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GRUPO DE TRABALHO
Ministério das Mulheres coordenará GT de Gênero no Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores
Dando continuidade à agenda permanente de enfrentamento à violência de gênero e à misoginia, o Ministério das Mulheres assume, nesta sexta-feira (7), Dia do Jornalista, a coordenação do Grupo de Trabalho (GT) de Gênero do Observatório da Violência Contra Jornalistas e Comunicadores Sociais.
A criação do Observatório é uma iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), idealizada pelo ministro Flávio Dino e publicada no Diário Oficial no dia 17 de fevereiro. Sob a Coordenação-Geral do Secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, o Observatório é composto por pesquisadores, juristas e representantes de entidades de defesa da liberdade de imprensa e de expressão. O próximo encontro do grupo está marcado para 12 de abril no salão negro do MJSP.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, aproveitou a ocasião para convocar a imprensa brasileira e, em especial, as mulheres jornalistas para auxiliarem na conscientização sobre a misoginia, que é a raiz de todas as expressões de violência contra as mulheres. “As jornalistas têm sofrido perseguição e ódio, principalmente nas redes sociais, e isso é outro reflexo da misoginia”, ponderou.
“O Ministério das Mulheres integrará o Observatório da Violência Contra Jornalistas e Comunicadores Sociais para ser porta-voz na luta e na proteção das mulheres que escolheram essa profissão”. Cida Gonçalves, ministra das Mulheres
Para Cida, o descrédito sistemático ocorre por conta do lugar social que as mulheres jornalistas ocupam. “Por isso, o Ministério das Mulheres integrará o Observatório da Violência Contra Jornalistas e Comunicadores Sociais para ser porta-voz na luta e na proteção das mulheres que escolheram essa profissão”, disse.
O GT de Gênero será co-coordenado pela pesquisadora de gênero e violência on-line contra jornalistas da Universidade de Brasília (PPGCOM/UnB), jornalista e Assessora Especial de Comunicação do Ministério das Mulheres, Dandara Lima; e pela doutora e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (ECA/USP), pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (CEPID/FAPESP/USP) e integrante do grupo de pesquisa COM+ (ECA-USP), Daniela Osvald Ramos.
Contexto
Em 2021, pela primeira vez em 20 anos, o Brasil entrou na “zona vermelha” do Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa realizado anualmente pela organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF). Este foi o quarto ano consecutivo de queda. Outras pesquisas e relatórios (FENAJ, ABERT, ABRAJI e UNESCO) apontam o crescimento da violência contra mulheres jornalistas.
- 68% dos ataques ocorreram no ambiente online e 3,4% ocorreram fora do ambiente digital, mas reverberaram dentro dele (ABRAJI e UNESCO, 2022, p. 34-35).
- A maioria das agressões foram desencadeadas por uma cobertura jornalística específica ligada a pautas políticas (ABRAJI e UNESCO, 2022, p. 36).
- Mulheres jornalistas recebem mais que o dobro de ofensas que os colegas homens no Twitter (AzMina, 2021)
- As características dos ataques também são diferentes. Os termos mais usados contra elas são “ridícula”, “canalha”, “louca”, “mulherzinha”, “descontrolada”, “jumenta” e “puta” (AzMina, 2021).
- 53% das mulheres e pessoas LGBT+ entrevistadas revelaram que a violência sofrida no ambiente on-line impactou sua rotina laboral com consequências para a vida pessoal (Gênero e Número e RSF, 2022).
- 31% diminuíram ou mudaram a forma como utilizam as redes sociais e 25% precisaram fechar as contas em redes sociais após os ataques (Gênero e Número e RSF, 2022).
“Nota-se, portanto, que não apenas os ataques são marcados pelo gênero como as consequências também. Estes episódios funcionam como uma censura informal cujas vítimas preferenciais são mulheres em razão de seu gênero”, afirmou a Assessora Especial do Ministério das Mulheres e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), que representará a pasta no Observatório, Dandara Lima.
De acordo com o Relatório Violência de Gênero Contra Jornalistas: Dados sobre os ataques com viés de gênero e casos que vitimaram mulheres no Brasil em 2021, o cenário de crescimento de casos de violência contra estas profissionais resultou em insegurança e constrangimento para mulheres jornalistas, o que demanda novas medidas para combater a violência de gênero e proteger o livre exercício da profissão (ABRAJI e UNESCO, 2022, p. 36-38). Por esta razão, o GT de Gênero ficará responsável por:
I - Organizar uma rede de advogadas e advogados para auxiliar mulheres jornalistas - em especial aquelas que não atuam sob a proteção de uma empresa de mídia, como profissionais independentes, de jornais comunitários e radialistas;
II - Irá sistematizar um canal para receber denúncias de mulheres jornalistas e comunicadoras com foco, especialmente, naquelas que não atuam sob a proteção de uma empresa de mídia;
III - E, a partir das denúncias, organizar um encontro para escuta e coleta de relatos de violência em que serão convidadas tanto jornalistas de visibilidade que foram alvo de linchamentos on-line e ameaças, como também comunicadoras que não atuam sob a proteção de uma empresa de mídia.
IV - Com estes relatos e demais dados já coletados, o Ministério das Mulheres, aproveitando-se da sua expertise sobre violência contra a mulher, em conjunto com as representantes das entidades que já compõem o Observatório e pesquisadoras de universidades públicas que têm pesquisas em desenvolvimento sobre o tema, desenvolverá um documento de diagnóstico e um plano de ação, com sugestão de políticas públicas envolvendo diferentes pastas, para enfrentamento à violência contra mulheres jornalistas e comunicadoras.
Além das coordenadoras Dandara Lima e Daniela Osvald Ramos, o conselho para elaboração do diagnóstico e plano de ação será composto por Bárbara Libório (AzMina); Bia Barbosa (RSF); Samira de Castro (FENAJ); Ramênia Vieira (Intervozes); Renata Cafardo (Jeduca); Patrícia Blanco (Palavra Aberta); Taís Gasparino (TornaVoz); Mara Fortes (AJOR); Katia Brembatti (ABRAJI); Mara Tarjan (Artigo19) e Beth Saad (ECA/USP).