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Museu do Índio e povos indígenas juntos na proteção das culturas e línguas indígenas
Crianças korubo acompanham atividades de documentação na Terra Indígena Vale do Javari (AM) | Foto: Paulo Mumia | Prodoclin – 25/02/2018
Inaugurado em 19 de abril de 1953, o Museu do Índio, órgão científico-cultural vinculado à Fundação Nacional do Índio -Funai, abriga um conjunto de bens culturais referentes a diversos grupos indígenas brasileiros, composto de peças etnográficas, publicações, documentação textual e iconográfica de valor histórico e de variada produção audiovisual
Além de abrigar esses acervos, o Museu do Índio conserva, pesquisa, documenta e comunica as informações neles preservadas, tendo se tornado referência para pesquisadores e interessados na questão indígena no Brasil contemporâneo e contribuído com significativos avanços para o campo de museus etnográficos brasileiros.
Dentre as diversas atividades promovidas pela instituição e que se relacionam com a documentação do patrimônio cultural e linguístico indígena, o Museu do Índio coordena o projeto Salvaguarda do Patrimônio Lingüístico e Cultural de Povos Indígenas Transfronteiriços e de Recente Contato na Região Amazônica, fruto de Cooperação Técnica Internacional entre a Fundação Nacional do Índio, a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores – ABC/MRE e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura -Unesco.
O linguista Sanderson Oliveira, consultor do Prodoclin, conversa com pesquisadores Korubo durante atividades de documentação na Terra Indígena Vale do Javari (AM) | Foto: Paulo Mumia | Prodoclin – 25/02/2018
Iniciado em 2015, o projeto tem contado com a participação direta dos indígenas, incentivando os representantes de diferentes etnias a documentar aspectos específicos de suas culturas e línguas, por meio da promoção de oficinas de trabalho e concessão de bolsas de pesquisa para jovens em várias aldeias. As ações são focadas nas terras indígenas (TI) situadas em regiões transfronteiriças da região amazônica, atuando notadamente nas TIs Alto Rio Negro, Yanomami, Raposa Serra do Sol, Vale do Javari e Parque do Tumucumaque, que juntas abrigam mais de 60 grupos étnicos diferentes.
O projeto se subdivide em três campos, a saber, (1) registro de línguas ameaçadas -Prodoclin, (2) documentação de culturas materiais -Prodocult e (3) preservação de acervos indígenas, com enfoque na documentação e preservação cultural de povos indígenas transfronteiriços da Região Amazônica. Em todos estes eixos, houve a contratação de mais de 70 consultores especializados e pesquisadores (indígenas e não-indígenas), com vistas à realização de subprojetos de documentação e de outros trabalhos técnico-científicos voltados à salvaguarda do patrimônio linguístico e cultural indígena.
Pesquisadores Hupdah utilizam aparelho GPS ao percorrerem seu território durante atividade do Prodocult na Terra Indígena Alto Rio Negro (AM) | Foto: Nian Pissolati | Prodocult – 19/11/2017
Até o momento, o projeto atuou com 17 povos ou línguas indígenas na Amazônia e regiões de fronteira. Dentre esses povos, alguns têm participado tanto no eixo de registro linguístico quanto de documentação cultural, como os Korubo e Ye’kwana, de recente contato, e os Baniwa, que contam com dois indígenas na função de coordenadores dos subprojetos de documentação de sua língua e cultura.
Esse envolvimento reflete o grande interesse das comunidades indígenas na preservação linguístico-cultural, na concepção de exposições e na realização de oficinas, encontros e viagens, como as que foram realizadas no âmbito dos cerca de 30 ciclos de pesquisa realizados até hoje, bem como na formação de cerca de 30 pesquisadores indígenas em técnicas de documentação linguística e cultural. O material resultante desses contribuiu para ações de divulgação e para o incremento e qualificação dos acervos da instituição, com um volume de aproximadamente 500 novos itens etnográficos e mais de 30.000 imagens e arquivos audiovisuais já processados e catalogados.
Registro capturado durante atividade de documentação realizada no âmbito do Prodocult em comunidade do povo Ye’kuana, na Terra Indígena Yanomami (RR) | Foto: Eduardo Ferreira | Prodocult – 27/10/2017
Dentre os resultados parcialmente obtidos e os produtos em vias de elaboração e consolidação, destacam-se o registro sistematizado do corpus linguístico de línguas indígenas em estado de vulnerabilidade, a produção de dicionários multimídia e de outros materiais técnicos voltados à revitalização linguístico-cultural em contextos escolares das comunidades, e a incorporação de novas coleções etnográficas e amplo material audiovisual sobre os povos envolvidos no Projeto aos acervos do Museu do Índio.
Dessa forma, o Museu do Índio junto à Unesco tem contribuído com a formação de pesquisadores indígenas e com a salvaguarda do patrimônio linguístico e cultural dessas populações no Brasil, especialmente daqueles povos em situação de vulnerabilidade sociocultural em regiões de fronteira.
No ano 2022, com o início da Década Internacional das Línguas Indígenas (IDIL 2022-2032), proposta pela Unesco para sensibilizar a sociedade global quanto à necessidade de preservação e revitalização desse patrimônio linguístico ameaçado, o Projeto adquire enorme relevância também no cenário internacional.
Comunidade do povo Ye’kuana mobilizada em atividade promovida pela antropóloga Majoi Gongora, consultora do Prodocult, na Terra Indígena Yanomami. | Foto: Jairo David Rodrigues | Prodocult – 18/10/2018
* Texto publicado originalmente em Semana do Patrimônio Fluminense .