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Museu do Índio lança dicionários de línguas indígenas para celular
A partir desta sexta-feira (30), o Museu do Índio/Funai disponibiliza no Google Play as primeiras versões de dicionários de línguas indígenas da plataforma Jaapim, nas línguas Guató, Ye’kwana, Sanöma e Kawahiva. A iniciativa reforça o empenho e compromisso do Brasil na preparação para a Década Internacional das Línguas Indígenas (2020-2032), cuja participação envolve diretamente a Funai por meio do trabalho desenvolvido pelo Museu do Índio.
Os aplicativos, que estão em versão beta, são resultados de pesquisas sobre as populações indígenas no âmbito do projeto “Salvaguarda do Patrimônio Linguístico e Cultural de Povos Indígenas Transfronteiriços e de Recente Contato na Região Amazônica”, uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio, a Agência Brasileira de Cooperação, e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco.
Desenvolvidos por esforço conjunto de uma equipe de pesquisadores indígenas, não indígenas e por sábios dos povos, a criação dos dicionários demandaram organização de oficinas voltadas para a documentação das línguas, reunindo conhecimento tradicional e científico, na descrição de cada palavra, da fonética, na contextualização de seus usos e na gravação dos áudios.
O pesquisador Helder Perri, principal responsável pela estrutura da Plataforma Japiim, destaca a importância do trabalho como devolução aos povos indígenas do resultado das pesquisas: “Acredito que o dicionário digital possa aumentar o acesso dos povos indígenas ao material que se pesquisa e documenta sobre sua própria língua (e de outras línguas indígenas, por que não?)”.
O resultado é significativo para os povos indígenas, para a comunidade acadêmica e para a sociedade em geral. Viviane Cajusuanaima, mestranda em Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, ressalta o apoio da iniciativa para o processo de valorização linguística: “Acho muito importante para a nossa língua ser aceita, para ensinar as novas gerações do meu povo o próprio Ye’Kwana. A gente também tem curiosidade de falar outras línguas e o dicionário pode ajudar com o português”.
A indígena, que aprendeu o português aos 20 anos de idade, acredita que o dicionário pode, ainda, ajudar na comunicação para acesso a serviços básicos. “Eu acho importante também as pessoas de fora [da comunidade indígena] acessarem, como quem trabalha na saúde. A maioria dos Ye’Kwana fala só a nossa língua e precisa de ajuda para serem atendidos pelos profissionais de saúde”.
Em breve, os dicionários poderão ser editados por membros da comunidade acadêmica e indígena, permitindo a participação coletiva e constante. Para Helder Perri, o formato digital favorece a possibilidade do trabalho colaborativo. “Os dicionários completos de uma língua levam tempo para serem elaborados, e as dinâmicas de trabalho de campo nem sempre permitem a inclusão de muitas comunidades. Os dicionários digitais e suas futuras ferramentas de edição permitem que esse trabalho de elaboração seja colaborativo”, explica o pesquisador
Em maio, serão lançados os aplicativos na língua Taurepang, Galibi-Marworno, Karipuna e Korubo. O projeto completo prevê a disponibilização de 15 aplicativos diferentes para celulares, uma plataforma web para hospedagem dos dicionários e 15 teclados, com os caracteres das línguas indígenas, que poderão ser usados para facilitar a comunicação via celular, além de gramáticas para cada língua pesquisada.