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MULHERES NO G20
Mulheres e Transição Energética: evento paralelo do G20 debate assunto com ministros e autoridades
Fotos Audiovisual: G20
Desde que o Brasil assumiu a presidência do Grupo dos 20, um dos temas de destaque selecionados para a atuação brasileira é a mudança na governança global e isso inclui a inserção de mulheres em postos de decisão sobre os mais diversos temas. É nesse sentido que foi realizado nesta quarta-feira (2), em Foz do Iguaçu (PR), o evento paralelo "Mulheres na Transição Energética" com a participação da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves; do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; e de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias.
"Precisamos garantir, de um lado, o acesso. Há muitas mulheres no mundo que ainda não tem acesso à energia. Por outro lado, precisamos avançar e garantir os espaços de decisão para mulheres no debate sobre transição energética", afirmou a ministra Cida Gonçalves. Os dados confirmam. Segundo a Agência Internacional da Energia (2019), mulheres representam apenas 22% da força de trabalho no setor energético. Além disso, o Relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (2020) aponta que 80% dos novos empregos na economia de baixo carbono serão em setores dominados por homens.
"Estamos em 2024 e ainda falamos sobre a criação de políticas públicas e de ações que garantam o espaço das mulheres na sociedade moderna. Infelizmente, significa que ainda vivemos em uma sociedade injusta e desequilibrada", pontuou o ministro Alexandre Silveira. O MME, à frente da coordenação do GT de Transições Energéticas, está agora negociando princípios de alto nível para uma transição energética justa e inclusiva em que um dos princípios diz respeito à inclusão de mulheres em carreiras de STEM (sigla, em inglês, usada para designar as disciplinas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e em espaços de debate e decisão sobre energia.
"Faço um apelo a todos os líderes políticos que representam os países do G20, precisamos promover mudanças estruturais amplas e eficazes. A participação das mulheres é uma condição essencial para o sucesso de uma transição energética justa", resumiu Silveira.
Também participaram do encontro o embaixador André Corrêa do Lago, Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério de Relações Exteriores; Ênio Verri, Diretor-Geral da Itaipu; Magda Chambriard, Presidenta da Petrobras e Damilola Ogunbivi, CEO e Representante do Secretariado-Geral das Nações Unidas para Energia Sustentável e Co-Presidenta da ONU-Energia.
Pobreza energética e trabalho de cuidado
O cenário de disparidades de gênero no setor foi ressaltado por todas as mulheres que compuseram o Painel "Inclusão das Mulheres no Processo Decisório da Transição Energética", mediado pela secretária-executiva do Ministério das Mulheres e coordenadora do Grupo de Trabalho de Empoderamento de Mulheres, Maria Helena Guarezi.
Representantes de delegações do Brasil, Canadá e Chile debateram sobre como parece um contrassenso a ausência de mulheres no setor tendo em vista que elas são, frequentemente, expostas à situação de pobreza energética, muitas vezes em razão dos níveis mais baixos de rendimentos econômicos. O exemplo do cenário brasileiro está nos dados do 2° Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, divulgado no mês de setembro de 2024, que demonstram que mulheres ganham 20,7% a menos que homens em empresas com 100 ou mais funcionários.
"Os custos com serviço de energia elétrica e gás comprometem um percentual importante da renda familiar. Além disso, muitas mulheres vivem sem acesso à energia e gás, afetando o tempo que gastam com os trabalhos de cuidado", lembrou Guarezi. Hoje, no mundo, por volta de 2,5 bilhões de pessoas cozinham com lenha, carvão vegetal ou querosene, em sua maioria mulheres.
O desenvolvimento de políticas públicas que possam dirimir a pobreza energética está de acordo com dois Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030: o ODS 5, que trata da igualdade de gênero; e ODS 7, sobre a energia acessível.
Confira como foi o evento:
Cozinhas Solidárias
A ministra Cida Gonçalves também participou nesta quarta-feira (2) do lançamento da Cozinha Solidária Sustentável, uma iniciativa do Ministério de Minas e Energia, Ministério de Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome, com apoio da Secretaria-Geral da Presidência (SG/PR), e fruto dos diálogos realizados no Grupo de Trabalho de Transições Energéticas do G20.
Na prática, as cozinhas solidárias, que durante a pandemia foram fundamentais para o enfrentamento à fome e à pobreza, enfrentam desafios de sustentabilidade em razão dos altos custos de manutenção, principalmente por conta da energia elétrica e do consumo de gás de cozinha. Assim, uma vez que os biodigestores são uma tecnologia social capaz de produzir gás de cozinha a partir do aproveitamento dos resíduos da própria cozinha, o Projeto, por intermédio da Itaipu Binacional, irá viabilizar biodigestores, painéis solares, hortas, equipamentos eletrônicos e formação técnica ambiental e de perspectiva de gênero.
Já a Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), em parceria com o Centro Tecnológico de Sustentabilidade de Resíduos (CTSR) da Universidade Federal de Ouro Preto, está desenvolvendo a tecnologia de biodigestores específica para as cozinhas.
A proposta inicial da iniciativa é fazer um teste com sete cozinhas, em diferentes regiões do país, e verificar o andamento do uso dos biodigestores, analisando como este apoio pode impactar positivamente as discussões de gênero, tais como cuidado, violência e reprodução desigual do trabalho. Caso a iniciativa renda bons frutos, o objetivo é ampliá-la para, pelo menos, 100 cozinhas solidárias até o final de 2025.