parte das fotografias feitas por Darcy em suas pesquisas de campo com os Kadiwéu, Urubu-Ka’apor e Ofayé poderão ser conhecidas na exposição virtual O olhar precioso de Darcy, na plataforma Google Arts and Culture, a partir do dia 10 de novembro de 2022. Com curadoria de Milton Guran, a mostra é uma adaptação da exposição física realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, em 2010.