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Discurso da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, durante a cerimônia de posse
Foto: Pedro França/Ascom MTur
Em primeiro lugar, agradeço ao presidente Lula pelo convite para que assumisse a pasta do Ministério das Mulheres.
Agradeço às mulheres que vieram e lutaram antes de mim e que me formaram.
Agradeço aos movimentos feministas e movimentos de mulheres, que se levantaram por décadas e se levantam ainda hoje pelos direitos das mulheres
Agradeço às mulheres, que são 52% neste país, e que que foram as grandes responsáveis pela eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por encerrar um governo machista, patriarcal, misógino, racista e homofóbico.
Agradeço à presidenta Dilma Rousseff, por sua coragem e ousadia de enfrentar este mesmo ódio machista. Sua resiliência mostrou a força da mulher brasileira.
Me sinto honrada de ter trabalhado com a primeira mulher eleita presidenta da República neste país.
Agradeço ao Grupo Técnico de Mulheres da transição de governo, cujo trabalho foi primordial para entendermos o tamanho do retrocesso dos últimos anos. Foi este grupo que nos deu o ponto de partida, de diagnóstico e de resgates históricos.
Agradeço às ministras que me antecederam, estabelecendo uma base forte na elaboração das políticas públicas para as mulheres: Emilia Fernandes, Nilceia Freire, Iriny Lopes e Eleonora Menicucci
Agradeço às ministras e os ministros de Estado do atual governo aqui presentes
Ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial;
Ministra Marina Silva, do Meio Ambiente
Ministra Margareth Menezes, da Cultura
Ministra Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas
Ministra Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia
Ministra Nísia Trindade, da Saúde
Ministra Simone Tebet, do Planejamento
Ministra Esther Dweck, da Gestão
À presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, coordenadora da articulação política do governo de transição.
À governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, uma das duas únicas mulheres, ao lado de Pernambuco, a governar um Estado hoje no Brasil.
Agradeço às parlamentares eleitas e reeleitas que aqui estão e serão fundamentais para os avanços que virão.
Apesar de a Câmara, nesta legislatura, ter a maior presença feminina da história - serão 91 deputadas federais - elas ainda representam menos de 20% da Casa.
É uma honra partilhar a mesa com tantas ministras de Estado do governo que mais nomeou mulheres para seus Ministérios.
Somos 11 mulheres no ministério.
E ainda: duas mulheres no comando dos dois bancos estatais nacionais do País: a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.
Antes de mais nada é importante pontuar: este será o Ministério de todas as mulheres. As que votaram e os que não votaram conosco.
E das diversas mulheres que compõem a nossa sociedade. Negras, brancas, indígenas, LGBTQIA+, as do campo, da cidade e das águas
Será um Ministério de todas, e com um norte muito definido.
Faremos a defesa radical da garantia dos direitos das mulheres
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Há dois dias, o Brasil assiste o início de um novo governo.
Este não é um governo qualquer.
Como sempre diz o presidente Lula, em um de seus bordões, “nunca antes na história deste país”....
Pois é isso. Nunca antes na história desse país a posse de um presidente foi tão pautada pela questão de gênero.
Nunca a pauta das mulheres foi considerada tão prioritária.
O presidente Lula mencionou de maneira aguda, contundente, a questão da mulher na sociedade brasileira em seus três discursos no domingo da posse.
No Congresso Nacional, depois no Palácio do Planalto e por último no Festival do Futuro.
O presidente recebeu a faixa das mãos do povo brasileiro e não me parece ser algo menor o fato de a última pessoa a ter recebido a faixa e colocado no presidente ter sido uma mulher negra, Aline Sousa, uma catadora de 33 anos.
Foi Aline, mulher de luta da terceira geração de catadoras de sua família, quem colocou a faixa em Lula, depois de ela ter passado por outros 7 representantes da sociedade brasileira.
Aline, você nos representou, a todas as mulheres brasileiras.
Em seus três discursos, o presidente Lula citou alguns dos principais eixos deste Ministério. Disse que “não podemos continuar a conviver com a odiosa opressão imposta às mulheres, submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de suas próprias casas”.
Lula afirmou também que é “inadmissível que as mulheres continuem a receber salários inferiores ao dos homens”, mesmo quando exercem a mesma função.
E é para isso, entre diversos outros temas cruciais, que existe o Ministério das Mulheres.
Um registro importante:
Pela primeira vez, teremos uma área no governo dedicada às mulheres com a nomenclatura de Ministério.
Há 20 anos, no primeiro governo Lula, a pasta foi criada como Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM).
No governo anterior, passou a ser chamada de Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Foi uma usurpação, pois não cuidou das mulheres, das famílias e nem dos direitos humanos. Muito pelo contrário.
A destruição dos direitos das mulheres no último governo não foi um acaso, mas um projeto. Um projeto político de invisibilização e sujeição da mulher
Tal projeto, iniciado no terreno do simbólico, desmontou as políticas públicas, praticamente extinguiu orçamentos, atuou na desestruturação institucional, liquidou com direitos e, por fim, retirou até a vida de milhares de brasileiras.
Neste projeto de destruição, a mulher, como sujeito de direitos, só foi vista e pensada dentro de uma construção determinada de família, patriarcal, como se houvesse apenas um tipo de mulher e um tipo de família a ser atendida pelas políticas públicas.
A Família, no singular, apaga a diversidade brasileira e a centralidade da mulher enquanto foco da elaboração e implementação das políticas.
Há famílias, plurais e no plural. Este é um Ministério que as reconhece e acolhe.
O governo anterior, como disse, praticamente extinguiu orçamentos.
O Projeto de Lei Orçamentária enviado ao Congresso em 31 de agosto de 2022 previu míseros R$ 23 milhões para o ministério, o que representa apenas 10% dos valores do orçamento de 2015, quando o governo Dilma foi golpeado. Isso mesmo, 10%.
Para 2023, conseguimos reverter parcialmente essa perda para dar continuidade aos programas prioritários da pasta. Não é suficiente, mas com o conhecimento de que, sem verba não é possível realizar políticas públicas, estaremos sempre trabalhando pelo aumento do orçamento público para as mulheres.
Quanto aos programas que vinham sendo executados pelos governos do PT, a criação de Casas da Mulher Brasileira foi paralisada e o Disque 180 foi desmantelado, entre outras ações destruidoras.
O desmonte das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher e a promoção governamental de uma cultura misógina levou os números da violência de gênero a patamares sem precedentes.
No primeiro semestre de 2022, o Brasil bateu recorde de feminicídios, registrando cerca de 700 casos. Em 2021, mais de 66 mil mulheres foram vítimas de estupro e mais de 230 mil brasileiras sofreram agressões físicas, por violência doméstica, de acordo com dados do mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Embora todas as mulheres estejam expostas a essas violências, fica evidente a camada racista: as mulheres negras são 67% das vítimas de feminicídios e 89% das vítimas de violência sexual.
É importante observar que, enquanto isso, o número de homicídios caiu: o Brasil registrou 47.503 casos de mortes violentas intencionais ao longo de 2021, redução de 6,5% na comparação com 2020 e o menor índice desde 2011, quando se inicia a série histórica.
A combinação de um governo misógino, machista e racista com a gestão irresponsável durante a pandemia de Covid-19 comprovou: estava em curso um projeto político devastador para as mulheres.
Para as trabalhadoras domésticas, a pandemia representou o aumento do risco à própria saúde, a queda na renda e a perda de direitos. Elas foram as primeiras infectadas e impactadas pela Covid-19: o primeiro caso de óbito registrado pela doença no País foi de uma trabalhadora doméstica no Rio de Janeiro. Ela, uma mulher negra, foi contaminada pelos patrões no local de trabalho.
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É com este cenário que daremos os primeiros passos agora, mas não sem experiência e trajetória. Retomaremos o que já sabemos fazer.
O Ministério das Mulheres do terceiro governo Lula construirá as futuras políticas públicas a partir da seguinte estrutura, pautada por eixos temáticos:
A Secretaria Executiva será comandada pela professora e líder sindical Maria Helena Guarezi, cuja dedicação à pauta das mulheres será primordial para a realização dos objetivos do Ministério.
A Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência terá como prioridade número um reconstruir o programa Mulher Viver Sem Violência, retomando a Casa da Mulher Brasileira a fim de acolher, com diferentes atendimentos, as vítimas de agressão e violência sexual
A Secretaria Nacional de Autonomia e Cuidados vai atuar na inserção das mulheres no mercado de trabalho, sobretudo diminuindo a sobrecarga das tarefas domésticas e de cuidados, e criando mecanismos no mundo do trabalho para avançar na igualdade salarial e no combate ao assédio moral.
Vale lembrar que, para além do aumento do desemprego generalizado, a taxa de desalento entre as mulheres é mais que o dobro do que entre os homens. A sobrecarga doméstica, as tarefas de cuidado e a falta de oferta de serviços públicos como creche prejudicam o retorno da mulher ao mercado de trabalho.
À Secretaria de Articulação Institucional e Participação Política, caberá reconstruir as articulações internas e externas, no âmbito dos organismos de políticas para as mulheres, no sentido de abrir espaço e ampliar a capacidade de capilaridade e transversalidade em todo novo governo.
As mulheres são a maioria da população brasileira e do eleitorado, no entanto, ainda estão sub-representadas nos espaços de poder. Como mencionei anteriormente, a Câmara, apesar do maior número de deputadas eleitas neste pleito, tem somente 17,7% de mulheres. No Senado, as mulheres também são cerca de 17%.
A violência política de gênero interdita o avanço das mulheres na ocupação desses espaços e a desigualdade não se limita aos cargos eletivos. Entre os servidores públicos ativos, as mulheres são cerca de 40%, mas, nos cargos de direção e chefia (DAS 5 e 6), não chegam a 26%.
Estamos diante da possibilidade de um governo atravessado pelo diálogo, pela construção comum, pela transversalidade.
A agenda da mulher é o centro de nosso Ministério, mas só será possível com a transversalidade por meio de ações dos diversos Ministérios: o da Saúde, o dos Povos Indígenas, o da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos, do Meio Ambiente, da Fazenda, da Infraestrutura, da Gestão, da Ciência e Tecnologia, do Planejamento, para citar algumas das pastas aqui representadas.
O 8 de março de 2023, Dia Internacional das Mulheres, deverá ser um marco para efetivar essa transversalidade.
Portanto já conclamo todos os ministros e ministras aqui presentes a elaborarmos ações concretas.
Para encerrar, gostaria de enfatizar a intenção deste Ministério de trabalhar arduamente na reconstrução de um país com a cara e o jeito das mulheres, de trabalhar pela união e fazer com que a democracia seja plena para homens e mulheres.
Podemos e, mais que isso, devemos trabalhar juntas e juntos. Há um novo mundo possível. E ele tem um rosto, uma assertividade, uma garra feminina.
Obrigada.